Transporte coletivo x individual
A ideologia dominante no transporte de pessoas é determinada pela ideologia das classes dominantes. Ou seja… a predominância do individualismo sobre o coletivismo. Ou ainda, a do veículo individual em detrimento do coletivo.
Publicado 29/05/2007 14:44 | Editado 04/03/2020 16:43
Iran Caetano*
Recentemente a imprensa do capital divulgou uma pesquisa dando conta que o número de veículos na grande Vitoria era proporcionalmente igual ao de São Paulo. A pesquisa revela dados inquietantes que nos levam a raciocinar sobre uma série de fatores envolvidos no simples ato de dirigir um carro de nossa casa até o trabalho, por exemplo: Quanto de energia é gasta?… quanto de poluição causamos?… e até mesmo os riscos envolvidos. Depois de ler a reportagem fiquei com vontade de voltar a circular de ônibus. Mas, ao calcular os tempos necessários para ir de um lugar a outro deixei de lado essa idéia e continuei com meu velho carrinho prá lá e prá cá. Os transportes coletivos são demasiadamente demorados e lentos. Além do mais vivem superlotados. Ou seja, a qualidade do transporte coletivo é péssima.
A ideologia dominante no transporte de pessoas é determinada pela ideologia das classes dominantes. Ou seja… a predominância do individualismo sobre o coletivismo. Ou ainda, a do veículo individual em detrimento do coletivo.
Pois é. A maioria dos carros de passeio é constituída por veículos para cinco pessoas ou mais e no entanto quase sempre viajam neles apenas os seus motoristas e menos frequentemente um ou dois passageiros. Pensando nisso fui até à terceira ponte – Vitória/Vila Velha certa noite dessas, pelas 19 h e fiquei observando quantos carros estavam com mais de um passageiro em seu interior e quantos conduziam apenas seu motorista. Nem precisa dizer que quase todos estavam com apenas uma pessoa. De vez em quando um ônibus superlotado e poucas vezes alguns com mais de um passageiro.
Ora, se o automóvel foi planejado para transportar, digamos cinco pessoas e transporta apenas uma, obviamente está desperdiçando energia suficiente para mais quatro pessoas. Essa energia se dissipa em calor e poluição ambiental. E também em carência do ouro negro. A tudo isso acrescente-se o transporte de cargas por caminhões. Pelo mundo todo perde-se exageradamente petróleo quando seria possível utilizar outros meios muito mais econômicos e produtíveis, como navios e trens.
Acertam Hugo Chaves e Fidel Castro em criticar a transformação de grandes extensões de terra em lugares produtores de bionergia. Ao persistir essa prática nem o planeta inteiro poderá suprir a crescente demanda de óleo para veículos individuais e caminhões de carga. Como acentuou Chaves: – teremos que plantar oleaginosas até nos telhados de nossas casas! E acrescento : – para serem queimadas no dia seguinte. Tudo isso ao custo da brutal exploração dos trabalhadores agrícolas e da fome em geral.
Pensar-se em grandes soluções coletivas para o transporte urbano e produzirmos alimentos nas terras que estariam sendo devoradas pela implantação das grandes usinas dos tais biocombustíveis.
De passagem… – que fim levou o metrô de superfície de Vitória?
Sabemos que no ES estão em acelerado processo de construção duas novas usinas de álcool e em sua volta já estão sendo plantados acres e acres de cana. Essas áreas não produzirão ali nem um grama de alimento.
O Brasil já teve uma grande malha ferroviária, que foi desmontada pela ditadura militar. Talvez a reconstrução desse sistema, aliada a um melhor aproveitamento das nossas vias marítimas e fluviais seria uma solução muito mais interessante que a que se divulga como a grande solução . Sem falar no aproveitamento de outras fontes como o sol, o vento e as marés. Este é um tema que deve ser refletido e discutido, pois nossos destinos estão sendo jogados nessa empreitada que tentam impingir como solução milagrosa, mas que somente irá agravar o quadro já complicado do ambiente e da energia.
Bom. Até a próxima semana.
*Iran Caetano é médico e Secretário Político de Vila Velha ES.