Transporte coletivo x individual

A ideologia dominante no transporte de pessoas é determinada pela ideologia das classes dominantes. Ou seja… a predominância  do individualismo sobre o coletivismo. Ou ainda, a do veículo individual em detrimento do coletivo.

Iran Caetano*


 


Recentemente a imprensa do capital divulgou uma pesquisa dando conta que o número de veículos na grande Vitoria  era proporcionalmente igual ao de  São Paulo. A pesquisa revela dados inquietantes que nos levam a raciocinar sobre uma série de fatores envolvidos no simples ato de dirigir um carro de nossa casa até o trabalho, por exemplo: Quanto de energia é gasta?…  quanto de poluição causamos?…  e até mesmo os riscos envolvidos. Depois de ler a reportagem fiquei com vontade de voltar a circular de ônibus. Mas, ao calcular os tempos  necessários para  ir de um lugar a outro deixei de lado essa idéia e continuei com meu velho carrinho prá lá e prá cá. Os transportes coletivos são demasiadamente demorados e lentos. Além do mais vivem superlotados. Ou seja, a qualidade do transporte  coletivo é péssima.


 


A ideologia dominante no transporte de pessoas é determinada pela ideologia das classes dominantes. Ou seja… a predominância  do individualismo sobre o coletivismo. Ou ainda, a do veículo individual em detrimento do coletivo.


 


Pois é.  A maioria dos carros de passeio é constituída  por veículos  para cinco pessoas ou mais e no entanto quase  sempre  viajam neles   apenas os seus motoristas e menos frequentemente um ou dois  passageiros. Pensando nisso fui até  à terceira ponte –  Vitória/Vila Velha certa noite dessas,  pelas 19 h  e fiquei observando quantos carros estavam com mais de um passageiro em seu interior e quantos  conduziam apenas seu motorista.  Nem precisa dizer que quase todos  estavam  com  apenas uma  pessoa. De vez em quando  um  ônibus superlotado e  poucas  vezes alguns com mais de  um passageiro.


 


Ora, se o automóvel  foi planejado para transportar, digamos cinco  pessoas e transporta apenas  uma,  obviamente  está  desperdiçando  energia  suficiente  para  mais  quatro pessoas. Essa energia se  dissipa em calor e poluição ambiental.  E também em carência do ouro negro. A tudo isso acrescente-se  o transporte  de  cargas por caminhões.  Pelo mundo  todo perde-se  exageradamente  petróleo quando  seria possível  utilizar outros meios muito mais econômicos e produtíveis, como  navios  e trens.


 


Acertam Hugo Chaves e  Fidel Castro em criticar a transformação de grandes  extensões  de  terra  em lugares produtores de bionergia. Ao persistir essa prática nem o planeta  inteiro  poderá suprir a  crescente  demanda  de  óleo para  veículos individuais  e  caminhões  de  carga. Como acentuou Chaves: – teremos  que plantar  oleaginosas  até  nos  telhados  de  nossas  casas!  E  acrescento : – para  serem queimadas  no  dia  seguinte.   Tudo isso ao custo da brutal  exploração  dos trabalhadores agrícolas e da fome  em  geral.


 


Pensar-se  em  grandes  soluções  coletivas  para  o  transporte  urbano e  produzirmos alimentos  nas  terras  que  estariam sendo  devoradas pela  implantação das  grandes  usinas  dos  tais  biocombustíveis.


 


De passagem… –  que fim levou o metrô de  superfície  de Vitória?


 


Sabemos  que no ES  estão em acelerado processo  de construção  duas  novas  usinas  de  álcool e em  sua  volta já  estão  sendo  plantados  acres  e  acres  de  cana. Essas  áreas  não produzirão  ali nem  um grama  de  alimento.


 


O Brasil já  teve  uma  grande malha  ferroviária, que  foi desmontada  pela ditadura  militar.  Talvez a reconstrução  desse  sistema,  aliada a um  melhor  aproveitamento  das  nossas  vias  marítimas e  fluviais  seria  uma  solução  muito mais interessante  que  a  que  se  divulga  como  a  grande  solução .  Sem  falar  no aproveitamento  de  outras  fontes como o sol, o vento  e  as  marés. Este é um  tema que deve ser refletido e discutido, pois nossos destinos estão sendo jogados nessa empreitada que tentam impingir como solução milagrosa, mas que somente irá agravar o quadro já complicado do ambiente e da energia.


 


Bom.  Até  a  próxima semana.


 


*Iran Caetano é médico e Secretário Político de Vila Velha ES.