Alberto Amadei – A licença para mentir
Não há dúvida de que o governo democrático venezuelano não renovou a concessão à uma TV venezuelana pela mais justificada das razões. O grupo privado concessionário violou as exigências elementares que condicionavam a sua licença.
Publicado 05/06/2007 12:52 | Editado 04/03/2020 16:37
A TV venezuelana, cuja concessão não foi renovada, violou o código de ética básico da imprensa, ao editar de forma fraudulenta inúmeras imagens deturpadas, em apoio ao golpe patrocinado pelos principais grupos empresariais venezuelanos, contra o presidente eleito Hugo Chávez Frias. O fato não permitiria que continuasse a merecer o crédito público, em qualquer país do mundo.
O novo projeto de mídia venezuelano está sendo desenvolvido nos moldes da BBC inglesa, inclusive com a contratação de seus experimentados profissionais. Isso, por si só, afasta a dúvida de que o governo pretendeu violar a liberdade de expressão de quem quer que seja.
O que o governo venezuelano fez foi não renovar a concessão pública de exploração por parte de um grupo privado que, em nome de garantir o privilégio de pautar de forma fraudulenta e manipulada a opinião pública, ora oculta-se atrás do bordão de se achar mais esclarecida e acima da lei, portanto mais sensível em relação aos seus privilégios.
A liberdade de expressão quando orientada pela fraude – como fez o grupo privado venezuelano para derrubar um governo eleito pela esmagadora maioria do seu povo – abre caminho para pisotear os direitos humanos, como fizeram as ditaduras latino-americanas.
Pinochet e os generais tupiniquins tiveram meios de comunicação para apoiá-los financiados pelo grupo Time-Life, que ajudou a criar a Rede Globo no Brasil e o El Mercurio no Chile. A mídia grande cresceu no colo do arbítrio. A atitude de Chávez é legítima, legal, constitucional.
Liberdade de expressão não é licença pública para mentir de quem se arvora dono da opinião pública.
Alberto Amadei é Administrador Público