Antonio Capistrano: Álvaro Cunhal, um velho camarada lusitano

Assistindo, na manhã do dia 15 de junho de 2005, uma quarta-feira, ao canal 41 da TCM, canal português, fui surpreendido com a cobertura que o referido canal fazia da cerimônia de cremação do corpo do líder comunista Álvaro Cunhal. Ele no fim daquele ano,

Álvaro Cunhal, faleceu em 14 de junho de 2005, durante toda a sua longa vida fez um grande número de amigos e admiradores. Militante do PCP, desde os vinte e três anos, foi seu dirigente por muitos anos, amargando alguns anos de cadeia, exatamente onze anos, nas prisões do governo fascista de Salazar, ditadura portuguesa que durou mais de trinta anos, oprimindo e massacrando o povo português e as colônias ultramarinas, sempre contando com o apoio dos países imperialistas. Portugal, com a luta de seu povo, através da Revolução dos Cravos (1974), consegue pôr fim a esse famigerado regime que tanto maltratou a nação lusa e os povos de língua português do continente africano.



 Álvaro Cunhal, dentro da visão da grande maioria dos partidos comunistas, lutou pela unidade de todas as forças progressistas: comunistas, socialistas e católicos, enfim todas as forças democráticas que acreditam na democracia socialista como única forma de superação da miséria e da desigualdade entre os homens e as nações, essa unidade é fundamental na concretização desse ideal, a construção de um mundo verdadeiramente democrático.



 Ele encontrar-se no mesmo patamar dos grandes lideres comunistas e democratas que viveram intensamente o Século XX, se doando as causas libertarias dos povos, muitos com a vida. Podemos colocá-lo ao lado de Luis Carlos Prestes, Pablo Neruda, Che Guevara, Stalin, João Amazonas, Agostinho Neto, Bertrand Russel, Carlos Marighela, Luis Maranhão, Patrice Lumumba, Jean-Paul Sartre, Amílcar Cabral, Alceu de Amoroso Lima, Apolônio de Carvalho, Carlos Lamarca, José Silton Pinheiro, Camilo Torres e tantos outros militantes de causas nobres.



 Emocionei-me ao ver o seu cortejo fúnebre pelas ruas de Lisboa até ao Cemitério do Alto de São João na capital portuguesa onde o seu corpo foi cremado, uma verdadeira multidão, gente de todas as idades, acompanhando a sua última viagem, velhos e novos camaradas do PCP, simpatizantes, militantes, curiosos, um batalhão de fotógrafos e repórteres de toda Europa. Era o partido comunista português através do seu líder, morto, mostrando a sua força. A militância gritando palavras de ordem “agora e sempre, Cunhal estar presente” ou cartazes espalhado por todo o trajeto do cortejo “A vida tem fim, a luta é eterna”, ou ainda cantando a Internacional Socialista com toda a emoção. Os dirigentes carregando na lapela a foice, o martelo e um cravo vermelho, símbolo da revolução portuguesa. No cemitério, o hino português e a internacional socialista. A emoção de todos, o adeus carinhoso do povo ao velho líder comunista.



 Lembrei-me da canção/poema “Tanto Mar”, de Chico Buarque, que diz: “Foi bonita a festa pá / Fiquei contente / E inda guardo, renitente / Um velho cravo para mim / Já murcharam tua festa, pá / Mas certamente / Esqueceram uma semente / Nalgum canto de jardim / Sei que há léguas a nos separar / Tanto mar, tanto mar / Sei também quanto é preciso, pá / Navegar, navegar / Canta a primavera, pá / Cá estou carente / Manda novamente / Algum cheirinho de Alecrim”.



 Ao camarada Álvaro Cunhal, nesses dois anos sem a sua presença física entre nós, a homenagem e o respeito de todos os democratas do mundo. A sua vida valeu a pena, figuras como ele são as sementes que brotaram cravos vermelhos nos jardins de um mundo de paz e de harmonia. Nós comunistas, continuaremos a sua luta na defesa de um mundo democrático e socialista. Viva o camarada Álvaro Cunhal. 



Antonio Capistrano é do Partido Comunista desde 1960, ex-reitor da Universidade Estadual do RN, ex-deputado estadual; ex-vice-prefeito de Mossoró; Dirigente Estadual do PCdoB/RN.