Artigo: América Latina: da resistência á alternativa
Alzumir Rossari*
A América Latina vive um momento ímpar em sua história. As forças populares e de esquerda têm disputado a hegemonia política na região chegando, via institucional, aos comandos dos Governos em div
Publicado 15/07/2007 11:51 | Editado 04/03/2020 17:14
A importância desse fenômeno é singular. A América Latina surgiu da política de brutalidade, cobiça e extermínio da dominação colonial. Presenciou a triste e longa página da quase eterna escravidão negra ou índia. As independências conduzidas pelas elites locais foram, a grosso modo, a substituição do domínio político colonial pela dependência econômica da nação hegemônica de cada época, Inglaterra e posteriormente EUA.
Nos anos 80 do século passado, um novo fenômeno de enorme significado e trágicas conseqüências para as massas populares e a economia da região se apresenta: O neoliberalismo. Uma ofensiva política e ideológica sem precedentes por parte do capital e do imperialismo, com o generoso apoio da grande mídia, resulta na vitória eleitoral de um grande número de dirigentes alinhados ao projeto neoliberal. As conseqüências dessa política são conhecidas por todos nós.
Os povos da América Latina não ficaram passivos e muito menos calados, diante da agressão colonial e mais tarde imperialista. Nos últimos 100 anos, movimentos como a revolução mexicana, cubana e sandinista, o governo popular de Allende no Chile, as inúmeras guerrilhas, os movimentos grevistas, as rebeliões populares tendo à frente partidos e organizações identificadas com as causas populares, foram uma amostra da luta dos povos subjugados e explorados pela transformação social.
Quando o neoliberalismo parecia que reinava absoluto, veio a resposta popular. As forças populares, nacionalistas e de esquerda, de um leque plural de tendências políticas, chegam via eleitoral aos Governos na Venezuela, Brasil, Uruguai, Bolívia, Equador, Nicarágua, Argentina.
Nessa conjuntura, ganha força, após a interrupção da ALCA, o movimento de integração regional autônomo, com o fortalecimento do MERCOSUL e da ousada Aliança Bolivariana para as Américas (ALBA). Em países como a Venezuela, Bolívia e Equador, profundas reformas estruturais estão em andamento, com destaque para a elaboração de novas constituições, nacionalização de setores econômicos estratégicos e políticas de longo alcance social.
O desafio da esquerda latino-americana é aprofundar as reformas estruturais no campo político, econômico e social, dar continuidade a integração regional, viabilizar crescimento econômico com efetiva distribuição de renda. A luta política em curso aponta que as transformações sociais levam ao acirramento da luta de classes, e por conseqüência, os projetos em disputa ficarão mais nítidos para as massas populares. Daí surge caminhos alternativos, como aquele apontado pelos venezuelanos, denominado socialismo do século XXI.
*Professor de História da UNC – Concórdia