Capistrano: O jeitinho brasileiro

Uma das interpelações que mais tenho escutado na minha trajetória de vida pública, é esta: “Qual o poder que não pode?”. É impressionante como este pensamento está arraigado na nossa cultura. Ele faz parte de um comportamento anormal que incentiva atos il

Quebrar as normas legais para beneficiar um apadrinhado tem sido uma prática normal da nossa cultura, muitas vezes, incentivada pela maioria das pessoas em todos os níveis. Quantas e quantas vezes não escutei, e escuto ainda, alguém reclamando porque determinado político ou algum gestor da administração pública não beneficiou algum parente ou conhecido, dizendo: “Aquilo é tão ruim que nem os parentes e os amigos ele ajuda”. Esse “ajudar”, porém, é no sentido de beneficiar, do apadrinhamento com o objetivo de favorecimento em algum tipo de vantagem.



Dias desses, no Jornal Nacional, da Rede Globo, escutei um comentário de Arnaldo Jabor exatamente sobre este assunto. Impecável como sempre dentro de sua lucidez enquanto analista das coisas do mundo e dos homens, Jabor mostrava a origem, a raiz dessa imensurável tendência à corrupção no nosso país – o famoso “jeitinho brasileiro”, fator basilar da origem da corrupção que se alastrou como um vírus contaminando praticamente a todos.



É o que o historiador Manuel Bomfim, no seu livro sobre a história da América Latina, denominou de males de origem, onde ele analisa que é muito difícil resistir à força desse vírus. Necessário se faz uma boa dose de um antídoto poderoso que evite a contaminação geral da sociedade. Senão, ela se degenera e pode se transformar em uma sociedade anárquica e violenta. Nem os países ricos e desenvolvidos escapam  dessa doença degenerativa da ética e da cidadania. Se não houver o combate – está aí o caso Sharon, em Israel; a Parmalat, na Itália, e outros escândalos em diversos países do Primeiro Mundo. 
Só existe uma maneira de enfrentamento, que é a famosa operação pente-fino, o combate a todo tipo de corrupção de forma permanente. Faz-se necessário uma campanha educativa e massiva para a formação de uma cultura anticorrupção, a partir das pequenas coisas, alertando as crianças, os adolescentes, as novas gerações para o combate à corrupção por ser ela a origem de todas as mazelas do mundo: o crime, o narcotráfico, a violência, a prostituição, a fome, a miséria, as desigualdades sociais e por aí vai. Tudo de ruim existente nas relações sociais é culpa de uma sociedade deformada. Por isso, a luta contra a corrupção é fundamental na construção de um mundo saudável.



O respeito às normas, às regras, às leis, enfim, às determinações democraticamente debatidas e implementadas pela sociedade, são um ato profundamente democrático e de cidadania. Claro que a sociedade não é estática; pelo contrario, é dinâmica e as mudanças que ocorrem em todos os sentidos no seio de uma sociedade democrática refletem-se através das transformações jurídicas e culturais. Combater o “jeitinho brasileiro”, essa distorção cultural e maléfica na formação do homem e da mulher, é um dever de todos os cidadãos responsáveis deste país.



Antonio Capistrano é Presidente do Comitê Municipal do PCdoB/Mossoro