Justiça Federal quebra sigilo bancário de prefeito de São Mateus no ES
A pedido do Ministério Público Federal (MPF), a Justiça Federal decretou nesta segunda-feira (3) de setembro, a quebra do sigilo bancário do
Publicado 04/09/2007 15:01 | Editado 04/03/2020 16:43
A decisão da Justiça Federal é uma resposta a uma ação de improbidade administrativa ajuizada no último dia 16 de agosto pela Procuradoria da República no Município de São Mateus (PRM/São Mateus). O prefeito e os demais respondem por fraudes cometidas na contratação do transporte escolar para crianças do município, serviço prestado a partir de programas federais específicos para a Educação.
O juiz da 1ª Vara Federal de São Mateus, José Carlos da Frota Ramos, também determinou o afastamento de três servidores do executivo municipal, Manoel Pinheiro de Souza, Dielson Soares de Oliveira e Noelcio Passos do Carmo, e do ex-prefeito Paulo Roberto Ferreira, caso ele exerça alguma função, emprego ou cargo público.
O procurador da República André Pimentel Filho, que responde pela PRM/São Mateus, também pediu o afastamento de Lauriano Zancanela e da secretária de Educação de São Mateus, Ângela Maria Gobbi Tótola, mas o pedido foi negado pela Justiça Federal, que também optou por não bloquear os bens dos envolvidos. Também são alvo da ação de improbidade e tiveram o sigilo bancário quebrado a Viação São Gabriel Ltda., a Viação Ouro Verde Ltda., a Guriri Tur Ltda. e a Transbraice Transportes Ltda.
Direcionamento
As licitações eram direcionadas a tal ponto que havia uma só proposta de preço, de uma só empresa, para cada lote licitado, o que fere o caráter competitivo do processo. Isso ocorria apesar do fato de que os trajetos são diferentes – e a partir disso são mais ou menos desejáveis do ponto de vista econômico. A apuração dos fatos demonstra, portanto, que a fraude ocorreu a partir do conluio entre os agentes públicos e as empresas.
Após a realização das licitações, a fraude sofria um novo desdobramento: havia a indicação político-eleitoreira de cabos eleitorais, amigos e parceiros políticos para a prestação do serviço de transporte escolar como se fossem eles os vencedores da licitação, e partia dos agentes políticos a lista de pessoas que deveriam ser 'agregadas'.
A 'agregação' se dava a partir de acordos informais entre a empresa vencedora da licitação e o agraciado com a indicação política para a subcontratação. Para o MPF, 'o que ocorreu foi que Lauriano Zancanela e Paulo Roberto Ferreira usaram sua influência política para indicar quem seriam os privilegiados que também prestariam serviço de transporte escolar, tudo para ampliar suas influências políticas e manter a hegemonia no jogo eleitoral'.
Segundo André Pimentel Filho, além de fortalecer a influência política de Lauriano Zancanela e de Paulo Roberto Ferreira, o esquema tinha a finalidade de angariar, por meio do apoio político conquistado, fundos para campanhas políticas. Em 2004, a Transbraice Transportes Ltda., que participava do esquema, foi uma das maiores doadoras de campanha de Lauriano Zancanela, o que levou o Ministério Público Federal (MPF) a suspeitar de que a doação foi motivada pelos interesses econômicos da empresa – e não por afinidade político-ideológica.
Dessa forma, portanto, destaca o procurador da República, 'enquanto o transporte escolar das crianças moradoras das zonas rurais estava em completa penúria, os gestores municipais desviavam a verba para o atendimento de clientela que representava parcela mais influente no colégio eleitoral no município de São Mateus'. Houve casos de ônibus que circularam com mais que o dobro da lotação máxima.
Além das irregularidades nas licitações e do desvio de verbas federais para o atendimento a interesses político-eleitorais, houve fraude na medição do serviço, já que foram utilizados dados fictícios de quilometragem, e condescendência criminosa' de alguns dos envolvidos em relação à conduta de subalternos sabidamente participantes da fraude.
Na época à frente da comissão de licitação da Prefeitura de São Mateus, o servidor municipal Noelcio Passos do Carmo, já afastado do cargo por determinação da Justiça estadual, agia em conluio para a distribuição dos lotes da licitação de acordo com os interesses de Lauriano Zancanela e Paulo Roberto Ferreira.
Sob o comando de Noelcio, a comissão licitou percursos sabidamente desnecessários ou com distâncias fictícias, o que, para o Ministério Público Federal, comprova que os contratos 'muitas vezes foram formatados de má-fé com o objetivo de beneficiar empresas e os chamados agregados, pessoas ligadas aos agentes políticos municipais como cabos eleitorais e amigos'.
Fonte: Folha Vitória.