Militantes do movimento negro protestam contra a violência policial na Bahia

Vinte e duas entidades do movimento negro baiano se reuniram, na frente do quartel geral da PM, em Salvador, para em um só coro gritar contra o racismo que impera na prática da Polícia Militar. Pesquisas revelam que a população negra é o alvo preferido de

 “População magoada, a nossa honra tem que ser lavada”. Esse era o trecho de uma das músicas de autoria de Guiguio do Ylê Ayê, que foi violentamente agredido por policiais na semana passada, ecoado por centenas de pessoas que participaram ontem (26/9), do protesto intitulado Luta pela vida e contra a violência e o racismo.  Os manifestantes se concentraram em frente ao Quartel General da Polícia Militar, no largo dos Aflitos, na capital baiana, e depois seguiram em direção à praça da Piedade, local em que os quatro líderes negros da Revolta dos Búzios, Lucas Dantas, Manoel Faustino, João de Deus e Luís Gonzaga foram mortos e que se tornou palco de muitas lutas dos movimentos sociais baianos.


 


Depois de uma série de chacinas, como a ocorrida no bairro da Paz, no Calabetão e da violência sofrida pelo músico Aguinaldo Pereira da Silva, o Guiguio, do bloco afro Ilê Aiyê, durante uma abordagem policial que o retirou da sua residência, vinte e duas entidades do movimento negro baiano se reuniram com o objetivo de exigir das autoridades uma mudança efetiva na ação policial que freqüentemente viola os direitos humanos da população negra. De acordo com os organizadores do ato, o protesto foi a forma encontrada por eles para denunciar uma prática histórica que é a promoção de abordagens policiais violentas, que muitas vezes chegam a ter como conseqüência o extermínio de jovens negros. “Não podemos continuar nesse silêncio. Todos os dias temos notícias de que dezenas de  jovens negros são  assassinados pela própria polícia e ninguém faz nada, não é natural que um grupo étnico se torne alvo preferencial e as pessoas não compreendam que isso é o resultado do racismo. Somos vítimas de uma política preconceituosa e excludente, que transforma todo homem negro em vilão”, declarou Jerônimo Júnior, um dos coordenadores do evento.


 


Militante histórica do movimento negro, a vereadora Olívia Santana (PCdoB) participou da atividade desde o início e afirmou que enquanto parlamentar fará o que for possível para reverter à situação e que está à disposição de todo cidadão da cidade que sentir acuado pela repressão racista que infelizmente ainda impera na Polícia Militar. “Sou vereadora, mas não estou aqui neste momento apenas como parlamentar. Falo como mulher negra que tem consciência que, embora a base da polícia seja de maioria negra, a concepção ideológica desenvolvida pela cúpula dirigente da corporação é carregada de racismo. Por isso, afirmo que a população negra, homens e mulheres têm sim, que reagir e ganhar as ruas para dar um basta a isso. Para exigir sua cidadania plena, conforme estabelece a Constituição. Se multiplicar nas ruas e fazer política, com o objetivo de transformar a realidade social em que nos encontramos a polícia precisa aprender que a maioria da população que vive nas periferias, nos bairros populares do Nordeste de Amaralina, no Engenho Velho ou na Liberdade, é gente íntegra, que deve ser bem tratada e protegida pelo aparato de segurança pública.”  declarou a vereadora.


 


Depois de uma parada estratégica em frente à praça da Piedade, onde está localizada a Secretaria Estadual de Segurança Pública, um grupo formado pelos coordenadores do ato se dirigiu ao Ministério Público, com o objetivo de solicitar ao procurador geral, Lidivaldo Brito, que faça gestões junto à Secretaria de Segurança Pública para que haja celeridade na apuração dos casos das chacinas que vêm ocorrendo.


 


Na segunda-feira (1/10) será realizada uma tribuna popular para tratar do assunto no Plenário da Câmara Municipal, por iniciativa da vereadora Olívia Santana.


 


De Salvador,
Maíra Azevedo