Violência doméstica não poupa nem gestante
Tese de doutoramento em Saúde Coletiva, apresentada na Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, revela situação enfrentada pelas mulheres grávidas. Enquanto a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres aponta que uma em cada cinco brasileiras s
Publicado 11/10/2007 09:22 | Editado 04/03/2020 17:19
A pesquisa é a primeira do gênero no Brasil e foi feita entre 2004 e 2006. Foram entrevistadas 1379 mulheres gestantes que faziam o acompanhamento pré-natal nas unidades públicas de saúde da região sudoeste de Campinas. Mais de 19% das entrevistadas declararam ter sofrido violência psicológica – caracterizada por ofensas, intimidações e atos de humilhação. Outras 6,5% afirmaram ter sido vítimas de violência física ou sexual. Com relação à violência psicológica, foi detectado fator maior de risco quando os parceiros consomem bebidas alcoólicas com freqüência superior a uma vez por semana. A violência física inclui o consumo de drogas, no mesmo período, como fator de risco.
Outros fatores são o desemprego e a exclusão. Boa parte das mulheres afirmou ser a responsável pela família o que associa o desemprego masculino com o problema. A pesquisadora também detectou que ''as mulheres sob maior risco de violência doméstica são as que apresentam baixa escolaridade''. Mas, ela não considera correto fazer uma associação direta entre a pobreza e a violência contra a mulher. Mesmo com a pesquisa tendo sido feita numa região carente da cidade, a pesquisadora afirma que ''as vítimas e seus algozes podem ser encontrados em todas as classes sociais''.
Celene destaca a gravidade da situação, que precisa ser enfrentada o quanto antes. Seu estudo constatou que a questão da violência contra a mulher não é abordada durante o atendimento pré-natal. Outro aspecto que chamou a atenção é a percepção que as mulheres têm do problema. Ela cita o caso de uma das entrevistadas que garantiu que o marido não era violento, porém ciumento. Em seguida, contou um episódio em que o companheiro, ao chegar em casa, encontrou-a com um parente e, irritado, sacou de uma arma e deu um tiro para o alto. ''Na cabeça daquela mulher, a atitude não se configurava com uma ação violenta'', afirma a pesquisadora.
Levantamento da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, vinculada à presidência da República, realizado nos primeiros oito meses de vigência da lei Maria da Penha – em vigor desde setembro de 2006 – aponta que foram instaurados 32.630 inquéritos policiais, abertos 10.450 processo criminais, realizadas 864 prisões em flagrante e 77 prisões preventivas.
Celene Aparecida Ferrari Audi foi orientada pela professora Ana Maria Segall-Corrêa, do Departamento de Medicina Preventiva e Social da FCM. O estudo foi financiado pelos ministérios da Ciência e Tecnologia e Saúde, por meio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Departamento de Ciência e Tecnologia em Saúde.
De Campinas,
Agildo Nogueira Jr.
com informações do jornalista Manuel Alves Filho publicadas no Jornal da Unicamp, edição 375.