Gustavo Petta: “O problema da educação”
Nos últimos tempos, vem sendo comum que a cada pesquisa divulgada sobre a educação no Brasil – feita por organismos nacionais ou internacionais -, nos depararmos com resultados que demonstram a falência de nosso ensino.
por Gustavo Petta*
Publicado 06/12/2007 22:45
Os últimos dados divulgados foram os do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) de 2006. Segundo a pesquisa, o Brasil está em 49º lugar em leitura e em 54º em matemática. Já havíamos obtido, na semana passada, a 52ª posição no ranking de ciências. Entre os 57 países participantes, nossos alunos com 15 anos – a faixa etária que a pesquisa avalia – estão beirando as últimas colocações.
Outro fato corriqueiro é o aparecimento de São Paulo abaixo da média nacional, como no SAEB, por exemplo. No caso do Pisa, São Paulo aparece atrás de Estados como Rondônia e Sergipe. A pujança econômica do Estado não se reflete num melhor desempenho. Pra mim, há toda uma geração perdida no Brasil e em São Paulo.
No caso paulista, a secretária de Educação, Maria Helena Guimarães de Castro, em entrevista à Folha, avaliou que o problema do ensino no Estado é decorrente da inclusão de alunos. Fato que muitos especialistas também apontam. A massificação da escola pública teria sido a razão de sua desgraça.
Por que não se fala na falta de investimento no setor e no descaso com os professores? Na mesma entrevista, a secretária responde ao ser indagada sobre a questão dos baixos salários e salas superlotadas que “sala cheia não é fator explicativo de baixo desempenho em nenhum lugar do mundo. Na questão dos salários, reconheço que o ideal seria melhorar ainda mais. Mas o governo está fazendo dentro do que é possível fazer.”
Falta é investimento para resolver os problemas estruturais do setor. Em São Paulo, as gestões tucanas de Mario Covas, Geraldo Alckmin e agora, José Serra, estão enterrando a educação pública no Estado. No Brasil, o governo de Fernando Henrique Cardoso, com Paulo Renato no ministério da Educação, promoveu o sucateamento de toda a estrutura pública de ensino no país e liberalizou o setor privado.
Com a eleição de Lula, era de se esperar uma mudança qualitativa. Essa está acontecendo de maneira tímida. Apesar de boas iniciativas, como o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), o governo federal precisa entender que a educação necessita sofrer uma mudança radical. Por que não retirar os vetos ao Plano Nacional de Educação (PNE) realizados pelo governo de FHC? Por que o Brasil mantém um investimento baixo em relação ao PIB, cerca de 4%, mesmo se comparado a países da América Latina? E a redução do impacto da Desvinculação das Receitas da União (DRU) prometida por Mantega, mas condicionada à aprovação da prorrogação da CPMF?
Nossa macroeconomia continua sendo de orientação neoliberal. Essa é a resposta para essas questões. Amargaremos índices pífios em educação, saúde e outras questões estruturais enquanto não vencermos o debate sobre uma saída do esquema neoliberal que nos foi imposto.
Gustavo Petta é ex-presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes)