Violências Esculpidas
Por Márcia Xavier
A luta de combate à violência contra a mulher recebe reforço de todas as áreas. Na literatura, distingue-se um arsenal cada vez maior de autores, principalmente mulheres, que utiliza seus argumentos sob a forma escrita par
Publicado 06/12/2007 17:09
Eline Jonas, presidente da União Brasileira de Mulheres (UBM), é uma dessas autoras. Este mês, durante o lançamento da campanha 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres, ela lançou, na Câmara dos Deputados, o seu livro “Violências Esculpidas”.
Para a autora, “ao abordar este tema, estamos questionando as raízes mais profundas das desigualdades que existem na sociedade. Buscamos uma nova maneira de entender o mundo, uma nova consciência que está sendo construída ao longo dos últimos três séculos e tem estado exposta a rechaços e reações que manifestam a hostilidade dos que detêm o poder e mantêm a ordem estabelecida”.
Referência marxista
Eline Jonas destaca o referencial do feminismo marxista/emancipacionista, que teoriza sobre a realidade das mulheres na sociedade em que vivemos e ao mesmo tempo fomenta e se constitui em um amplo movimento social de luta em três frentes – a luta de classes, de gênero e a luta anti-racista.
A autora desvela as causas da opressão social histórica e propõe a ruptura com as relações tradicionais sustentadas pela ideologia que valoriza o poder econômico em detrimento dos valores humanos reforçando os homens como seres superiores, pensantes e produtores, e as mulheres “o outro”, e por isso tratadas como seres de segunda categoria.
O livro retoma a discussão pela igualdade reivindicada na Revolução Francesa pela Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã defendida por Olympe de Gouges em 1791, e que a estendia ao exercício de todos os direitos, sobretudo o direito de resistir à opressão.
O livro também manifesta a reação conservadora às lutas e às conquistas das mulheres, enfatizando a violência e, ao mesmo tempo, o enfrentamento e a resistência de atores/as com “lesões no corpo e na alma”.
A professora de Antropologia da Universidade de Brasília (UnB), Lia Zanotta Machado, recomenda a leitura, destacando que “o livro reclama por um entendimento amplo do Estado e da sociedade de que as violências contra as mulheres são graves problemas públicos de saúde e de desrespeito máximo à igualdade tão almejada de direitos entre homens e mulheres”.
Sobre a autora
Organizado por Eline Jonas, reconhecida socióloga pesquisadora e militante dos direitos das mulheres, a obra apresenta um conjunto de autores/as pesquisadores/as brasileiras, espanholas e colombianas, sociólogas, antropólogas, jornalista, psicólogas e advogadas, que juntas contribuem, de maneira segura e profunda, na análise das dimensões emocionais e políticas das atuais questões candentes das formas de violência no mundo contemporâneo.
Eline Jonas é socióloga, doutora em Ciências Políticas e Sociologia pela Universidade Complutense de Madrid, professora de Sociologia e do Mestrado em Ciências Ambientais e Saúde da Universidade Católica de Goiás (UCG). Integra o Núcleo de Investigação de Gênero da UCG desde 2002 e, atualmente é Coordenadora Nacional da União Brasileira de Mulheres (UBM) e membro do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM) e suplente do Conselho Nacional de Saúde (CNS).
Foi uma das fundadoras do Centro Popular da Mulher de Goiás em 1985 e da UBM em 1987, entidade filiada à FDIM. Integra o Conselho Editorial da Revista Presença da Mulher. Participou da 4a Conferencia Mundial sobre a Mulher, em Pequim em 1995, e da Conferência Nacional de Mulheres em 2002 (Plataforma Feminista). Integrou a Comissão Organizadora da 1ª Conferência de Políticas para as Mulheres em 2004 e coordenou uma mesa de debates da 2a Conferencia Nacional de Políticas para as Mulheres este ano.