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Mortalidade infantil recua 73% entre índios de MS

A mortalidade entre crianças indígenas de Mato Grosso do Sul, em sua maioria guaranis, passou de 140 por mil nascidos vivas em 2000 para 38 por mil no ano passado, um recuo de 72,8%. A desnutrição perdeu proeminência entre as causas das mortes. A Fundação

Nesta semana, foi criada uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar questões relacionadas à saúde indígena no Brasil, após mais de seis meses de negociação.

O coordenador técnico de saúde da Funasa no Distrito Sanitário Especial Indígena no Mato Grosso do Sul, Zelik Trajber, diz que, além da queda no índice, mudou o perfil das causas de óbito. “Nos primeiros anos, as mortes aconteciam mais por diarréia, desnutrição, desidratação, pneumonia. Hoje, as primeiras causas são más formações congênitas, prematuridade extrema e as patologias decorrentes disso”, afirma.

Pico da mortandade foi em 2004-2005

Entre 2004 e 2005, foi registrado o maior pico de mortes de crianças por desnutrição dos últimos anos em Dourados (MS). Na época, cerca de 50 crianças indígenas morreram na reserva. Trajber explica que problemas de gestão foram determinantes para o agravamento do quadro. “Houve uma mudança de coordenação em 2003 e, com isso, perdeu-se o enfoque das condutas e da organização dos serviços. Também tivemos muitos problemas de apoio, como a distribuição de cestas básicas, e a equipe ainda era muito pequena”, afirma.

Para reverter o problema, foi estabelecida uma padronização no acompanhamento das crianças desnutridas: semanalmente ou diariamente. “Hoje a gente acompanha mensalmente todas as crianças menores de cinco anos. Se a desnutrição é moderada, ela é pesada pelo menos uma vez por semana. Quando é classificada como desnutrida severa, tem que ser acompanhada diariamente pelo agente de saúde”, explica.

Ainda existem mortes de crianças indígenas por desnutrição na reserva de Dourados. Segundo Trajber, neste ano foram registradas três mortes de crianças que eram desnutridas. “Mas a causa de óbito diretamente não foi em decorrência da desnutrição”, afirma.

Segundo ele, em 2002, 15% das crianças menores de 5 anos eram classificadas como desnutridas, seja severa ou moderadamente. Atualmente, o índice é de 7%. “Hoje casos de crianças que vão a óbito diretamente por desnutrição são muito difíceis, mas há situações que acompanham a desnutrição”, afirma.

A queda nos casos de morte se deve ao acompanhamento constante das crianças pelos agentes de saúde, que são índios da própria comunidade. Em novembro, foram registrados 18 casos de crianças com desnutrição severa e 136 com desnutrição moderada na reserva de Dourados – 334 estavam em situação de risco nutricional, 1.624 foram classificadas como normais e 27 como obesas.

Trajber também comemora o avanço na imunização das crianças indígenas. Segundo ele, hoje a cobertura média vacinal é acima de 95% em todas as vacinas. A Funasa também organiza “sopões” nas aldeias, conforme a necessidade nutricional de cada grupo.

Cesta básica só em emergência

“Também conseguimos distribuição universal de cestas básicas e suplementação de vitaminas”, diz Trajber. Mas, segundo ele, é preciso pensar na auto-sustentabilidade dos índios da região.

“No meu modo de ver, a cesta básica é emergencial, mas necessária. No momento, é impossível falar em suspender. Mas é o momento de parar para pensar em programas estruturantes. Tem mil formas de pensar na auto-sustentabilidade. O que não pode é viver na dependência de cesta básica, que além de ser degradante, humilhante, não tem resultado prático satisfatório, acaba inclusive com a auto-estima”, avalia.

Segundo Trajber, a Funasa está montando uma equipe de saúde mental para cuidar dos casos de dependência de álcool e drogas, pensando especialmente na prevenção. Outra meta é chegar ao fim de 2007 com todas as casas atendidas com abastecimento direto de rede de saneamento básico. Hoje, ainda falta atingir cerca de 100 casas indígenas na região.

De acordo com a Funasa, neste ano foram registrados 51 casos de mortes de crianças indígenas por desnutrição em todo o país.

Com informações da Agência Brasil