Belino Sales: Rios de saudade
No livro de José de Alencar, Iracema, é construída uma narrativa de romance, contradições e sofrimentos, entre a lógica da percepção do colonizador (pensamento ocidental) e a noção de existência do nativo, através dos olhos, sons e atitudes da índia Irace
Publicado 22/03/2008 09:56 | Editado 04/03/2020 16:36
Em paralelismo ao romance de José de Alencar, Fortaleza, consolidada principalmente entre três unidades de paisagem: a Planície Costeira e suas unidades associadas, as Planícies Fluviais e os Glacis Pré-Litorâneos, apresenta as contradições entre a percepção do colonizador e o comportamento da paisagem natural. Os rios, riachos e lagoas da cidade foram historicamente negados. É feito uma Iracema que perde seu amado e se posta sobre o mar a espera de redenção, numa espécie de saudade coletiva daquele que foi embora (e já foi tarde!). Destruímos sistematicamente ambientes fluviais e lacustres. Nosso espelhos d'água foram substituídos por assoreamento e ignorância. Como se assim exorcizássemos nossas Iaras e Mães D'águas, matamos Iracema.
Hoje, dentro do processo de releitura da realidade em que se encontra a sociedade, no tocante à Questão Ambiental, temos a oportunidade de reverter a lógica de uso e ocupação da paisagem natural de nossa cidade. A intervenção, por exemplo, que a prefeitura de Fortaleza está realizando em nossos mananciais acarreta na melhoria das condicionantes ambientais e sociais, com um forte impacto na qualidade ambiental das regiões que estão recebendo o benefício.
Rios, riachos e lagoas são importantes para a manutenção da vida, em todas as esferas e complexidades, repercutindo diretamente na qualidade ambiental do lugar. Desse modo, em datas assim de reflexão, feito o Dia Mundial da Água, 22 de março, lembremos das Iaras e Mãe D'águas. Lembremos que toda vida veio das águas e que das águas toda vida depende.
Belino Sales é geográfico da Habitafor