Sem categoria

Discussões sobre meio ambiente devem incluir combate a pobreza

As causas e as soluções para a crise ambiental fizeram parte das palestras de Hamilton Pereira, do Ministério do Meio Ambiente; e de Aldo Arantes, secretário do Meio Ambiente do PCdoB, sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente, nesta sexta-feira, no seminá

Para Aldo Arantes é necessário descobrir as causas da crise ambiental para escolher a melhor solução para o problema. Ele enumerou quatro vertentes do problema, para assinalar que a escolha dos comunista deve recair sobre aquela com visão marxista, em que a alternativa seja um novo modo de produção em que o objetivo não seja o lucro, mas o bem estar social.



A relação do homem com a natureza está diretamente ligado ao modo de produção, lembrou Arantes. E exemplificou seu argumento com o caso do uso de combustível fóssil. Ele lembrou que o problema não diz respeito ao caráter de limitação do produto (petróleo), mas à velocidade de utilização desse produto. “O petróleo sempre existiu, mas o capitalismo e a descoberta da máquina deram velocidade ao uso do petróleo”, enfatizando que “o caráter finito do produto está condicionado ao modo de produção; se altera o modo, altera a velocidade do uso”.



O argumento de Aldo Arantes desmente a visão de alguns setores de que o alto nível de desenvolvimento tecnológico, ligado ao uso de energias não renováveis, é a causa principal da crise ambiental e que o próprio desenvolvimento tecnológico é capaz de superar.



Para desmentir outros segmentos que apontam o incremento da população e a pobreza como outros fatores da crise ambiental, o dirigente comunista destaca que existe uma crise social que não pode ser esquecida. “Os países em desenvolvimento deve ter como centro o combate a pobreza e miséria. Não pode permitir desenvolvimento com concentração de renda, que é o modelo capitalista”, enfatiza.



Várias visões



Aldo Arantes descartou as outras vertentes de abordagem da questão ambiental, lembrando que a do desenvolvimento sustentável, que todos defendem, tem uma visão mágica. Existe a abordagem de modernização ecológica, em que o mercado deve assegurar a melhoria das condições ambientais por meio de medidas de natureza técnica. Uma visão capitalista, que não critica o modelo atual.



A da sustentabilidade democrática, critica o modelo capitalista, mas não propõe alternativa, quer o aprofundamento do processo democrático com incorporação das vertentes ambientais.



E os ecologistas radicais, que fazem críticas ao sistema capitalista, e quer a volta ao passado – pequena propriedade e pequena produção. Para Aldo Arantes, “não se trata de retroagir, mas dar um salto de qualidade em um novo modelo de desenvolvimento”.



Dilema de rico



Hamilton Pereira destacou em sua fala a preocupação que se deve ter com projeto de desenvolvimento a longo prazo, criticando o neoliberalismo que “se rende a perspectiva de mercado, que quer resultado em 15 minutos, e não contribui para formulação de alternativa sustentável para proteger as populações mais vulneráveis. A retomada do crescimento exige debate maior das políticas públicas e deve ser tratada com caráter de urgência”.



Para ele, “o governo Lula está garantindo a recuperação da capacidade do Estado para produzir planejamento de médio e longo prazo que atenderá pelo nome de ZEE (Zona Econômico Ecológico) que deve estar no centro das nossas preocupações como os partidos de esquerda que procuram tencionar o governo nessa direção”.



Ele destacou que depois de duas décadas de estagnação econômica, o Brasil volta a crescer, mas ainda há pendência contraditórias – ao mesmo tempo em que apresenta  o menor nível de pobreza em 125 anos, o Brasil ainda é o 11o país mais pobre do mundo.



Para Hamilton, a agenda de desenvolvimento e proteção ambiental é dilema de rico. “Durante cinco séculos o Brasil contraiu dívida social com população mais pobre. Precisa dar resposta a essa população. Temos que equacionar a nossa política de desenvolvimento”, disse, destacando que “o dilema entre preservação ou desenvolvimento é dos países desenvolvidos que resolveram pobreza interna utilizando recursos naturais do terceiro mundo pelos métodos coloniais que conhecemos”.



No Brasil, ninguém questiona o progresso, disse, reafirmando a necessidade desse  progresso, para acrescentar que “nós temos o dever  e o direito de questionar o progresso no sentido de qualificar’, exemplificando seu argumento com o caso da construção das hidrelétricas do Rio Madeira. “A ministra Marina Silva (do Meio Ambiente) não é contra a hidrelétrica, mas quer o cumprimento da legislação brasileira, para que sejam cumpridos os requisitos de preservação do ambiente”.



Revolução cultural



Hamilton disse ainda que a discussão da questão ambiental é inseparável dos processo culturais e educacionais. “O velho dirigente e referência para todos nós – Lênin – dizia que as transformações políticas podem ocorrer em horas, as econômicas levam anos, as sociais levam décadas e as culturais exigem gerações”, afirmando que “a questão ambiental exige profunda revolução cultural”.



“O governo Lula aponta nesse sentido de apoio à diversidade cultural como o Território da Cidadania e política do desenvolvimento sustentável das populações tradicionais”, disse, citando os dois exemplos mais recentes, considerando que os pontos de cultura são experiências consolidadas.


 


De Brasília
Márcia Xavier