Diário de um Comunista na Conferência do Conselho Mundial da Paz, QUARTO DIA
Antes de começar gostaria de dizer a todos que estes pequenos textos que envio aos amigos e camaradas são apenas relatos da minha breve passagem aqui na Venezuela, por tanto são apenas impressões pessoais e feitas de improviso, não têm conteú
Publicado 12/04/2008 14:52 | Editado 04/03/2020 16:43
Bom, dito isto, começo com um fato importante que pude presenciar e colaborar, que foi a entrega da mensagem do Governador do Paraná Roberto Requião, através do grande ex-presidente da UBES, Joel Benin, que é membro e organizador do Fórum Social do MERCOSUL e membro do CEBRAPAZ paranaense, juntamente com o companheiro Kiko. O Portal Vermelho registrou este evento na página dos camaradas do Paraná e para ler a matéria feita comigo é só clicar no mapa do Paraná ao lado ou visitar o link http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=35852 .
A carta foi entregue ao presidente do Conselho Mundial da Paz, o Cubano Orlando Fundora, ao Deputado do Parlamento Andino e Secretário Geral do Comitê de Solidariedade Internacional, Yul Jabour e ao Prefeito de Caracas, Frede Bernau. Logo após a entrega, a presidente do CEBRAPAZ e recém eleita presidente do Conselho Mundial da Paz, camarada Socorro Gomes, fez a leitura e arrancou aplausos emocionados da platéia mundial presente. Vou anexar no fim deste diário à carta do governador, vala apena ler, é excepcional.
O camarada Benin aproveita para convidar a todos, em especial os camaradas do Espírito Santo, por quem ele disse ter um grande apreço, para o Fórum Social do MERCOSUL que será realizado entre os dias 26 e 28 de abril na cidade de Curitiba – capital do Estado do Paraná. O Fórum Social do MERCOSUR é um evento que tem intensa participação dos movimentos sociais e conta em sua organização com o apoio do CEBRAPAZ paranaense.
O evento tratará de temas como: PAINEL DA ÁGUA, PAINEL DO PODER LOCAL, PAINEL PELA PAZ E SOBERANIA, DA AGENDA DOS TRABALHADORES PARA O DESENVOLVIMENTO, DA DEMOCRATIZAÇÃO DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO, DA SUPERAÇÃO DO ANALFABETISMO, PLENÁRIA GERAL DOS MOVIMENTOS SOCIAIS.
No dia de hoje (11/04) foi aberta a Assembléia Geral com todos, sem exceção. Vários discursos de várias nacionalidades foram proferidos ao longo do dia. Paralelamente continuaram as visitas ás Missões (programas sociais) a Universidade Bolivariana e o Caminho dos Espanhóis (que na verdade é uma aula e turismo sobre a invasão e saque espanhol na Venezuela). Mas hoje fiquei só com os discursos. Foram vários de grande significação internacional, como os da Síria, Equador, Estados Unidos, Venezuela, Iran, Colômbia, Palestina Servia e muitos outros. São muitas horas de intervenções, e todas muito importantes que se somam ao movimento internacional pela Paz e contra o imperialismo.
Há pontos muito comuns em todos os discursos: A saudação da Revolução Bolivariana que acontece na Venezuela, e que tem forte apoio do povo. E não é só no voto. Aqui o povo vai às ruas, debate em praça pública, pixa muro, faz material por conta própria. Camisas da Venezuela, da Revolução, de Simon Bolívar, a constituição, camisa e boneco do Chaves são exemplos dos produtos vendidos nas ruas pelos camelôs locais e também nas lojas.
Em segundo, o imperialismo norte americano, a invasão da Colômbia no território Equatoriano, também foram unanimemente condenados. Posso citar alguns que considerei importantes e que pude registrar, como a intervenção do Presidente do Partido Comunista da Venezuela que defende o fim das armas para o fim das guerras. Não concorda com a máxima de ''para manter a paz, prepara-ti para guerra''. Diz o Sr. Jerônimo Carreiro que quem se arma promove a guerra, pois os EUA e outros grandes produtores de arma produzem muitas armas e precisam de guerra, ''devíamos não mais comprar armas deles''. Diz ainda que o mundo hoje gasta três vezes mais que há trinta anos atrás com armas. E faz sentido, segundo o Governador do Paraná, os seis trilhões de dólares gasto com a guerra do Iraque poderiam dar fim à fome do mundo. ''Um mundo sem guerra, requer um mundo sem armas'', disse o comunista Venezuelano.
O Secretário dos Direitos do Povo do Iran acusa os EUA de quererem controlar econômica e politicamente, através das armas todo o oriente médio e que suas ameaças ao Iran são para todo o mundo.
O representante do Partido Comunista da Colômbia disse que com o mundo unipolar, liderado pelos EUA, aumentaram as intervenções militares pelo mundo. Mais guerras e conflitos. Lembrou de Cuba, Equador, Iraque, Afeganistão, Colômbia entre outros que sofrem com a política de guerra norte americana. Disse que o mundo vive sob a ameaça do imperialismo. Disse que o conflito na Colômbia não se resolve por conta da intervenção norte americana, que a financia. E que o plano Colômbia foi para interromper a construção da paz que estava em curso. ''Não será possível uma democracia excluindo os camponeses, as FARC e sem fazer a reforma agrária, fonte do conflito há 60 anos, não pode haver democracia que exclui.''
E assim se sucederam todos. Palestina, Congo, Nepal, Panamá, que fez um destaque para o problema da água, todos condenaram a intervenção norte americana e depositaram na conta dos EUA o não alcance do fim dos conflitos em seus países. Disse e representante da Palestina: ''Os EUA criam dificuldades para um acordo de paz'' e que ''O conflito entre a Palestina e Israel ameaça todo o mundo Árabe''.
Por último, o Equatoriano e presidente do Conselho Mundial Ecumênico, Bispo Pagu, disse que ''é preciso ter amor pela humanidade e todos, independente das opções políticas e crenças, terem unidade por esta causa''.
E nossa participação aqui têm se destacado muito. E o PCdoB tem tido frutos. A camarada Aline Castro, que tem um comitê de solidariedade a Cuba (www.redportiamerica.com), em clima de festa, filiou-se ao PCdoB. Já vem com uma militância internacional de solidariedade aos povos do mundo. Parabéns a nova camarada e ao partido, que ganhou muito em qualidade.
Leia a seguir a íntegra da mensagem do governador do Paraná, Roberto Requião, aos participantes da Conferência Mundial da Paz:
''Companheiras, companheiros.
Registro nesta mensagem da Conferência Mundial da Paz a certeza de que novos tempos descortinam-se na América Latina. Que este encontro ressoe por todo o continente. Que este congresso seja a reunião inaugural de um novo tempo para a cultura da paz.
Lutemos, avancemos, que não temos nada a perder a não ser as amarras que nos mantém atados ao subdesenvolvimento, à desesperança, à margem da vida.
Tenho a convicção que as condições para o rompimento com as políticas neoliberais que escravizam, que submetem, que desgraçam o nosso continente e os povos do mundo todo amadurecem a cada dia.
Por outro lado, é importante reafirmar o que os organismos das Nações Unidas, como a Unesco, proclamam: não pode haver paz sem desenvolvimento, sem a eliminação da pobreza e da miséria. Não pode haver paz sem uma educação que forme cidadãos para vida. Não pode haver paz sem uma distribuição eqüitativa dos recursos do planeta, sem distribuição de renda e de riquezas, sem a garantia de condições mínimas de acesso à cidadania plena, e sem a eliminação do enorme abismo social que separa os ricos e pobres no mundo.
Hoje, estamos vivendo um momento muito favorável para a as lutas dos povos e nações da América Latina, pela conquista da soberania, pelos avanços sociais e também pelo aprofundamento de uma verdadeira democracia.
Se, por um lado, o império prossegue na sua política de tentar manter a América Latina como se fosse o seu quintal, por outro lado, é inegável que houve um ascenso das lutas democráticas, das lutas sociais e das conquistas políticas.
Se, hoje temos um conjunto de governos que são antiimperialistas, a existência desses governos é resultado das lutas sociais, das lutas pela soberania.
Se, antes, o encargo de desenvolver a luta antiimperialista era apenas dos povos e das correntes políticas que os representam, nomeadamente as forças de esquerda, as forças patrióticas, hoje essas forças ganharam aliados importantes nos governos eleitos por toda América Latina.
Antes, tínhamos governos vassalos, governos lacaios do imperialismo. Hoje temos governos antiimperialistas. As contribuições atuais desses governos ao desenvolvimento, pela paz, e para o desenlace dessa luta são decisivas.
Hoje, os projetos desenvolvimentistas e de integração continental do Brasil, da Venezuela, do Equador, do Uruguai, da Bolívia, da Argentina, do Chile potencializam muito a luta pela paz que, para nós, no atual contexto, significa integração e soberania.
É muito difícil exercer a paz, a soberania e ao mesmo tempo trilhar a via do desenvolvimento que não seja através de um projeto integrado do ponto de vista continental.
Ainda temos uma outra questão na luta pela paz.
Não podemos e não nos cabe ser ingênuos. Como vamos lutar pela paz se um país, como os Estados Unidos, gastou até agora US$ 6 trilhões de dólares com a guerra do Iraque?
Esses valores, essa assombrosa e vergonhosa quantia não foi calculada, levantada, por alguma organização de esquerda da Venezuela ou de um país do nosso continente.
É um estudo de dois norte-americanos, Joseph Stiglitz e Linda Bilmes – ex-consultores do governo Bill Cliton. Eles deram-se ao trabalho de calcular o quanto custou até agora a guerra do Iraque.
Se com US$ 1 trilhão de dólares, conforme constata o estudo, seria possível contratar mais 15 milhões de professores, garantir assistência para 530 milhões de crianças e financiar as bolsas de 43 milhões de estudantes, imaginem o que os Estados Unidos poderiam ter feito com US$ 6 trilhões de dólares?
Certamente poderiam acabar com a fome do planeta. Ou como escreveu o professor Michael Krätke, em excelente artigo sobre essa questão, teriam podido fazer o saneamento das urbanizações miseráveis, renovar os arruinados edifícios das escolas de todo o país.
O montante, estimado de modo conservador, destes US$ 6 trilhões de dólares equivale aproximadamente ao valor de todas as reservas de ouro e divisas do mundo. Todos os meses, os EUA precisam desembolsar mais de US$ 16 bilhões de dólares em custos correntes para as guerras do Iraque e do Afeganistão, além dos US$ 439 bilhões de dólares do orçamento de defesa.
No ano passado, enquanto o presidente Bush solicitava US$ 200 bilhões de dólares adicionais para sua guerra, ele vetava a aprovação pelo Congresso de um gasto de US$ 20 bilhões de dólares destinados ao saneamento e restauração de escolas públicas.
É essa questão que está em jogo e temos saber como enfrentá-la sem submissão ou covardia. As guerras patrocinadas pela indústria bélica multiplicaram-se. Com uma característica especial: a maioria se desenvolve principalmente no interior dos países, entre grupos sociais, culturais, religiosos, étnicos.
As formas de violência se multiplicaram. Além disso, hoje podemos falar também das guerras surdas da fome, da exclusão, da pobreza, do narcotráfico, da intolerância racial, da marginalização e do preconceito. Estas guerras não matam menos nem criam melhores condições para se construir a paz.
É freqüente também a afirmação de que paz é ausência de conflito. Se nos colocamos nesta perspectiva, idealizamos a paz, pois o conflito é inerente à vida humana. Não há crescimento pessoal sem que passemos por momentos de crise e conflito.
Também no plano social, o conflito é parte da dinâmica de relações e confronto de interesses. Numa sociedade pluralista, o reconhecimento da diferença, em suas diversas configurações passa por processos de confronto social, sem os quais é impossível que o reconhecimento e a conquista de direitos se dêem.
Nesta perspectiva a construção da paz exige uma postura ativa. Não pode ser reduzida a uma cidadania passiva, se é possível chamá-la de cidadania, que se limite aos aspectos formais dos ritos democráticos. Construir a paz supõe ação, respeito pelos direitos humanos, luta não violenta contra tudo que desconhece a dignidade humana, afirmação do estado de direito, articulação entre políticas de igualdade e de identidade, entre igualdade social e diferença cultural.
Certamente as resoluções desta Conferência de Caracas serão um passo decisivo para completar o processo de integração política, cultural, econômica, física e trabalhista em nosso continente. Todo esse processo pressupõe a paz, pressupõe o entendimento, a cooperação internacional, a harmonia entre os países.
Para finalizar quero convidá-los para o Fórum Social do Mercosul que será realizado entre os dias 26 e 28 de abril na cidade de Curitiba – capital do Estado do Paraná.
Quero ressaltar que o Paraná, fronteira com a Argentina e o Paraguai, nessa tríplice fronteira que tantas preocupações causa ao império, está vocacionado para a integração e para a paz. Temos procurado manter com os nossos vizinhos uma política de aproximação de interesses.
No primeiro quadriênio de meu governo promovemos inúmeras missões a países latino-americanos. E recebemos dezenas de outras missões. Buscamos sempre demonstrar que é possível sustentar o desenvolvimento econômico em nossas próprias forças, em uma relação de respeito, de igualdade e solidariedade. Que os nossos interesses se completam, que a competição predatória, que a disputa desleal pode ser substituída pela solidariedade entre os povos.
No plano interno, temos buscado no Paraná, a prática de políticas públicas que se contraponham aos preceitos e preconceitos neoliberais. Desprivatizamos a empresa de água e saneamento, recuperamos a empresa de energia, que pretendiam também privatizar, retomamos a iniciativa estatal na educação, na saúde, na infra-estrutura. Colocamos em execução uma política tributária e fiscal de vigoroso apoio às micro e pequenas empresas. Estimulamos fortemente a geração de novos empregos, de tal forma que o Paraná é hoje o estado brasileiro que, proporcionalmente, mais cria novas vagas de trabalho no país. E iniciamos um fantástico plano de apoio à pequena agricultura, à agricultura familiar.
No Paraná, quando o interesse público está em jogo, não temos medo de romper contratos, de retomar empresas públicas. Não temos medo das agências internacionais ou dos sabujos nacionais que fixam as notas do “risco Brasil” ou que classificam um novo risco, o “risco Requião”.
Pouco se nos dá o temor dos neoliberais. Antes de tudo, acima de tudo, a nossa gente.
Com todas as dificuldades que enfrentamos, com as limitações que são impostas pela política econômica nacional, com a oposição impiedosa da grande mídia, com tudo isso, apesar disso, temos avançado.
Estamos demonstrando que é possível sim um outro caminho. Que a construção de uma sociedade justa, desenvolvida, fraterna, solidária é possível.
Para uma cultura de paz, temos que ter o comprometimento de promover e vivenciar o respeito à vida e dignidade de cada pessoa, sem discriminação ou preconceito, rejeitando qualquer forma de violência. Temos que compartilhar tempo e recursos com generosidade a fim de eliminar a exclusão, a injustiça e a opressão política e econômica. Temos que desenvolver a liberdade de expressão e a diversidade cultural através do diálogo e da compreensão do pluralismo. Temos que manter um consumo responsável, respeitando todas as formas de vida e contribuindo para o desenvolvimento da cidade, do estado, do país, do continente e do planeta.
Uma boa conferência a todos e os esperamos nos próximos dias no Fórum Social do Mercosul em Curitiba.
Roberto Requião
Governador do Paraná''
De Caracas,
*Anderson Falcao Azevedo representante do CEBRAPAZ no estado do ES.