Evaldo Lima: Fortaleza – Um mar de gente e de história

Na Morada, Fortaleza!


Nas palavras de Tolstoi só seremos universais quando conhecermos e amarmos nossa aldeia. E a nossa aldeia, aldeota de todos os cantos e encantos é  Fortaleza que sopra velas  nest

Vamos descortinar um pouco dessa História que é nossa e da qual fazemos parte.
O navegante espanhol Vicente Pinzón aqui ancorou suas caravelas antes de Cabral desembarcar no Porto Seguro. Em 1603 Pero Coelho de Sousa  fundou na Barra do Rio Ceará o Forte de São Tiago. Levava consigo Martim Soares Moreno, enamorado da Iracema no deslumbre romântico-visionário de Alencar. Na Barra, o “Guerreiro Branco” ergueu o Forte de São Sebastião. Em 1649, às margens do Pajeú, o holandês Mathias Beck construiu o Forte Schoonemborch. Confinados numa praia que virou Presídio, os batavos não viram Álvaro de Azevedo Barreto erguer o Forte de Nossa Senhora da Assunção em 1654. Tantos fortes para uma gente brava.



A vila de Fortaleza somente foi instalada em 13 de abril de 1726, efeméride que justifica os festejos de aniversário. Nasceu com atributos reais de promover desenvolvimento da ´”Capitania do Siará Grande, de administrar justiça aos seus moradores e de cuidar do bem-comum, guardando em tudo as ordens e fiel vassalagem d'el-rey, seu criador”. Edificada sob as graças de Nossa Senhora da Assunção e já considerada bela pela sua fortuna topográfica. Uma jovem sedutora que carrega nas veias uma mistura de sangue lusitano, indígena, negro e holandês.



Hoje, Fortaleza  é a quarta maior cidade do Brasil e já tem uma população de mais de 2.300. 000 habitantes. Possui a face impessoal e gigantesca das grandes metrópoles, com seus carros, edifícios e avenidas, mas ainda guarda em si os sonhos, as esperanças dos que hoje moram em suas ruas e becos, o eco das vozes e do passado, os passos dos que ali viveram. Fortaleza guarda em cada esquina de suas ruas, em cada janela de suas casas, a alma e a memória de seu povo.



Fortaleza é um mar de povo e de gente que se estende do Mucuripe à Barra do Ceará sob a benção do Sol. Os fragmentos da sua história se juntam  no sangue e no coração da capital pulsante da “Terra da Luz”.



Para conhecer Fortaleza, é preciso que nosso olhar percorra afetivamente suas ruas como se fossem páginas escritas. Um passeio público nos ecos dos lugares da memória. E são tantos os lugares da nossa afeição.



O passado se confunde com o  presente na velha Coluna da Hora, que badalou antes a liberdade dos seus filhos negros e por esta razão é a “Terra da Luz”. Salve o Chico da Matilde, também chamado de Dragão do Mar!



Lembranças de um povo gaiato que vaiou o Sol na Praça do Ferreira após dias chuva. Somente quem tem a pele crua e a cabeça-chata pode dizer “bonito prá chover.” 



Encoste seus ouvidos na sombra do Baobá e escute os ganidos de morte vindos das brancas paredes do Forte. São as vozes de Pereira Figueiras, Pessoa Anta, Tristão Gonçalves, Mororó e Carapinima, fantasmas rebeldes da Confederação do Equador lutando pela República. Acabaram tombando pelas balas e arbítrio de um certo Costa Barros, capacho do Imperador Dom Pedro I.



O povo em barricadas derrubando a oligarquia do “Babaquara” Nogueira Accioly. Um bode feito um ioiô, que vai e volta, nas marcas do velho bonde que escorrega pela Praça dos Leões, mais um Passo estaremos no Paço, banhado pelo Pajeú que corre em nossas veias. Mais a frente uma praia que canta o futuro, um museu que nos lembra o passado. Mar de povo e de história.



Fortalezense é meio “ave de arribação” como disse  o padeiro espiritual Antônio Sales. Mas mesmo tangido pra bem longe não esquece sua rede. Céu de Sueli. Inferno de Dante. Dor de Moacir. Ser cearense e querer voltar. Ou nunca sair daqui porque como cantou o Poeta Juvenal Galeno, “coisa triste é terra alheia.”
Gente boa partiu, outro de bem fica. Pelos encantos de um Majaig Monte. Castelo Encantado, Montese, Damas, Conjunto Ceará, Conjunto José Walter, Antônio Bezerra, Parangaba, Mucuripe, Aldeota. Tantos cantos da morada, Fortaleza.



É percorrendo esse livro de pedra e asfalto, tijolo e concreto que hoje podemos conhecer a gente de Fortaleza e nos perguntar: a quem pertence essa cidade? Quem vive na cidade goza da plenitude da cidadania? Por quem e para quem Fortaleza foi ou está sendo construída? Quem tem direito à cidade?



A cidade é, antes de tudo, sua gente com direito à liberdade. Fortaleza carrega o sol no quengo, o sangue quente, irreverente e certezas de luta de sua gente.



Parabéns Fortaleza!


 


 


Evaldo Lima é professor e colaborador do Vermeho/Ce