Triplica ligações para central de atendimento à mulher
Quase 2,1 milhões de mulheres são espancadas por ano no Brasil, o que representa uma vítima a cada 15 segundos. Mas aos poucos elas saem da sombra e procuram mais informações para denunciar os abusos e agressões. Em 2006, quando foi sancionada a lei Maria
Publicado 12/04/2008 19:16
A subsecretária de Enfrentamento à Violência contra a Mulher, Aparecida Gonçalves, credita os avanços no atendimento do disque 180 à lei Maria da Penha. “A lei trouxe mais debate, as mulheres se informaram mais e estão mais seguras para denunciar”, diz.
Segundo ela, o público majoritário na central é o de vítimas mais pobres. “A violência acontece em todos os níveis sociais, mas quem liga são as das classes C, D e E. As outras têm acesso a advogados e outros meios de informação”.
Aparecida Gonçalves também diz que as mulheres que procuram o disque 180 geralmente estão muito solitárias. “A primeira forma de violência que eles [os agressores] cometem é afastá-las dos amigos. Depois, da família”.
A monitora de atendimento da central, Valquiria Câmara, concorda. “Algumas ligam muito fragilizadas, outras indignadas. Nós acolhemos, indicamos os lugares onde elas podem denunciar e procurar apoio”.
Segundo ela, o perfil das atendentes – todas mulheres – é cuidadosamente escolhido e elas passam por cursos de capacitação e acompanhamento psicológico. O atendimento dura em média 13 minutos. “Mas é importante ressaltar que nós não somos um disque denúncia, e sim uma central para informações”, explica Valquíria acrescentando que nenhuma denúncia é encaminhada diretamente pela central.
Polícia não prende agressor
Mesmo com a determinação da Lei Maria da Penha de que o homem pego em flagrante agredindo a companheira seja preso, não foi assim que a polícia de Brasília agiu quando foi à casa de M. apartar uma briga entre ela e o marido.
“Ele chegou em casa e começou a me bater. Quando a polícia chegou, eles tiravam ele e mesmo assim ele voava pra cima de mim de novo. Sabe como é, bêbado é teimoso”, conta.
Segundo ela, aquela foi a quarta agressão física do ex-marido contra ela, que não terminou em prisão. Depois do episódio, o juiz que já cuidava do caso por causa de denúncias anteriores da vítima, determinou que o marido deveria sair de casa.
“Eu já tinha ido ao juiz toda machucada. Ele chamava o meu ex-marido para ir lá, mas ele nunca foi. Até que um dia eu avisei ao juiz que não iria mais voltar, porque eu ficava gastando dinheiro da passagem de ônibus e o outro nunca comparecia”, conta.
Atualmente M. vive com outro homem com quem teve um filho – o quarto. Ela disse que está desempregada e vive de programas assistenciais. Do ex-marido, ela diz que só quer o cumprimento das obrigações legais com os filhos. “Eu resolvi não querer mais ele. Agora quero o direito dos meus filhos, porque ele também tem que contribuir”, completa, decidida.
Feministas defendem lei
Implementar a lei Maria da Penha, especialmente entre os profissionais do direito, é o principal desafio dos organismos de defesa dos direitos da mulheres. Quem faz a afirmação é Myllena Calasans, assessora técnica para a área de direitos humanos do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (Cfemea).
“Ainda há muita resistência entre alguns juízes, mas onde ela é aplicada existem modelos de referência. É o caso de Florianópolis e Cuiabá, onde a lei vem sendo aplicada com excelência”, diz.
Segundo Myllena Calasans, o aumento do número de mulheres que procuram o disque 180 para buscar informações mostra que elas querem fazer valer seus direitos.
“Por isso precisamos brigar pela capacitação dos profissionais que vão fazer atendimento a essas mulheres. E não esquecer que a lei prevê casas abrigo e juizados de violência, que são importantíssimos”.