Luis Nassif: os desafios do etanol
A consolidação da agroenergia brasileira no mundo exigirá uma guerra que exigirá atuação em várias frentes, uma verdadeira guerra mundial que exigirá planejamento, estratégia, marketing e capacidade de desmontar os argumentos técnicos que serão levanta
Publicado 13/04/2008 21:12
Presidente da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias) e homem de visão sistêmica, Silvio Crestana julga que a ação brasileira deverá se dar nas seguintes frentes:
1. Conflito energia x alimentos.
Hoje em dia é o argumento recorrente contra o etanol. Especialmente na União Européia considera-se que o advento da energia vegetal criará conflitos com alimentos. Em parte poderá ocorrer na própria Europa e nos Estados Unidos, não no Brasil.
O desafio brasileiro será comprovar que o modelo combinado de agricultura-pecuária será capaz de permitir aumento substancial na produção de etanol e de alimento simultaneamente. Para tanto, bastará demonstrar o ciclo econômico desse modelo.
Primeiro planta-se — cana, soja, mamona etc —, depois retira-se o óleo. Sobra o bagaço, que poderá ser convertido em ração e, na etapa seguinte, em proteína – a carne dos rebanhos em regime de semi-confinamento.
2. A questão da sustentabilidade.
Principalmente na Europa tem-se levantado estudos tentando comprovar que a liberação de carbono, no plantio, não compensaria o seqüestro de carbono nas fases posteriores. Para Crestana não haverá a menor dificuldade em demonstrar a falsidade desse argumento. Principalmente com as novas pesquisas agronômicas, que têm permitido desenvolver espécies que dependem cada vez menos de insumos químicos.
3. A Amazônia.
Um dos principais argumentos brandidos pelos adversários do etanol brasileiro é o risco de ampliação do desmatamento da Amazônia. Resolve-se a questão mobilizando-se a comunidade científica, Embrapa, os institutos estaduais em torno de grandes projetos que permitam a exploração racional da Amazônia e a exploração racional da parte que já foi desmatada.
4. A ação diplomática.
Pela primeira vez as embaixadas brasileiras estão instituindo a figura do adido agrícola — figura comum em outras embaixadas. Cabe a ele o mapeamento das informações do país em que está servindo, o levantamento das reações contrárias à produção agrícola brasileira e a organização de estratégicas de comunicação para esclarecer os formadores de opinião sobre as vantagens do etanol brasileiro.
5. A dependência de insumos.
A visão estratégica da China para o comércio agrícola mundial consiste em controlar os insumos. Tem adquirido fábricas de fertilizantes e de matérias-primas ao longo do mundo.
O Brasil ainda é bastante dependente de insumos básicos. Daí a necessidade de estimular investimentos nesta área, especialmente da Petrobras, que têm condições de produzir alguns dos insumos básicos.
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A nova etapa do desenvolvimento nacional exigirá ação integrada, visão sistêmica e estratégia global para a consolidação do país como a grande potência agrícola do terceiro milênio.