Partidos de oposição a Lula perdem espaço em grandes cidades
Os partidos de oposição a Luiz Inácio Lula da Silva conseguiram, nas últimas eleições municipais, em 2004, o controle de quase a metade das cem maiores cidades brasileiras. Nos últimos três anos e meio, porém, essas siglas definharam e, hoje, só governam
Publicado 13/04/2008 14:49
Em termos populacionais, a oposição perdeu o poder de administrar 14,4 milhões de habitantes — o que equivale a mais do que todo o estado da Bahia. A desidratação de DEM, PSDB e PPS nos centros urbanos se deu devido, sobretudo, à migração de políticos de um partido a outro. Outro fator que aponta para uma oposição enfraquecida é que somente 64% dos prefeitos que lhe restaram são pré-candidatos à reeleição. Entre os mandatários de partidos aliados a Lula, o índice dos que vão tentar novo mandato é de 76%.
Um caso emblemático é o do PPS, que saiu das urnas em 2004 como a quinta maior força nos grandes centros — elegeu nove prefeitos, entre eles José Fogaça, que derrotou 16 anos de hegemonia petista em Porto Alegre. A sigla definhou a tal ponto que hoje se ombreia com o nanico PSC ao controlar apenas duas das cem maiores cidades do país —São José do Rio Preto (SP) e Montes Claros (MG).
Fogaça deixou o PPS para regressar ao PMDB. Ele nega que tenha se motivado na relação governo versus oposição. “Até reconheço que isso pode ser verdadeiro (troca-troca motivado por adesismo ao governo), mas, no meu caso, se dissesse que fui maltratado (pelo governo federal) quando pertenci ao PPS, isso não seria verdadeiro.”
Além de quase sumir dos grandes centros, o PPS também sofreu perdas consideráveis em cidades médias e pequenas — muitas lideradas por prefeitos que seguiram governadores que deixaram a legenda, como Blairo Maggi (MT), que foi para o PR, e Eduardo Braga (AM), para o PMDB.
O esvaziamento da oposição também foi motivado pela ida do PDT para a base de Lula. Mas o partido ainda sofreu com o período oposicionista — perdeu quatro dos 11 prefeitos que elegeu em cidades grandes. PSDB e DEM perderam cada um dois prefeitos desde 2004.
O DEM elegeu seis prefeitos nas grandes cidades, mas São Gonçalo (RJ) agora está sob gestão do PDT e Aparecida de Goiânia (GO), do PR. A sigla ganhou um prefeito, Gilberto Kassab, que era vice em São Paulo — com a saída de José Serra, o PSDB perde mais um prefeito. O presidente do DEM, Rodrigo Maia, diz ver a chance de seu partido se firmar como genuína oposição a Lula. “O PSDB quer operar sob uma ótica mais da centro-esquerda. Há espaço no eleitorado para uma alternativa como a nossa.”
O PSDB elegeu 21 das cem prefeituras. Perdeu Florianópolis (SC) e Taubaté (SP) para o PMDB. O senador Sérgio Guerra (PE), presidente da legenda, procura lançar a culpa para Lula: “Houve cooptação do governo. Não foi o PT que cresceu, e sim a esculhambação”, diz. Mas não foi o PT, partido que mais prefeitos de cidades grandes elegeu em 2004 (24), o beneficiário da debandada. O PMDB foi o mais “vitaminado”.
Tendo seis ministros no governo e sete governadores, o PMDB ganhou em 2004 a administração de 12 grandes cidades. Hoje tem 18, cujos prefeitos são todos pré-candidatos à reeleição. “Concordo com o fato de que possa ter ocorrido (adesismo), mas discordo da prática. Se quisermos ser uma grande democracia, os partidos têm de aprender a sobreviver na oposição”, diz o deputado Eliseu Padilha (PMDB-RS).
Da Redação, com informações da Folha de S.Paulo