Messias Pontes: Cacciola provoca alvoroço no ninho tucano

Para desespero do tucanato, a Justiça de Mônaco anunciou na última quarta-feira 16 o parecer favorável à extradição do ex-banqueiro Salvatore Cacciola para o Brasil. E por que a notícia causou tanto alvoroço no ninho tucano? É que até o final deste mês o

Alguns tucanos de boa plumagem estão insones porque sabem que o ex-dono do banco Marka, considerado o rei da impunidade, ao aqui chegar certamente não vai querer assumir sozinho a responsabilidade pelo rombo de R$ 1,5 bilhão ao Banco Central do Brasil. Condenado a 13 anos de prisão em 2000 por desvio de dinheiro público e gestão fraudulenta de instituição financeira, ele não tem dúvida de que não mais poderá contar com o beneplácito do ministro Marco Aurélio de Mello, do Supremo Tribunal Federal para se safar da prisão.   


 


Ademais ele sabe que pode se valer da delação premiada para reduzir sua pena de 1/3 ou 2/3, cumprir a pena em regime semi-aberto, e até mesmo ter a extinção da pena ou o perdão judicial, o que é mais difícil, pois não depende só do seu “protetor” ministro do STF. Italiano, quanto menos tempo ficar no Brasil melhor para ele, pois voltará mais rápido para o seu país de onde nunca deveria ter saído.


 


Cacciola é um verdadeiro arquivo vivo e se resolver abrir a boca, como tudo indica que o fará, vai deixar muitos tucanos em maus lençóis. O Coisa Ruim, em cujo desgoverno, em janeiro de 1999, se deu um dos maiores escândalos, quando houve a queda do real, também vai sair avariado do terremoto que abalará profundamente o ninho tucano.


 


Pode-se prever que será pena pra todos os lados, fazendo cair a máscara da tucanagem que na campanha eleitoral do ano anterior (1998) fez o maior terrorismo contra a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva. Com o respaldo da mídia conservadora, venal e golpista os tucanos afirmavam e repetiam à exaustão que se Lula vencesse as eleições o plano Real iria sucumbir e o Brasil se transformaria numa Argentina, que na época vivia a sua mais profunda crise política, econômica e social.


 


Desde setembro do ano passado, quando o ex-banqueiro foi preso em Roma pela Interpol, que os tucanos mais emplumados perderam o sossego, até porque teriam começado a receber ameaças de Salvatore Cacciola que avisou que teria em seu poder muita munição para detoná-los, ou seja, muitos documentos que comprovariam a existência de um esquema de venda de informações privilegiadas sobre juros e câmbio.


 


Ele cita principalmente o ex-presidente do Banco Central, Francisco Lopes – não confundir com o corretíssimo deputado federal Chico Lopes, do PCdoB do Ceará -, e diz que existem outras “importantes” figuras que ainda não foram citadas no escândalo. Como se vê, é nitroglicerina pura que, quando explodir, o estrago será irreversível, apesar de se saber que a mídia conservadora, venal e golpista vai tentar esconder da sociedade toda a verdade.


 


Quem quiser saber mais detalhes sobre o apavoramento dos tucanos, basta ler o livro “Eu, Alberto Cacciola, confesso”, lançado por ele no final de 2001, onde enfatiza que o caso Marka teve tamanha repercussão para encobrir um escândalo muito maior: os lucros que alguns bancos tiveram com a desvalorização do real, em 1999. É recomendável também ler os relatórios da CPI dos Bancos, e, principalmente, o livro O Mapa da Corrupção no Governo FHC, dos jornalistas Larissa Bortoni e Ronaldo de Moura, Editora Fundação Perseu Abramo.


 


Diz ainda Cacciola que o BC vendeu, entre 11 e 15 de janeiro de 1999, R$ 7,5 bilhões. Por sua vez o então deputado federal petista Aloízio Mercadante afirma que as operações de desvalorização do câmbio causaram ao Banco Central um prejuízo superior a R$ 15 bilhões.


 


É aconselhável os tucanos botarem a barba de molho e rezarem para que a extradição não aconteça, pois se ela se concretizar, como tudo indica que sim, os estragos serão imprevisíveis.


 


 


Messias Pontes é jornalista