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Ministros divergem sobre tratamento ao Paraguai

Ministros brasileiros deram respostas desencontradas à reivindicação do presidente eleito do Paraguai, Fernando Lugo, sobre o preço da energia da hidrelétrica binacional de Itaipu. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, manifestou nesta quarta-

Amorim descartou uma revisão do Tratado de Itaipu mas admitiu mudanças de preço.  “Nunca disse que o tratado poderia ser revisto, nem sequer que usei a palavra tarifa. Usei a palavra 'preço' em um sentido muito lato, porque preço, digamos, é a compensação financeira por um serviço recebido. Mas ainda não conversei com nenhuma autoridade paraguaia desde a vitória de Fernando Lugo”, comentou.



“Os paraguaios acham que não”



Cauteloso, o chefe do Itamaraty evitou declarar se a tarifa paga pelo Brasil ao Paraguai é justa ou não. “Os paraguaios acham que não, outros acham que sim. Eu não tenho uma resposta”, comentou. O preço da energia exportada pelo Paraguai para o Brasil (de Itaipu) e a Argentina (Yacyretá), considerado injusto, foi um dos temas da campanha eleitoral que levou Lugo à vitória neste domingo, com 40% dos votos, 9 pontos acima da situacionista Blanca Ovelar.



Amorim falou a uma imprensa visivelmente desejosa de criar um caso internacional com a energia do Paraguai, tal como tentou fazer, em 2006, com o gás da Bolívia. “Não sei se vai haver elevação de preço. Não estou dizendo isso, nunca disse isso. Eu disse que era preciso conversar, eu acho que é muito ruim se negar a conversar, adotar atitude de hostilidade, isso não vale a pena”, comentou.



Hostilidade também pode custar no bolso



Os jornalistas indagaram se uma revisão no preço pago ao Paraguai pode acabar sobrando para o bolso do consumidor brasileiro – hipótese que vem sendo levantada pelos partidários da linha dura diante da reivindicação do Paraguai. O ministro respondeu lembrando que “uma relação de hostilidade também pode sobrar para o bolso dos brasileiros”.



Amorim comparou as relações entre Brasil e Paraguai a um relacionamento entre pessoas próximas: “A vida é assim. As pessoas querem o que os outros não podem oferecer, e a gente se encontra em algum lugar. Na relação internacional, como na relação entre as pessoas, todos ganham e todos cedem.”



Lobão discorda de revisão de tarifa



Já o  ministro de Minas e Energia disse nesta terça-feira (22) que o preço pago pelo Brasil ao Paraguai pela energia da hidrelétrica de Itaipu é justo. De acordo com ele, o Brasil não cogita alterar o Tratado de Itaipu. “O preço que se está praticando é um preço justo. O Brasil não pretende ver o tratado alterado e, a princípio, não tem porque concordar com a revisão da tarifa”, disse.



“Se o Paraguai tem uma reivindicação a fazer examinaremos com todo cuidado como sempre fizemos”, completou Lobão. Ele ressalvou que falava “como ministro” mas “quem responde pelo Brasil é o presidente Lula”.



Lobão garantiu que o pensamento atual do ministério “é de manter as tarifas como estão”. Para ele, a tarifa de Itaipu só mudaria se houvesse alguma revisão tarifária em relação a todas as hidrelétricas brasileiras. “Rever exclusivamente a de Itaipu, o Ministério das Minas e Energia não vê razão para isso”, opinou.



Paraguai não é “súdito”, diz vice



O Tratado de Itaipu estabelece que cada país é dono de metade da energia produzida, e que a energia não consumida deve ser vendida ao país vizinho. O Brasil compra todo o excedente paraguaio, o que rendeu ao vizinho US$ 340 milhões em 2007. Um sistema semelhante existe em relação à Argentina, no caso de hidrelétrica de Yacyretá.



O Paraguai pretende rever as tarifas para obter um valor “justo”, segundo Lugo. O vice-presidente eleito junto com ele neste domingo, Luis Federico Franco Gómez, abordou o problema nesta quarta-feira: “Quero que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a chefe de Estado da Argentina, Cristina Fernández de Kirchner, saibam que já não vamos falar como súditos nem como empregados. Também não vamos criar nenhum problema para eles, só vamos reivindicar o que é justo”, declarou em entrevista publicada hoje pelo jornal argentino Ámbito Financiero.



Da redação, com agências