Vivo por 'um milagre', Saramago curte a beleza de seu idioma
O português José Saramago afirmou na segunda-feira (21), em Lisboa, que seu estado de saúde é, no momento, “ainda um pouco instável”. A declaração foi feita durante uma visita do escritor à exposição José Saramago — A Consistência dos Sonhos, ded
Publicado 23/04/2008 10:06
Em uma entrevista coletiva, Saramago falou durante mais de meia-hora sobre as suas impressões em relação à mostra e a recuperação física após problemas graves de saúde pelos quais passou no fim do ano passado. “Quando estava na clínica, pesava 51 quilos. Já recuperei 12 ou 13”, declarou. “Eu parecia uma múmia andante. Não gostava de me ver assim. Estar aqui é um milagre”, agregou o escritor, Prêmio Nobel da Literatura de 1998.
Ao lado do ministro luso da Cultura, José António Pinto Ribeiro, e do curador da exposição, Fernando Gómez Aguilera, também diretor cultural da Fundação César Manrique, Saramago disse estar “muito feliz por estar em Portugal”. Segundo ele, “os escritores não podem salvar nem o mundo nem o país em que vivem. Há muito trabalho a fazer — e não é para restituir Portugal a um papel que só episodicamente teve, mas para que seja um lugar reconhecido”.
O consagrado autor comentou que “falta em Portugal espírito crítico” e defendeu o valor das “idéias que vão contra a maré”. Sobre seu novo livro, A Viagem do Elefante — que deve ser publicado no segundo semestre —, Saramago foi enfático: “Desculpem-me as senhoras, não haverá história de amor.”
Retorno
“Tenho a reputação de ser uma pessoa seca, dura, antipática e de ser vaidoso. Mas eu sou um sentimental”, declarou Saramago, revelando o motivo que o levou a deixar seu país natal, em 1993. “Fui tratado injustamente nesta nossa terra e sofria. Este país é o exemplo de algumas coisas negativas, mas é o meu país”.
O exílio, de acordo com o escritor, ajudou-o a valorizar a beleza de seu próprio idioma. “Descobri, há pouco tempo, que a língua mais bonita do mundo é o português. Talvez por viver no estrangeiro, comecei a saborear as palavras e a reconhecer a sua beleza melódica”, salientou. Para Saramago, “a língua é o ar que respiramos” — e “há uma grande responsabilidade da imprensa na defesa da língua portuguesa, a de Camões”.
Em relação ao acordo ortográfico, o escritor disse que já foi favorável e contrário à mudança. Mas opinou que, fundamentalmente, a nova reforma “é uma operação estética à língua”. Segundo ele, “haverá facções contra e favor, mas não é tanto importante como a língua se apresenta, mas o que ela diz, o que propõe”. De qualquer maneira, Saramago diz que continuará a escrever da mesma forma — “os revisores que tratem disso”.
A mostra
O curador Fernando Gómez Aguilera disse que a exposição José Saramago — A Consistência dos Sonhos está “no seu lugar natural”, em Lisboa, e “é um exemplo de traduzir modestamente a vida e obra de José Saramago, um dos grandes escritores do século 20”. De acordo com Aguilera, a mostra foi criada para vários tipos de públicos, “com uma perspectiva generalista e também para incluir as crianças, para que elas possam se relacionar com a obra de Saramago por meio de dispositivos audiovisuais”.
Já o ministro da Cultura, José António Pinto Ribeiro, disse estar orgulhoso de trazer a Lisboa uma “exposição extraordinária”. Na opinião do representante do governo português, a mostra “é um romance, a descrição de uma vida singular, mas que ao mesmo tempo é absolutamente universal”. Dividida em três grandes núcleos, José Saramago — A Consistência dos Sonhos reúne mais de 1.200 documentos, fotografias, vídeos, recortes de jornais, objetos pessoais do escritor, cartazes e livros.
Da Redação, com informações da Agência Lusa