Deputados investigam invasão policial no campus da UFMG

Carlin quis saber e identificar quem teria chamado a PM, já que as autoridades do campus sabem que a entrada da polícia no recinto universitário não foi autorizada pela Reitoria sequer nos períodos mais graves da ditadura


Deputado Carlin se reúne com reitoria da UFMG


 


A Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de Minas Gerais deslocou-se na tarde da terça-feira (23) para o campus da UFMG na Pampulha para uma visita ao reitor Ronaldo Pena e à vice-reitora Heloísa Starling. O objetivo dos deputados era inteirar-se do andamento das apurações do conflito entre estudantes e policiais militares ocorrido na noite do último dia 3 de abril, no prédio do Instituto de Geociências (IGC), do qual resultaram ferimentos em dois estudantes a detenção de um terceiro durante horas numa viatura.


 


A visita dos deputados Durval Ângelo (PT), presidente, João Leite (PSDB) e Carlin Moura (PCdoB) teve o reforço do delegado titular da 16ª Delegacia Distrital de Polícia Civil, Hélcio Sá Bernardes, que adiantou a apuração, em seu inquérito, de que a convocação do Batalhão de Eventos da Polícia Militar foi feita por um dos cavalarianos da própria PM que fazem ronda de segurança no campus, e não por funcionários ou dirigentes da UFMG, como se supunha.


 


Filme


Os deputados apuraram o conflito através dos vários depoimentos. Durante a tarde do dia 3 de abril, os estudantes anunciaram a exibição do filme Grass Maconha, que seria um documentário da revista Superinteressante a respeito da droga popular entre os jovens. A diretora do IGC, Cristina Augustin, proibiu a exibição do filme e do debate que se seguiria. Quando os estudantes insistiram em desafiar a proibição, Augustin ligou para a vice-reitora Starling e solicitou reforço de segurança. Starling determinou que a segurança desarmada da UFMG se dirigisse para o local, mas disse que ficou apreensiva quando viu um helicóptero policial sobrevoando a área.


 


O comandante da operação militar disse à imprensa, na ocasião, que o batalhão foi acionado porque os estudantes estavam tentando exibir um filme contendo apologia do uso de drogas, o que seria ilegal. Cerca de cem estudantes entraram em conflito com 30 policiais, incluindo os dois cavalarianos que, mediante um convênio celebrado há 12 anos entre a UFMG e a PM, fazem segurança dentro do campus.


 


O deputado João Leite questionou os termos desse convênio e sugeriu uma revisão de seus termos, para modificar o conceito de ordem e preservar a autonomia universitária. O deputado Durval Ângelo alertou para a gravidade da proibição do acesso à informação e do debate dentro da instituição de ensino.


 


''A universidade tem o dever de fazer avançar o pensamento e não se pode proibir o debate aqui dentro. O pior é a autorização da entrada violenta da Polícia Militar, ferindo não só os alunos, mas também a autonomia universitária. Lamentamos a violência policial que deixou dois feridos. A PM tem que dialogar e conversar com a população'', disse ele. O deputado observou ainda que os policiais estavam sem a tarjeta de identificação, o que é proibido por seu estatuto.


 


Carlin: quem chamou a PM?


A dúvida que perdurava para o deputado Carlin Moura era identificar quem teria chamado a PM, já que as autoridades do campus sabem que a entrada da polícia no recinto universitário não foi autorizada pela Reitoria sequer nos períodos mais graves da ditadura. Funcionários da UFMG sabem disso e sempre se reportam a seus superiores imediatos. O delegado Bernardes esclareceu que foi um dos cavalarianos quem chamou reforço na companhia da PM que fazia segurança do Axé Brasil no estádio Mineirão, próximo ao campus.


 


O reitor Ronaldo Pena disse que constituiu uma comissão presidida pelo decano do Conselho Universitário, José Alberto Magno de Carvalho, diretor da Faculdade de Ciências Econômicas. A comissão tem três docentes, dois universitários e um funcionário da universidade. O deputado Durval Ângelo considerou que o episódio está sendo apurado com seriedade.


 


 


 


Fonte: Almg


Foto: Lia Priscila