MG: protesto pelo passe acaba em pancadaria em Montes Claros
A segunda manifestação pelo meio-passe em Montes Claros (MG), na manhã desta quinta-feira (24), resultou numa violenta repressão policial. Houve espancamentos e prisões — inclusive da diretora de formação da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Br
Publicado 24/04/2008 18:36
A manifestação, com cerca de mil estudantes, tinha o intuito de cobrar as promessas feitas pelo prefeito Athos Avelino Pereira (PPS) de criação de uma comissão estudantil para elaborar um projeto de lei do meio-passe, em consenso com representantes do poder público municipal. Tal proposta foi sabotada pelo prefeito que preferiu montar uma comissão “laranja”, inclusive com pessoas que já se declararam contrárias ao meio-passe.
Após a concentração de milhares de estudantes na Praça Doutor Carlos no início da manhã, a passeata seguiu rumo a Prefeitura Municipal. Aos gritos de “meio-passe já!”, os estudantes de cerca de 20 instituições de ensino da cidade percorreram a região central da cidade sendo apoiados pela população montesclarense.
No encerramento da manifestação, uma assembléia geral dos estudantes solicitou a presença do prefeito para esclarecer seu posicionamento sobre o tema. Depois de aguardar por alguns minutos, os jovens ocuparam o saguão da Prefeitura pacificamente e sem causar nenhum dano ao patrimônio público. Foi então que a prefeitura acionou a Polícia Militar para agir através do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate).
Daí pra frente o que se viu foi um espetáculo de violência. Spray de pimenta, escopetas com balas de borracha, granadas de efeito moral, cães e muita pancadaria. Essa foi a forma como a desocupação se deu.
Agressões e feridos
A jovem estudante Lunny Pereira foi empurrada e desmaiou. Outra jovem estudante foi atingida por estilhaços da granada e teve seu peito rasgado, tendo de ser levada para a Santa Casa para que fosse tratada.
Uma senhora que estava dentro da Prefeitura pra pagar o Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU) também foi jogada escadaria abaixo.
O engenheiro agrônomo Frederico Lima, ex-coordenador geral do Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal de Viçosa (DCE-UFV), foi mordido por um cão e teve seu braço ferido por uma bala de borracha.
Daniel Dias, estudante de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), foi agredido por diversas vezes e também empurrado.
Esses são apenas alguns relatos da violência vivenciada hoje nesse vergonhoso dia para a cidade.
Audiência pública
Ainda nesta quinta, a partir das 19h30min, a Câmara Municipal, atendendo a requerimento do vereador Lipa Xavier (PCdoB), irá realizar audiência pública para discutir o projeto de lei do meio-passe. A atividade ocorrerá no auditório do Centro de Ciências Humanas da Unimontes.
Durante a tarde prestaram depoimento o presidente da União Estadual dos Estudantes (UEE-MG), Diogo Santos, o presidente da União Colegial de Minas Gerais (UCMG), Flávio Nascimento, o presidente da União da Juventude Socialista (UJS) em Montes Claros, José Lousada Neto, a vice-Minas da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), Luiza Lafetá, o diretor de políticas institucionais da Ubes, Thiago Mayworn, além do diretor estadual da UJS, Danniel Coelho.
Apoio irrestrito
A CTB repudia esta ação truculenta contra os estudantes e manifesta irrestrito apoio à sua reivindicação.
“Esta luta é legítima e nunca deixamos de manifestar nosso apoio, que vem sendo negada sem nenhuma justificativa pelo prefeito”, diz Celina Áreas.
Em nome da CTB, ela tem acompanhado os protestos dos estudantes e manifestado a irrestrita solidariedade da central à luta pelo meio-passe.
“A CTB repudia veementemente esta atitude truculenta e está fazendo buscando que os presos sejam libertados o quanto antes”, afirma Wagner Gomes, presidente da central.
Histórico
Os estudantes se dizem cansados das promessas do prefeito e voltaram às ruas na manhã desta quinta, antecipando os protestos e os debates sobre a implantação do meio-passe.
Segundo os estudantes, o silêncio do prefeito em relação à institucionalização do meio-passe nos lotações é uma verdadeira declaração de guerra.
A pendência vem desde 2005, quando o benefício do meio-passe foi prometido, e até agora o assunto está sendo empurrando com a barriga.
Montes Claros, ao contrário do que ocorre em todo o Estado de Minas Gerais (com exceção de Belo Horizonte), é a única cidade mineira onde não há nenhuma política de passe estudantil.
Em março, os protestos reuniram mais de três mil estudantes num mesmo grito revoltoso. Eles prometem uma segunda etapa dos protestos para a noite do dia 24, em nova audiência pública sobre o tema.
Imagens: Rodrigo de Paula