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Batista Lemos: Nuestra América, um grande encontro sindical

João Batista Lemos, secretário adjunto de Relações Internacionais da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), participou recentemente do 2º Congresso da Força Socialista Bolivariana dos Trabalhadores (FSBT), realizado entre os dias 17 e

Batista, fale primeiro como foi a reunião sobre o encontro Nossa América.
Em primeiro lugar, é importante registrar a existência de mais de cem entidades de trabalhadores que assinam a convocatória do encontro. Este é um indicativo do sucesso que a preparação do evento vem obtendo. Na reunião, decidimos intensificar os preparativos nesta reta de chegada. O mais importante foi a confirmação da presença do presidente da República do Equador, Rafael Correa, e do presidente da Assembléia Constituinte do Equador, Alberto Acosta.


 


A expectativa é de que cerca de 3 mil trabalhadores de todo o Equador participem do ato inaugural do evento. Para nós, isso tudo é um demonstrativo do compromisso do governo equatoriano com o debate sobre os novos rumos que a América Latina está trilhando. E, mais importante ainda, uma demonstração de compromisso com a organização dos trabalhadores de forma democrática.


 


Você pode definir as linhas gerais dos temas que serão debatidos?
O temário é amplo , mas posso afirmar com segurança que definiremos premissas para que o movimento sindical possa influenciar na formação de novas perspectivas para os trabalhadores da região e para um compromisso unitário com este processo progressista e, em alguns países, até revolucionário pelo qual passa a América Latina.


 


Os trabalhadores são sujeitos sociais fundamentais para superarmos o neoliberalismo, que trouxe para a região um modelo econômico, ideológico e cultural baseado fundamentalmente nas privatizações e na precarização das relações de trabalho. O encontro Nossa América já é uma alternativa para os trabalhadores debaterem formas unitárias de superação do neoliberalismo – uma luta que exige a construção de uma plataforma antiimperialista. Falo isso porque já temos importantes organizações representativas do movimento sindical comprometidas com esta plataforma.


 


Quais, por exemplo?
Cito, como exemplo, a PIT-CNT do Uruguai, a CTA da Argentina, a CTC de Cuba, a CGTP do Peru, a CTE do Equador, a Frente Nacional da Nicarágua, a FSBT da Venezuela e a Via Campesina, do Brasil. Junto com estas entidades estão muitas outras, que buscam no Nossa América um espaço de debate político e unidade de ação para o movimento sindical. São centrais e entidades sindicais que estão no fogo da luta pelas mudanças em curso na América Latina.


 


No evento, devemos constituir uma coordenação comum e uma secretaria, que ficarão incumbidas da tarefa de coordenar as organizações que comporão este movimento. O objetivo é criar uma identidade própria dos trabalhadores, uma articulação unitária em torno da idéia de nossa américa dos trabalhadores. A América Latina precisa desta identidade para que os trabalhadores sejam de fato protagonistas do processo progressista em curso na região.


 


Existem várias redes sociais atuando na América Latina, mas uma identidade dos trabalhadores precisa ser construída para que as transformações em curso superem o neoliberalismo e descortinem a perspectiva do socialismo. O objetivo não é concorrer com estas redes, mas dar à luta dos povos da região uma identidade da classe trabalhadora para que ela conquiste o protaganismo necessário nas mudanças que estão ocorrendo. Esta é a expectativa para a essência da ''Carta de Quito'', que deve ser aprovado no final do evento. 


 


Vocês conversaram com um representante da CUT. Aquela central vai participar do encontro?
De fato, o Comitê Organizador procurou o representante da CUT que participou do congresso da FSBT. Ele nos disse, em resumo, que a posição cutista é de não participar, não instigar e não criticar. Informou também que a CUT deve analisar o encontro e definir melhor sua posição sobre o assunto. Dissemos a ele que, pela importância da CUT, pela sua influência na América Latina, seria importante a participação daquela central no Nossa América.


 


Afinal, a CUT participou recentemente da fundação da CSA, no Panamá, e tem um espaço destacado no movimento sindical da região. Para nós, seria importante a participação da CUT porque precisamos reunir o máximo de forças para enfrentar e superar o neoliberalismo. Mesmo que não seja possível a união em torno de uma plataforma antiimperialista, seria fundamental um esforço de construção da mais ampla unidade em torno de uma plataforma de defesa dos direitos e dos interesses dos trabalhadores.


 


Agora fala um pouco sobre o congresso da FSBT.
A decisão mais importante foi a de a FSBT sair da União Nacional de Trabalhadores (UNT) para fundar a sua própria central. Para eles, a UNT se esgotou e já não cumpre mais o papel de inserir os trabalhadores no processo revolucionário bolivariano. É importante esclarecer que a UNT surgiu como contraponto à corrupta e golpista Central de Trabalhadores Venezuelanos (CTV). Na UNT coexistem atualmente diversas correntes sindicais, com organizações separadas.


 


Mas ela já não responde mais à necessidade de uma organização dos trabalhadores à altura das tarefas exigidas pela revolução bolivariana. A FSBT entende que é fundamental para a revolução o protagonimso dos trabalhadores. Os novos atores que surgiram neste processo, os demais movimentos sociais de diversas naturezas, devem ser aliados naturais dos trabalhadores. Mas, para intervir positivamente, os trabalhadores precisam participar de forma organizada para dar uma orientação de classe ao desafio histórico representado pela revolução. 


 


Qual é o perfil desta central?
Segundo Oswaldo Vera, coordenador da FSBT, a idéia é criar uma central de sindicatos e federações, não uma central de ''correntes''. Em tom de blague, ele chegou a dizer que não será uma central ''elétrica''. Vera afirmou também que a defesa dos interesses dos trabalhadores venezuelanos passa pelo apoio efetivo à revolução bolivariana e pela defesa do socialismo.


 


E, segundo ele, a FSBT se propõe a ser uma central à altura desta tarefa. Ele disse ainda que a central terá como característica a luta pela consolidação de uma política revolucionária da classe trabalhadora. O Congresso fez uma análise profunda da conjuntura para definir que os trabalhadores precisam se incorporar de maneira ativa na revolução, tendo como perspectiva o socialismo.