Messias Pontes – Terceiro mandato: pode mas não deve

Mais uma vez o presidente Luiz Inácio Lula da Silva bate o seu próprio recorde de popularidade. Isto é o que mostra a última pesquisa de opinião publicada anteontem pelo Instituto Sensus, encomendada pela Confederação Nacional da Indústria.

Como não poderia deixar de ser, os aliados do Presidente comemoram, e a oposição irracional de direita – PSDB, DEMO e PPS – entra em desespero, principalmente porque  a pesquisa aponta não  só um crescimento progressivo do Presidente e do seu governo, mas que mais da metade dos brasileiros querem um terceiro mandato consecutivo para o presidente Lula. Sabe a canalha neo-udenista que o presidente Lula é imbatível.


 


Embora Lula e a direção de todos os partidos que lhe apóiam  tenham reafirmado ser contra emendar a Constituição para propiciar um terceiro mandato consecutivo, a direita irracional e sua mídia conservadora, venal e golpista continuam insistindo em afirmar que um terceiro mandato seria golpismo.


 


Quer dizer que quebrar a tradição, emendar a Constituição num verdadeiro vale-tudo para garantir mais um mandato para o Coisa Ruim é normal, legal; e emendar a Corta Magna, mesmo sem a vergonhosa e desbragada compra de votos como foi feito antes, é golpismo? Por que dois pesos e duas medidas?


 


Em nenhum momento do desgoverno tucano-pefelista o povo manifestou o desejo de continuidade da política neoliberal, embora o terrorismo midiático e a corrupção desenfreada tenha levado o Coisa Ruim ao segundo mandato consecutivo. Quem tem um pouco de memória se lembra que a grande maioria dos congressistas era contra a reeleição. Dos 584, apenas 228 se manifestaram a favor no início de 1997, faltando, portanto, 80 para o quórum mínimo necessário à emenda constitucional.


 


Com o capital político que dispõe, o presidente Lula, se tivesse obsessão pelo poder, certamente conquistaria o terceiro mandato consecutivo, pois o povo está querendo, ele tem folgada maioria no Câmara e usaria a caneta e o Diário Oficial da União para conquistar uns poucos votos no Senado para tanto. Isto sem comprar, com dinheiro vivo como fez o Coisa Ruim, o voto daqueles que eram contra a reeleição. O voto mais barato saiu por R$ 200 mil, conforme os deputados pefelistas do Acre, Ronivon Santiago e João Maia que confessaram ter se vendido por essa importância. E ainda apontaram vários outros.


 


Na época, todos ficaram sabendo que o operador da imoralíssima compra de votos era o ministro das Comunicações, o tucano Sérgio Motta, que usou os governadores do Amazonas, Amazonino Mendes, e do Acre, Orleir Cameli, ambos do PFL, para fazer o repasse aos parlamentares venais.


 


A maracutaia percorria alguns caminhos: quem quisesse aumentar a conta bancária deveria procurar o deputado amazonense Pauderney Avelino; este, por sua vez, encaminhava os venais ao presidente da Câmara, deputado Luis Eduardo Magalhães, também do PFL, só que da Bahia e que fazia a ponte com Sérgio Motta. Os mais resistentes eram levados para uma “audiência” com o Coisa Ruim, no Palácio do Planalto. Essa história precisa ser amplamente divulgada, pois a maioria dos brasileiros desconhece.


 


Se quiser o terceiro mandato consecutivo, o presidente Lula pode conseguir, mas não deve. Não deve porque já repetiu inúmeras vezes que não quer; não deve porque os seus principais aliados já se posicionaram contrários; não deve porque é salutar a alternância no poder; não deve porque é preciso uma renovação, para melhor, objetivando avançar nas mudanças conquistadas e corrigir as distorções existentes e que o presidente Lula insiste em mantê-las, como os exagerados poderes do Banco Central, a timidez na reforma agrária e a falta de coragem para enfrentar a grande mídia conservadora, venal e golpista.


 


Em 2011 deve assumir um presidente saído de um dos partidos aliados do presidente Lula que dê continuidade aos avanços conquistados no atual governo e indique para o Banco Central alguém comprometido com o verdadeiro desenvolvimento do País; que priorize as reformas agrária e urbana; que não se deixe pautar pela mídia conservadora, venal e golpista, em especial pela Rede Globo, e realmente democratize a comunicação; que leve a cabo uma reforma tributária avançada e justa, taxando mais quem ganha mais, a herança e as grandes fortunas; e que faça uma reforma política a mais democrática possível. Só depois desse governo Lula deve voltar.



 


Messias Pontes é jornalista