Estatizações e referendo iminente elevam tensão na Bolívia
O processo de nacionalizações na Bolívia — liderado pelo presidente Evo Morales e voltado essencialmente ao setor energético — ganhou novo fôlego nas últimas horas com o anúncio de um decreto sobre o controle da empresa telefônica Entel (braço da Telecom
Publicado 03/05/2008 10:45
A situação no país ganha tensão porque o anúncio acontece diante do iminente referendo autonomista — e golpista — da região de Santa Cruz, a mais rica do país. A estatização de mais uma companhia de capital estrangeiro foi anunciada na emblemática data de 1º de maio, junto à mudança de controle de mais quatro petrolíferas.
Enquanto isso, autonomistas preparam a votação ilegal que decidirá pela parcial independência de Santa Cruz, neste domingo. O resultado do referendo poderá desencadear uma crise interna no país, já que desestabilizaria o plano de governo indianista de Evo e acirraria a disputa entre setores sociais da Bolívia.
As últimas nacionalizações foram possíveis através das negociações que deram à petrolífera boliviana YPFB 51% das ações da sociedade da Chaco, Transredes e Andina. Na sociedade da empresa CLHB, o controle passa a ser de 100%, substituindo, assim, os interesses argentinos, peruanos, holandeses e alemães.
Mas o controle da Entel pegou de surpresa os analistas, que esperavam uma resolução diversa para as tratativas entre a empresa e Superintendência de Telecomunicações da Bolívia, inclusive com mediação internacional. Evo disse que, na nova corrente de pensamento da América Latina, a recuperação estatal de serviços básicos (como água potável, rede de esgotos, eletricidade e telefonia) “é estratégica”, pois se trata de “direitos fundamentais do ser humano”.
O responsável pela comunicação da Entel, Eddy Luis Franco, declarou nesta sexta-feira à agência Erbol que, por hora, a sociedade da empresa não vai se pronunciar sobre a nacionalização.
No front político, a tensão é forte e crescente: o governador de Santa Cruz, Ruben Costas, assegura que o referendo deste domingo será um sucesso. As regiões de Pando, Beni e Tarija também votarão, nas próximas semanas, a autonomia em relação ao Estado.
Diversas organizações indígenas e militantes do Movimento ao Socialismo (Mas) anunciaram grandes mobilizações no domingo para travar a consulta popular, tachaada de separatista e elitista.