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Ocupação da USP completa um ano; conquistas foram 'pontuais'

Há um ano começava a ocupação da reitoria da Universidade de São Paulo (USP), um movimento de estudantes que inspirou diversos outros protestos em instituições de ensino do país. As vitórias, segundo entidades que representam alunos, funcionários e profes

Mas até hoje restam pendências, seja nos compromissos assumidos pela reitoria, seja na conclusão de inquéritos que apuravam os danos ao patrimônio público. Na época da ocupação, decretos do governo José Serra (PSDB) punham em risco a autonomia universitária, segundo os manifestantes.


 


A independência financeira e de pensamento das universidades é um princípio constitucional, que fora violado pelo governador. Em 31 de maio, Serra publicou um decreto declaratório modificando a interpretação dos trechos questionados pelo movimento — ato depois avaliado pelos manifestantes como uma de suas conquistas.


 


“A principal perspectiva na época era a questão da derrubada dos decretos e a democracia na universidade. Tivemos conquistas pontuais, como bandejão aos domingos, circulares no fim de semana, reformas de prédios”, diz a diretora do Diretório Central dos Estudantes (DCE), Débora Manzano, de 21 anos. A construção de mais moradia estudantil, também foi contemplada, segundo a jovem.


 


O principal ponto que resta da pauta da ocupação é reformar o estatuto da universidade. “O Conselho Universitário decide de forma antidemocrática. O momento dentro do movimento é avançar nas conquistas da ocupação”, afirma.


 


Sindicância em andamento


 


A reitoria da USP não se pronuncia sobre a manifestação que deixou o prédio da administração fechado por 51 dias. Sua assessoria de imprensa diz apenas que uma sindicância de caráter sigiloso apura o ocorrido.


 


Na Justiça, correm diversos processos — alguns deles já arquivados, segundo informou o Ministério Público do Estado. Na polícia estão três inquéritos, dentre eles os que tratam dos danos físicos e do furto de materiais.


 


Para o diretor do Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp), Aníbal Ribeiro Cavali, a reitoria descumpre seu compromisso ao procurar autores para os danos registrados. “A reitoria fala que não houve quebra, mas ela diz que as entidades vão pagar pelos prejuízos”, diz.


 


“O que era fundamental para nós é que, com a desocupação da reitoria, haveria uma comissão para fazer a averiguação. Nós deixamos tudo limpo e em ordem. No espaço de dois dias, que a reitoria ficou fechada, apareceram computadores quebrados e até computador dentro de vaso sanitário. O ambiente foi violado”, defende-se.


 


“O que foi divulgado à imprensa, na época, foi forjado. Tudo montado. Num primeiro momento, parecia que havia sumido um monte de coisa. Mas as coisas estavam só trocadas de lugar”, acrescenta Cavali.


 


Nova ocupação?


 


De acordo com o diretor da Associação dos Docentes da USP (Adusp), Francisco Miráglia, um dos ganhos da ocupação foi incluir no calendário oficial da universidade uma semana sem aulas, de 26 a 31 de maio, para a discussão do estatuto da universidade no evento chamado de “5º Congresso da USP”.


 


“O estatuto é da época do Ato Institucional número 5. E teve poucas modificações fundamentais desde então. Na nossa visão, o Conselho Universitário (instância máxima de decisões da USP) não tem capacidade de levar a universidade para o século 21”, afirma.


 


 


Por isso, as três entidades, Adusp, DCE e Sintusp, estão promovendo debates sobre qual o modelo ideal de universidade e o que fazer para que a USP se aproxime dele. “Queremos uma universidade que faça pesquisa, mas que tenha mais responsabilidade social”, adianta Miráglia.


 


“Se vai ter ocupação ou enfrentamento é só com dinâmica do movimento que vamos poder dizer. Estamos trabalhando para que exista um movimento igual ou até maior do que no ano passado. Os meios de embate são vários, não descartando a ocupação, mas não dá pra dizer que ela acontecerá”, diz Cavali, do Sintusp.


 


Da Redação, com informações do G1