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Sob pressão, Bush pode fechar prisão criminosa de Guantánamo

O governo Bush pode anunciar até janeiro — quando termina o seu mandato — planos para desativar a prisão de Guantánamo. Segundo autoridades e especialistas ouvidos pela Reuters, uma iminente decisão da Suprema Corte pode ser o empurrão que falta para isso

“Uma decisão pode ser tomada neste governo no sentido de anunciar o fechamento de Guantánamo”, disse uma importante fonte oficial, que pediu anonimato. “É improvável que nos próximos nove meses Guantánamo seja fisicamente (desativada) — mas é possível que seja tomada a decisão política de fechá-la”, acrescentou essa fonte.


 


O governo está sob pressão interna e externa para desativar a prisão, inaugurada em janeiro de 2002 na base naval norte-americana que fica encravada em território cubano com objetivo de receber suspeitos de terrorismo. As autoridades dizem que, nos últimos meses, se intensificaram os debates e os planos a respeito de como lidar com a prisão.


 


O próprio presidente George W. Bush admite que as condições do local mancharam a imagem dos Estados Unidos no mundo. “Todos estão de acordo que precisamos encontrar uma forma que afinal nos leve ao fechamento de Guantánamo — o que é a decisão política do presidente. É uma questão muito complicada”, disse Gordon Johndroe, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional.


 


Direitos em xeque


 


A Suprema Corte deve decidir nas próximas semanas se os presos de Guantánamo gozam das proteções jurídicas da Constituição norte-americana, apesar de estarem oficialmente em território cubano — onde os Estados Unidos estão presentes há cerca de um século.


 


“Se a Suprema Corte concluir que os detentos têm direitos constitucionais, então haveria pouca diferença jurídica entre mantê-los em Guantánamo ou mantê-los no território continental”, disse uma fonte do governo. “É possível que a decisão da Suprema Corte forneça o empurrão para uma decisão política de fechar Guantánamo”, acrescentou a fonte.


 


A maioria dos 270 presos atualmente no local foi capturada no Afeganistão e está confinada em Guantánamo há anos, sem nem mesmo receber acusações formais. Mais de 500 presos já foram libertados, sendo nove na última quinta-feira (1º). O governo diz que pretende julgar de 60 a 80 dos que restam em tribunais de crimes de guerra.


 


“Gostaríamos de chegar ao dia em que possamos, afinal, fechar Guantánamo. Não queremos ser os carcereiros do mundo”, disse o capitão-de-fragata Jeffrey Gordon, porta-voz do Pentágono.


 


“Buraco negro jurídico”


 


Matthew Waxman, ex-funcionário dos departamentos de Defesa e Estado encarregado de lidar com os presos, é um defensor do fechamento da prisão, mas diz que a decisão da Suprema Corte pode ser uma faca de dois gumes. Segundo ele, a concessão das garantias constitucionais aos presos poderia levar à conclusão de que não há por que removê-los.


 


“A grande crítica a Guantánamo é que ela representa um chamado 'buraco negro jurídico”', disse Waxman, atualmente professor de Direito da Universidade Columbia, em Nova York.


 


Bush e os secretários Condoleezza Rice (Estado) e Robert Gates (Defesa) se dizem favoráveis à desativação, mas citam razões logísticas e outros problemas que estariam impedindo isso. Também há no governo a intenção de anunciar o fechamento da prisão ainda no governo Bush, para não deixar que o sucessor, eventualmente da oposição, fique com esse crédito.


 


Da Redação, com informações da Reuters