Evaldo Lima: Mário Gomes, um poeta maldito que perambula pelas ruas de Fortaleza
Na Morada, Fortaleza!
Mário Gomes mora em toda a cidade, namora Fortaleza, embora seja maltratado pela “loura desposada do sol”. De vez em quando uma alma se compadece daquele coração sofrido e lhe oferece um
Publicado 25/05/2008 09:30 | Editado 04/03/2020 16:36
Mas não ofereça trabalho ao poeta: “Não gosto de trabalhar. Não nasci pra isso. Sou poeta, Deus me fez assim, e o mundo que me sustente!”. Mário prefere os encantos da noite de Iracema, do fogo do dragão. Em qualquer canto dispara seus mísseis contra a hipocrisia humana.
Seu escritório fica na Praça do Ferreira, quase na esquina da rua Guilherme Rocha, em frente à loja de discos. Aquele banco já foi concorrido pelos discípulos de Mário Gomes. Hoje o poeta maldito está só, desnudo pelo flagrante da sensibilidade fotográfica de Don Raffaè Pajata.
Segundo Juarez leitão, Mário Gomes é “a última resistência de espontaneidade e loucura da Fortaleza de Nossa senhora d’Assunção. Parceiro do sol e compadre da lua, seu reino é a praça, onde brilha pela santa lei da desordem na mais autêntica e pura vagabundagem”.
Um poema, uma porrada de Mário,
“Ontem,
Ao meio- dia,
Comi um prato de lagartas
Passei a tarde defecando borboletas.”
Outro poema de Mário, um soco no estômago,
''Beijei a boca da noite
E engoli milhões de estrelas.
Fiquei iluminado.
Bebi toda a água do oceano.
Devorei as florestas.
A Humanidade ajoelhou-se aos meus pés,
Pensando que era a hora do Juízo Final.
Apertei, com as mãos, a terra,
Derretendo-a.
As aves em sua totalidade,
Voaram para o Além.
Os animais caíram do abismo espacial.
Dei uma gargalhada cínica
E fui descansar na primeira nuvem
Que passava naquele dia
Em que o sol me olhava assustadoramente.
Fui dormir o sono da eternidade.
E me acordei mil anos depois,
Por detrás do Universo.''
Mário Gomes é um poeta erótico e despudorado como um cachorro que copula na frente do padre. E mais, Segundo Márcio Catunda, uma espécie de um Édipo bêbado a perambular pelas ruas da cidade. Mas, principalmente, um homem inteligente, que está vivendo momentos difíceis , definha pela cidade e precisa de nossa ajuda.
O cineasta Mardônio Franca,contribuiu com este debate sobre o Mario Gomes ao fazer recentemente um curta metragem sobre ele. Façamos a nossa parte. Força poeta!
Evaldo Lima é professor e colaborador do Vermelho/Ce