Eliana Gomes – Dom Hélder Câmara: Uma vida por justiça e paz

“Quando dou pão aos pobres, chamam-me de santo, mas quando pergunto pelas causas da pobreza, chamam-me de comunista”, costumava dizer um cearense de Fortaleza que completaria cem anos no próximo dia sete de fevereiro de 2009, Hélder Pessoa Câmara.

Hélder entrou no Seminário Diocesano de Fortaleza quase menino, aos 14 anos, e lá foi ordenado padre oito anos mais tarde, em 1931. Ainda em Fortaleza, nos primeiros anos como padre, fundou a Legião Cearense do Trabalho e a Sindicalização Operária Feminina Católica, já demonstrando a opção pelos excluídos que seria marca de sua trajetória de fé.


 


No Rio de Janeiro, onde chegou em 1936, o padre foi nomeado bispo e bispo auxiliar, nos mais de vinte anos em que se dedicou às atividades apostólicas naquela cidade e estado.


 


Em 1964 assumiu a Arquidiocese de Olinda e Recife, onde foi comunicado por agentes da ditadura, que haviam tomado o poder naquele ano, sobre uma lista de religiosos que deveriam ser transferidos por ele dali. O já experiente Dom Hélder respondeu que faltava o seu nome na lista, deixando claro de que lado o sacerdote estava naquela luta desigual. Tal resposta e as ações de Dom Hélder em defesa do povo e da liberdade fizeram o regime vigente colocar seu nome em outra lista: a de pessoas que não podiam ter seus nomes citados nem suas atividades divulgadas por toda a imprensa e meios de comunicação, proibição que durou até o final da ditadura. Na mesma lista constavam outros nomes de lutadores e lutadoras que dedicavam suas vidas a causa das liberdades democráticas, dentre elas e eles muitos comunistas. A parede externa do quarto de dormir da casa, onde o religioso morava naqueles tempos, foi crivada de balas, em mais uma tentativa infrutífera de intimidação. Mesmo silenciado e vítima de intimidação, o religioso foi voz ativa na luta pela abertura democrática e na denúncia dos crimes da ditadura, exigindo a elucidação das muitas mortes e desaparecimentos. Nunca conseguiram calá-lo.


 


A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e O Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM), tiveram Dom Hélder como um de seus fundadores. Os eventos da Igreja Católica que deram rumo progressista as atividades da instituição tiveram sua presença firme e destacada.


 


A defesa da justiça e dos direitos humanos fez Dom Hélder ser indicado quatro vezes para o Prêmio Nobel da Paz. Infelizmente não venceu, por pressão da ditadura e seus aliados, mas a vitória maior já estava consolidada: seu nome e sua luta estavam escritos definitivamente na história do nosso povo.


 


Vereadora e militante de um partido que teve Dom Hélder como aliado constante na luta contra a ditadura, por justiça e em defesa dos direitos humanos não poderia deixar de lembrar o centenário deste grande fortalezense. Minha militância nas causas populares começou nas organizações da igreja católica que procuravam e procuram esclarecer e unir nosso povo para defender seus direitos. A força das palavras e ensinamentos do religioso sempre foi presença marcante naquelas atividades de fé e libertação.


 


Como parte das muitas atividades que celebrarão o centenário de Dom Hélder Câmara (requerimento 0015/2009, de minha autoria) será realizada uma sessão solene no dia três de abril (sexta-feira), às 15 horas, na Câmara Municipal de Fortaleza. Em um momento histórico em que o mundo, o Brasil, o Ceará e Fortaleza precisam reforçar a luta dos povos por justiça e paz, a vida e a obra de Dom Hélder precisam ser lembradas.


 


Eliana Gomes é Vereadora – PCdoB