Banestes e Banco do Brasil
Uma novela que já dura dois anos parece que se encaminha para um fim. Digo que “parece”, e logo explicarei o motivo desse meu sentimento. No dia cinco de fevereiro de 2009, o governador Paulo Hartung, se dizendo preocupado com as incertezas do mercado
Publicado 12/02/2009 20:19 | Editado 04/03/2020 16:43
Esse com certeza não era o desejo do PH, visto que em 2008 era anunciada a abertura de capitais do banco através da venda das ações na bolsa de valores de São Paulo, o que podemos chamar de privatização branca. A premissa fundamental dessa lógica era de que a qualquer sinal de ruído no mercado o processo seria estancado. Pois bem, veio a crise financeira internacional, algo que alterou e muito os sabores dos mercados, fazendo com que essa estratégia do governo fosse por água abaixo.
Por conta dessa mudança de estratégia, Paulo Hartung, se dizendo muito preocupado (e com razão), com os reflexos da crise no nosso estado, resolve dar cabo a uma nova empreitada. Apesar do sabor amargo, anunciou que o Banestes será incorporado ao Banco do Brasil. Provalvemente essa foi uma decisão em conjunto com o governo federal.
Problemas conhecidos da Incorporação
Até então tudo parece um sonho de cor amarela, mas a realidade é bem diferente do sonho que está sendo pintado tanto pela diretoria do banco, quanto pelo governo; pela imprensa; ou ainda pelo próprio BB. Os funcionários acompanham tudo pela imprensa, sem saber ao certo o que esperar do futuro. Muitas interrogações na cabeça.
De acordo com o sindicato dos bancários de Santa Catarina, que acompanha de perto o processo de incorporação do BESC (Banco do Estado de Santa Catarina) e de outros bancos, são muitos os problemas decorrentes da incorporação, dentre eles destaco:
1) Prejuízo ao atendimento aos clientes de baixa renda. O Banco do Brasil segmentou sua clientela, deixando de atender em suas agências clientes que movimentam até R$ 2 mil. Esses foram direcionados para canais alternativos (Central de Atendimento, Internet, auto-atendimento e Banco Popular) na reformulação do banco em maio de 2007.
2) Prejuízos aos investimentos em projetos regionais. Em caso de a incorporação se efetivar, o dinheiro movimentado no Banestes entrará no bolo nacional do Banco do Brasil, não sendo garantido o reinvestimento no Espírito Santo.
3) O fechamento de agências é outra ameaça. Apesar das afirmativas da direção do BB de que não serão fechadas, a realidade em outros processos de incorporação mostra o contrário. Em São Paulo, por exemplo, foi anunciada a possibilidade de fechamento de pelo menos trinta agências da Nossa Caixa, banco incorporado pelo BB.
4) Não há garantias reais de manutenção de empregos. Estudos do DIESSE comprovam a sobreposição de ao menos 70% dos cargos e funções. Isso significa que a cada dez profissionais sete estarão com seus empregos ameaçados. Ainda temos um grande contigente de empregos indiretos que serão extintos. É irreal a promessa de não haver demissão, os prejuízos para os trabalhadores serão imediatos.
Necessidade de mobilização e Plebiscito Já
A história do Banestes é muita rica, já passou por muitos momentos delicados, mas atualmente é um banco forte e com muita solidez. Patrocinador de eventos esportivos, culturais, sociais, de negócios é orgulho dessa terra, e do seu povo. O povo capixaba, que é o seu maior acionista, está a reboque de qualquer discussão. Será que o nosso governador não se importa em debater com a sociedade essa decisão tão importante?
É bom lembra quer Paulo Hartung foi eleito com a promessa assinada de manter o banco público estadual. De fato resta aos movimentos sociais uma organização forte para barrar o processo de incorporação. Mais uma vez os trabalhadores e as camadas inferiores da sociedade são convidados a pagar uma conta que não é nossa. Portanto, o fim melancólico que parece atualmente muito próximo pode não se confirmar. E pela disposição de luta que os banestianos e a população capixaba tem no sangue muita coisa ainda vai acontecer.
**Iran Milanez é graduado em Ciência da Computação.