Publicado 30/03/2009 15:56 | Editado 04/03/2020 16:20
Era um comemorativo 29 de março, como neste domingo, data da fundação da cidade de Salvador. Washington José de Souza, militante histórico do PCdoB e combativa liderança do movimento sindical baiano, morria aos 73 anos. A lembrança da sua vida, a memória da sua atuação política, é a recordação da importância de homens, que conscientes da necessidade de transformação da sociedade dedicam o seu esforço em torno deste objetivo. Uma realidade demonstrada nesta semana pelos trabalhadores da construção civil da Bahia.
Dez anos depois da sua morte, a Bahia e o Brasil são lugares diferentes. São mudanças das quais não ele participou, mas que sempre lutou para ocorressem.Washington era uma daquelas velhas lideranças que sempre esteve na frente de combate, entre os que acreditavam que a mobilização popular era a alternativa para o desenvolvimento do País e a melhoria de vida da população. O Golpe de 64 abateu sonhos e atraiu a repressão dos que quiseram o cerceamento da liberdade de expressão e manifestação.A ira dos repressores não diminuiu a sua disposição, a força para buscar as mudanças.
Apesar de cassado, pelo Ato Institucional número 2, editado em abril de 1964, não sucumbiu, mesmo com os direitos políticos suspensos por dez anos, cumpridos até o fim. A restrição que o impediu, inclusive, de poder trabalhar, regularmente, não o afastou da militância política. As dificuldades foram muitas, só conhecidas por quem, como ele, teve de enfrentar as contradições surgidas no combate ao regime militar.
A jornada, longa, encerrada com o afastamento dos militares, em 1985, foi marcada por sucessivas prisões e ameaças, registradas pelos órgãos de repressão, que o mantiveram sob vigilância até 1992, na vigência de um governo formado por civis, eleito pela maioria dos votos dos brasileiros. Este período, porém, é o que demonstra a última contribuição deste importante líder sindical, como pôde ser verificada no último acordo dos trabalhadores da construção civil da Bahia.
Pela primeira vez na Bahia, a categoria realizou uma negociação com a adesão de 100 mil trabalhadores de todo o Estado, um fato histórico em relação ao movimento sindical baiano.O primeiro grito se ouviu em 89, com a intitulada “Revolta dos Peões”. Sob a liderança de Washington, os trabalhadores da construção civil deixaram os canteiros das obras e nas ruas de Salvador anunciaram a sua força.
A negociação concretizada na semana passada representa um legado da atuação consciente de uma direção política que não sucumbiu aos desafios. A importância deste acordo estadual demonstra o valor de uma estratégia, ensinada com a paciência de quem aprendeu com os dissabores como é feita a luta política. A organização dos trabalhadores em toda a Bahia foi a última tarefa, à qual o velho líder dedicou-se antes da morte.
A lembrança de Washington, dez anos depois, é feita em um momento de consternação, pela perda, no mês passado, da companheira solidária e mãe inesquecível dos filhos, Lourdes. Ela é imposta pela certeza de que foi um homem que escolheu um caminho e ao determinar o percurso manteve a convicção de militante – a certeza de que as grandes conquistas disposição de lutar por elas, como fizeram os trabalhadores da construção civil 20 anos depois do primeiro grito.
*jornalista, professor da Faculdade de Comunicação da UFBa.