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Escândalo abala partidos britânicos

A revelação feita pelo jornal britânico Daily Telegraph, de 8 de maio, de vários casos de despesas abusivas por parte de deputados trabalhistas e conservadores fez cair a pique as intenções de voto nos dois maiores partidos britânicos.

Fustigados pelos efeitos da grave recessão econômica que atinge o país, os britânicos reagiram com indignação às mordomias de que os deputados têm usado e abusado.



Após as revelações das últimas duas semanas, vários eleitos viram-se na obrigação de devolver milhares de libras que tinham recebido nos últimos quatro anos como reembolso de todo o tipo de despesas pessoais. O próprio Cameron devolveu 680 libras que havia recebido por trabalhos de manutenção da sua casa, e quatro outros dirigentes de topo dos conservadores entregaram 16 mil libras indevidamente cobradas.



Por inverosímil que pareça, os recibos de despesas para reembolso incluem praticamente todos os artigos de consumo doméstico: lâmpadas, ração para cães, almofadas, castiçais, mobílias, televisores de tela plana, bem como obras e até as prestações de falsos créditos à habitação.



Elliot Morley, ex-ministro da Agricultura trabalhista e conselheiro de Brown, foi suspenso do partido depois de se ter descoberto que havia recebido 16 mil libras (18 223 euros) a título de reembolso do seu crédito imobiliário, ano e meio após ter saldado a dívida ao banco.



O mesmo abuso foi cometido por David Chaytor, outro deputado do Labour, que recebeu 13 mil libras por um empréstimo que já tinha liquidado. O político admitiu-se culpado e pediu desculpas por «um erro imperdoável», prometendo ressarcir o Estado.



Semelhante proeza custou o cargo de secretário de Estado da Justiça a Shahid Malik, obrigado a demitir-se, na sexta-feira, 15, após se saber que nos últimos três anos cobrou ao Estado 66.827 libras (75 mil euros) pelo aluguel da sua residência secundária em Londres, a qual lhe pertence desde 2001, antes das eleições.



Malik, que se fez ainda reembolsar pela compra, entre outros, de um sofá com massagem (730 libras), um televisor (2.100 libras) e uma lareira (671 libras), garante que as suas despesas estão conforme o regulamento.



Despesas superam salários



Em 2008, as despesas dos 646 deputados britânicos totalizaram 93 milhões de libras (104 milhões de euros), ou seja, 144 mil libras em média por deputado, montante que representa o dobro do seu salário anual que ronda os 65 mil euros.



O primeiro-ministro, Gordon Brown, já reconheceu a necessidade de “fazer uma limpeza completa do sistema político”. Na segunda-feira (18), o líder da Câmara dos Comuns, Michael Martin, pediu desculpas ao país pelos abusos cometidos, evitando responder aos que exigem a sua demissão.



As denúncias forçaram Martin a renunciar na terça-feira, tornando-se o primeiro líder do parlamento a deixar o cargo em mais de três séculos.



Por último, o chefe dos conservadores, David Cameron, apelou à convocação de eleições antecipadas, logo após as eleições europeias, considerando que o sistema político está paralisado devido ao escândalo.



Segundo uma pesquisa divulgada no final da semana passada, 64 por cento dos britânicos desejam a demissão dos deputados infratores e a convocação de eleições antecipadas.