Sem categoria

O papel da luta pela paz na disputa pelo desfecho da crise

Em entrevista ao Vermelho, a presidente do Cebrapaz (Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz) e do CMP (Conselho Mundial da Paz), Socorro Gomes, fala sobre os desafios da 2º Assembléia Nacional do Cebrapaz — a se r

Passados cinco anos da fundação do Cebrapaz (10 de dezembro de 2004), qual é o balanço que você faz da atuação da entidade?


 


Socorro Gomes: O Cebrapaz teve uma atuação intensa nesse período. Participou com solidariedade na luta contra as guerras: a invasão americana do Iraque, o genocídio do Estado de Israel ao povo palestino e outras campanhas de diversos povos do mundo. Realizamos o julgamento de George W. Bush (ex-presidente dos EUA) pela prática de crimes contra a humanidade. Continuamos combatendo as bases militares estrangeiras em países soberanos. A principal campanha da entidade no momento é contra a reativação da Quarta Frota* dos EUA no sul do nosso continente. A iniciativa busca intimidar e espionar o processo de integração que ocorre entre os países latinos americanos. Certamente ela veio com a intenção de barrar esse processo, impedir o avanço dos povos e nações da região pela construção de caminhos alternativos, soberanos e antiimperialistas.


 


A 2º Assembléia tem quatro eixos: solidariedade aos povos e a luta pela paz; Integração Latino Americana; Combate à Quarta Frota e a Cultura da Paz. O que levou a escolha desses quatro eixos? Qual a importância dessas bandeiras para o movimento de solidariedade brasileiro?


 


Socorro Gomes: A solidariedade é essencial. É obrigação de povos, militantes e pessoas prestar solidariedade aos países ocupados e invadidos, como é o caso da Palestina, do Iraque, do Afeganistão. O único objetivo dessas invasões é saquear e se apropriar de territórios e seus recursos naturais. É através da solidariedade que fortalecemos a corrente pela paz. Para conquistá-la, sabemos que precisamos remover os autores da guerra, derrotar o imperialismo. A integração dos povos é um instrumento fundamental para isso. O Mercosul, a Unasul, a Alba (Alternativa Bolivariana para as Américas), o Conselho de Segurança da Região Sul são exemplos de instrumentos de integração. É necessário desenvolver a consciência da necessidade da paz. A guerra é uma ameaça à existência da humanidade, à cultura da paz. Entendemos que a consolidação do Cebrapaz passa por esses eixos por seu dever. Eles fazem parte da Carta de Princípios fundadora da entidade.


 


A população ainda não sabe muito sobre a reativação da Quarta Frota, mote da mobilização da 2º Assembléia. Como o Cebrapaz pretende ampliar a identidade dessa bandeira com a sociedade brasileira?


 


Socorro Gomes: O Brasil, que já é rico em biodiversidade, recursos minerais e água potável, recentemente descobriu petróleo na área conhecida como pré-sal. Faz parte da estratégia americana o controle dos recursos naturais mundiais. Já são 835 bases militares espalhadas pelo mundo. Queremos os desmantelamento dessas bases, em especial a que está aqui, a Quarta Frota, justamente porque ela é uma ameaça a essas conquistas. A Quarta Frota está aqui, entre outros motivos, para saquear as riquezas que são dos brasileiros. É uma questão de soberania. Para ampliar o conhecimento sobre essa ameaça, o Cebrapaz já realizou conferências e diversos debates. Com a 2º Assembléia, teremos a oportunidade de discutir o assunto aonde ele ainda não chegou. Além disso, estamos lançando um livro sobre o tema. No dia 24 de junho, véspera da realização da 2º Assembléia, faremos uma Conferência Magna sobre a Quarta Frota.


 


Vivemos um cenário de crise econômica, guerras deflagradas ou apoiadas pelos EUA e resistência ao neoliberalismo na América Latina. Esses, entre outros, fatores indicam grandes mudanças no quadro político do mundo?


 


Socorro Gomes: Em todas as grandes crises do capitalismo, o imperialismo sempre busca saídas que indicam mais exploração dos trabalhadores e avanço contra a soberania dos países. Até agora os especialistas do sistema apontam como saída para a crise a concentração do poder econômico. Várias fusões entre grandes empresas estão em curso. A “estatização” de instituições financeiras veio para salvar as empresas que estão falindo e garantir que elas estejam saudáveis para depois serem novamente entregues ao capital. Outras medidas são o desemprego, a destruição das conquistas sociais que foram objeto de luta por anos dos trabalhadores, como a precarização do trabalho. Tudo indica que os detentores do poder não estão tomando medidas para proteger o povo ou estabelecer uma nova ordem mundial. Ainda não podemos descartar a agudização dos conflitos e o próprio perigo da guerra. Diante desta realidade, aumenta a importância do fortalecimento da cultura da paz. Para nós, o essencial é que o mundo seja desmilatarizado, a Assembléia das Nações seja democrática e que cada país escolha de forma soberana o seu futuro. Só os povos em luta, a elevação da consciência e a cultura pela paz levarão ao caminho da liberdade.


 


* A Quarta Frota foi criada em 1943 para patrulhar submarinos nazistas nas águas da região da América Latina, mas foi desativada em 1950. Após a descoberta do pré-sal, os EUA anunciaram em 2007 a reativação da Quarta Frota. Veja no quadro abaixo a localização das frotas militares dos EUA pelo mundo:


 



 


Leia também:


– Cebrapaz convoca sua 2º Assembléia Nacional para julho