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Roubini diz que crescimento do Brasil precisa se aproximar do Bric

O economista e professor da New York University Nouriel Roubini afirmou em São Paulo que o principal desafio para o Brasil é elevar o patamar médio de crescimento, que oscilou entre 4% e 5% nos últimos dois anos, para uma marca mais próxima do registra

Ao discursar por pouco mais de um hora no evento “Perspectivas da Economia Mundial – Visão Geral e os Impactos no Brasil”, promovido pela Serasa Experian, Roubini disse que o avanço do PIB potencial do país só será conquistado com alguns fatores: a ampliação dos investimentos em infra-estrutura, melhora da qualidade do sistema educacional nacional e reformas estruturais capazes de dar mais eficiência ao setor público e estimular as empresas a ampliarem a Formação Bruta de Capital Fixo, o principal elemento que gera empregos e melhora a renda da população.


 


Roubini defendeu a ação do Estado sobre a atividade das instituições financeiras em todo o planeta. “Os governos devem agir sobretudo para evitar o surgimento de desequilíbrios macroeconômicos”, comentou, acrescentando que isso também deveria ocorrer para coibir a expansão de bolhas de ativos financeiros. “O Brasil tem um grande potencial de expansão, uma quantidade extraordinária de recursos naturais, mas precisa elevar o PIB para um nível mais próximo do registrado pelas nações que fazem parte dos Brics”, comentou.


 


Roubini também falou da crise econômica global. Para ele, a recente recuperação nas praças acionárias pode não ser sustentável e novos choques vindos do sistema financeiro podem surgir. Segundo o economista, o rali que vem se desenvolvendo desde março pode não ter fundamentos sólidos para se sustentar e o mercado de ações pode embarcar em uma nova correção, com baixa de 25% a 30%. “A ideia de que estamos longe do perigo é frágil”, diz.


 


Ajuda do FMI


 


O economista lembra que, em 2001, a crise acabou em novembro, mas o mercado de ações caiu até março de 2003 justamente pela lentidão na retomada. “Hoje temos uma recessão estimada de 24 meses, que é global, tem pressão de deflação e sinaliza uma recuperação fraca, em 'U'. É mais severa”, afirma. Roubini acrescenta ainda que podem ocorrer novos “choques” no sistema financeiro global.


 


Com o desemprego em alta em várias economias, os problemas no setor bancário aparecerão novamente e serão maiores. “Muitas instituições financeiras importantes vão falir e metade dos hedge funds vai desaparecer”, prevê. Na opinião dele, a questão envolverá não só falta de liquidez no sistema, mas insolvência gerada por inadimplência. Redução de emprego e de consumo gera mais problemas de crédito, sobretudo nos Estados Unidos, economia altamente alavancada. “Não acredito que o consumo cresça de novo como antes”, diz.


 


Além disso, mesmo com ajuda do Fundo Monetário Internacional (FMI), muitos “emergentes” estão com o setor financeiro em apuros, lembra Roubini, citando que este foi o caso da Islândia e que há riscos semelhantes para Ucrânia, Hungria e Paquistão. Ele avalia que são economias grandes demais para serem sorridas por seus governos e, ao mesmo tempo, podem gerar um efeito dominó, contagioso, que ofereceria novos riscos sistêmicos. “A China e os Estados Unidos podem ser mais agressivos em suas políticas fiscais de estímulo econômico, mas na Europa, por exemplo, isso não é possível”, disse.


 


Pneumonia


 


Na avaliação de Roubini, a ajuda ao sistema bancário também está gerando “bancos zumbis”, que não são sustentáveis. “O certo no momento seria adotar a abordagem japonesa, com o governo assumindo o controle dos insolventes para separar ativos ruins de ativos bons e depois revender ao setor privado”, sugeriu. Segundo ele, a economia mundial ainda levará um bom tempo para se recuperar, devido aos desdobramentos da crise.


 


De acordo com sua avaliação, o desemprego nos Estados Unidos deve continuar crescendo, ultrapassando a taxa de 10%, o volume de crédito irá demorar para se normalizar e ainda teremos que esperar para que o valor dos imóveis dos EUA pare de cair. Hoje, cerca de metade das hipotecas no país valem mais do que o valor das casas. “O ajuste deve demorar. Os bancos continuam com ativos podres. Essa crise não é uma crise de confiança ou de liquidez. É uma crise causada pelo excesso de consumo e de dívida. É preciso que as pessoas aprendam a ter um padrão de vida compatível com seus ganhos”, analisa.


 


 “O que os EUA tiveram não foi um resfriado. Foi uma pneumonia. Representando 30% do PIB mundial, não tinha como não haver contaminação. Os países emergentes, que cresceram a um ritmo de 7% no ano passado, devem encerrar 2009 com crescimento de 2%. Este é o caso da América Latina”, disse o economista.


 


Com agências