É possível construir novas pontes na Conferência

Ontem à noite representantes do movimento social da comunicação, governo e os empresários do setor que restaram na comissão que está organizando a Conferência chegaram a um acordo para dar continuidade aos trabalhos.

Ficou acertado que a Conferência terá 1.500 delegados em nível nacional e que a representação será na proporção de 40% para os empresários, 40% para o movimento social e 20% para o governo.

Alcançar essa quantidade de delegados é uma vitória. No início, alguns representantes do setor empresarial falavam em uma Conferência para 300 em nível nacional. Por outro lado, não é uma derrota o fato de que os empresários terem essa super-representação.

Evidente que se trata de um exagero o fato de o empresariado ter direito a mesma quantidade de representantes que o resto do país. Mas, ao mesmo tempo, pela primeira vez esses empresários vão dialogar com o movimento social. E não tenho dúvida que o debate pode criar pontes do lado de cá com setores do lado de lá. E pode dividir ainda mais esse grupo que não é tão coeso como alguns imaginam.

O setor empresarial tem muitos interesses nessa conferência. E o mais interessante é que por mais que em algumas questões eles se fechem em copas, como no caso das concessões, em muitas outras as divergências são razoáveis.

Há a conhecida divergência entre as teles e as empresas de radiodifusão, mas há outras menos aparentes, como a dos critérios para distribuição de verbas publicitárias. O atual modelo só interessa os grandes grupos. Por isso, o movimento ainda incipiente de descentralização da publicidade federal foi considerado por um colunista da Folha como “bolsa-mídia do governo Lula”. Proprietários de jornais e rádios regionais podem ser aliados de avanços democratizantes nesse ponto.

Mas há algo ainda mais interessante e que não vem sendo debatido: quem são os empresários da comunicação?

Por exemplo, boa parte do conteúdo dos veículos de comunicação é produzido a partir do que chega das assessorias de imprensa. Esses empresários têm interesses numa conferência, quem vai representá-los? Ao mesmo tempo há uma imensidão de rádios e jornais regionais, como elas terão voz? E os veículos segmentados?

O movimento social tem que exigir a mesma transparência que vai ter na eleição dos seus delegados também na do setor empresarial.
Não se pode permitir que os delegados do campo empresarial sejam definidos numa reunião no Fasano, com três ou quatro caciques, como costumam fazer os tucanos quando vão escolher seus candidatos. A delegação de empresários tem de ao menos respeitar a diversidade regional, de meios e de porte das empresas. Garantir essa diversidade é mais importante do que lutar por 10% a mais de delegados da sociedade civil.

Em muitas ocasiões um mau acordo não é um retrocesso. Esse é um dos casos. Se os grandes empresários decidirem que não vão participar da Conferência (o que considero uma hipótese bastante provável) é preciso garantir que outros setores do empresariado participem. E ocupem esse espaço.

Isso pode permitir a construção de novas pontes, que podem abrir novos caminhos de democratização no setor.

Por Renato Rovai