Bahia faz lançamento da Frente pela Descriminalização do Aborto

Estado é o 17º a aderir à Frente Nacional de lutas contra a criminalização de mulheres e pela legalização do aborto. Manifesto será lançado em todo o país.

Tratar o aborto como questão de saúde pública e permitir, à mulher, total liberdade e autonomia sobre seu corpo e sexualidade são os pontos fundamentais do manifesto lançado na noite de segunda-feira (28/09), na Casa de Cultura da Câmara Municipal de Salvador. “A idéia é ampliar a base aliada. Quanto mais gente debatendo, mais poderemos influir para um processo de mudança no Legislativo”, convocou a integrante da Frente Nacional, Gilberta Soares.

Formada por diversas organizações de mulheres, tanto do movimento autônomo, como de partidos, sindicatos, conselhos de representações profissionais e ONGs, a Frente foi lançada há exato um ano, em São Paulo, em ato político no Ministério Público. A capital paulista também irá sediar a Assembléia Nacional da Frente, em dezembro, quando, numa articulação com os demais estados filiados e as respectivas bancadas parlamentares, será elaborado o documento final a ser enviado à Brasília, para pressionar o Legislativo pelo direito ao aborto legal e seguro.

“Além de representar uma ameaça à vida das mulheres e à sua liberdade, o aborto ilegal representa um alto custo para o sistema de saúde, porque as mulheres chegam ao hospital tendo praticado o aborto inseguro e, portanto, precisando de internação. Onde o aborto é legal, esse internamento não é necessário”, explica a integrante da Rede Feminista de Saúde e do Instituto Mulheres pela Atenção Integral à Saúde, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos – IMAIS, Lena Souza. O aborto inseguro, inclusive, é a principal causa isolada de morte materna em Salvador; e as mulheres negras são a principal vítima, liderando as estatísticas com número três vezes maior de óbitos.

A incidência é ainda maior quando o recorte abrange as jovens negras. Para a secretária estadual de Juventude do PCdoB e integrante da União Brasileira de Mulheres – UBM, Danielle Costa, faltam políticas que girem em torno da prevenção e orientem os jovens quanto aos métodos contraceptivos e planejamento familiar. “É preciso entender que a realidade do nosso país é de muita desigualdade, o que leva o jovem, às vezes por falta de informação, a incorrer numa gravidez indesejada e, o que é pior, conviver com a clandestinidade do aborto, porque não tem condições econômicas para recorrer a clínicas especializadas”, apontou.

Opinião compartilhada pela vereadora e enfermeira por formação, Aladilce Souza, que defende a adoção de políticas de educação sexual a todas as mulheres em idade fértil e, na hipótese de aborto, a garantia de que seja feito em condições seguras. “O caminho de uma jovem da periferia é diferente por conta da sua realidade sócio-econômica; então cabe ao Estado assumir a responsabilidade de direcionar por outras políticas, que assegurem a vida e não à morte dessas jovens. Descriminalizar o aborto e assegurar que ele seja realizado nas condições indicadas é estar lutando em favor da vida das mulheres”, completou.

De Salvador,
Camila Jasmin