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Pentágono tem sangue nas mãos do massacre de Forte Hood

Os oficiais estrelados do Pentágono e as notícias e interpretações veiculadas pelas mídias corporativas sobre o massacre ocorrido na base militar de Forte Hood, no Texas, omitem a questão fundamental. Mais do que uma aberração, a morte dos soldados e oficiais é parte dos últimos oito anos de guerras brutais de conquista e ocupação que a máquina de guerra imperialista estadunidense conduziu contra os povos do Iraque, Afeganistão e agora do Paquistão.

Por John Catalinotto*, para o Workers World

A morte em 6 de novembro por fogo amigo de sete militares e políciais afegãos pelas tropas da Otan; a queda de helicóptero que matou dez militares dos EUA uma semana antes; o bombardeio que matou uma centena de afegãos – na sua maioria civis – no início de setembro e que foi solicitado por oficiais alemães; os bombardeios nos arredores de Bagdá e no mercado de Peshawar são todos eles parte das atrocidades diárias trazidas pelos EUA aos países ocupados.

A grande diferença é que o último massacre trouxe a guerra para casa.

A responsabilidade por estas mortes é dos líderes militares e civis americanos que conspiraram para a escalada agressiva que se seguiu ao 11 de setembro, e que agora continuam a carnificina. A conclusão é simples e óbvia: tirem as tropas destes três países o mais rápido possível.

Ao examinarem um acontecimento terrível como este, as forças progressistas devem manter-se atentas, procurarem fontes independentes e prepararem-se para confrontar as mentiras espalhadas pelos que estão no poder. O Pentágono e a mídia corporativa usam o monopólio da informação para distorcer os eventos, com a finalidade de atingir objetivos políticos. Pode acontecer de criarem bodes expiatórios ou até mesmo criminalizarem a comunidade muçulmana.

Lembrem da campanha anti-muçulmana desatada após o 11 de Setembro, usada pela a administração Bush para criar clima favorável às invasões do Afeganistão e Iraque.

A versão divulgada no dia 8 de novembro diz que um psiquiatra do exército, o major Nidal Malik Hassan, tomou algumas armas de mão e disparou contra 40 pessoas que estavam em um dos terminais que abrigam soldados em trânsito para zonas de guerra. Treze morreram. Outros 40, incluindo o próprio Hassan, que foi atingido por uma policiail, encontram-se em estado grave.

De acordo com informações recolhidas posteriormente, entre as quais entrevistas com familiares de Hassan, o major estava atormentado porque tinha sido recentemente mobilizado para o Afeganistão. Nascido em 1970, nos EUA, Hassan alistou-se voluntariamente no exército, tendo sido assediado anos depois por ser muçulmano, especialmente depois dos ataques de 11 de Setembro. Os pais de Hassan são da Cisjordânia e expressaram simpatia pelos mortos e feridos no ataque no Forte.

Um excelente artigo escrito pelo repórter independente Dahr Jamail, que cobriu a invasão e ocupação do Iraque e depois fez muitos artigos sobre os militares dissidentes dos EUA, disse ter visto sérias contradições nos fatos relatados oficialmente sobre o caso. Jamail também falou da generalizada desilusão dos soldados em relação à guerra no Afeganistão, mesmo entre aqueles que apoiam incondicionalmente os Estados Unidos.

Até o dia 8 de novembro, o Pentágono mantinha a versão de que o tiroteio foi "evento isolado", provavelmente ocorrido a um desequilíbrio mental momentâneo de Hassan. Sem especular sobre os motivos do atirador, é no entanto óbvio que o massacre acontece dentro de um contexto político. O massacre aconteceu em um dos centros nervosos de uma guerra brutal, sangrenta e cada vez mais impopular. Ocorreu ao mesmo tempo que os desejos dos palestinos pelo estabelecimento de um Estado haviam sido novamente esmagados. E ao mesmo tempo em que o FBI executava um líder religioso muçulmano no Estado de Michigan.

É difícil prever que efeito terá o tiroteio no desenrolar da guerra, mas essa notícia tem sido o centro das atenções da mídia nesta semana.

Os soldados dos Estados Unidos, a maioria deles alistados porque não havia trabalho civil razoável para que fizessem — e nestes dias de crise não existem trabalhos razoáveis em parte alguma — estão procurando por alguma saída para não ir à guerra, mesmo que tenham sido ordenados a retornar duas ou três vezes ao combate nos países ocupados.

O movimento progressista precis encontrar uma forma de unir essa luta por trabalho em condições decentes à luta contra essas guerras de agressão, para que a juventude dos EUA tenham uma chance de evitarem converter-se em ferramenta de opressão mundial.

Mas o mais urgente, nesse momento, é resistir à campanha de criminalização da comunidade muçulmana nos EUA. Esta comunidade necessita de todas as manifestações de solidariedade.

Deve ser igualmente claro para todos que se um oficial do exército dos EUA, nascido em território norte-americano, é capaz de, por pressão da guerra, atirar em uma tropa de militares americanos, é tolice alguém esperar que os afegãos, os paquistaneses ou os iraquianos recebam de braços abertos os ocupantes norte-americanos. Eles resistirão até expulsar completamente os ocupantes.

E, no interior do exército norte-americano, o que se manifestou como "um ato isolado" envolvendo um indivíduo "desequilibrado", tem todo o potencial de se tornar uma resistência em massa à incorporação nos combates.

*É editor do jornal americano Workers World.