Música, poesia e protesto na celebração da Consciência Negra

Poesia e música marcaram a festa promovida pela União Brasileira de Mulheres (UBM) e a União de Negros pela Igualdade (Unegro) para celebrar a passagem do Dia Nacional da Consciência Negra, no último dia 20 de novembro (sexta-feira), na Praça de São Pedro, centro do Recife. O evento homenageou também quatro mulheres de Pernambuco que se destacam na luta pela igualdade racial e de gênero no Estado: Luciana Santos, Inaldete Pinheiro, Rejane Pereira e Sandra Rodrigues (in memorian).

luciana santos

Ao agradecer a homenagem, Luciana Santos destacou o papel dos negros e negras na construção da história do Brasil. “Penso que mais do que nunca estamos vivendo um momento de muita afirmação da nossa história, de nossos principais legados, que contam a história de homens e mulheres oprimidos deste País, que muitas vezes não estão nas páginas dos livros da História oficial. Mas, foram essas pessoas que escreveram a história do Brasil e transformaram a realidade do povo brasileiro”.

Luciana destacou ainda que o País tem uma dívida histórica com a população negra. “Nós tivemos 300 anos de escravidão negra e precisamos construir políticas públicas afirmativas que possam resgatar essa dívida e incluir aqueles que ainda hoje sofrem as conseqüências de séculos de exclusão”, afirmou.

Outra homenageada, Inaldete Pinheiro lembrou seus 30 anos de luta organizada pelos direitos dos negros, destacando o prazer de fazer esse percurso junto com outros companheiros. “Cedo tomei consciência do que é ser negro no Brasil. Espero que não demore muito o dia em que não será mais preciso reivindicar os direitos que nos tiraram”, afirmou.

Para Rejane Pereira ser negro e negra é, acima de tudo, uma identidade política, destacando que pouca coisa foi feita pela população negra após a senzala. Ao receber a homenagem póstuma a Sandra Rodrigues, Sonia Lima destacou o lado forte e guerreiro da homenageada que “desafiou o preconceito e a desigualdade social.

Para a coordenadora estadual da UBM, Márcia Ramos, a discriminação racial continua a ser uma grave violação dos direitos humanos em nosso país. “Buscamos, com essa comemoração, dar visibilidade ao tema para erradicar as práticas discriminatórias e superar a profunda desigualdade a qual está mergulhada uma grande parcela da população. Mas não podemos ficar apenas na questão racial, é preciso fazer um recorte para destacar a dupla opressão existente pelo fato de ser mulher e negra”, afirmou, destacando que o evento também se constituia em um momento de denúncia e de protesto.

A festa contou com a participação do Maracatu Nação Maracambuco e integrou a programação da Prefeitura da Cidade do Recife (PCR) e de diversas entidades e organizações do movimento negro e de mulheres da cidade para a data. O evento contou ainda com o apoio da Secretaria de Cultura da PCR, Núcleo de Cultura Afro, Secretaria de Patrimônio e Cultura de Olinda, ONG Cidadania Feminina e do Centro de Mulheres do Ribeirão.

HOMENAGEADAS – Luciana Santos sempre lutou contra todas as formas de opressão. Peça chave na fundação da UBM em Pernambuco, entre 2001 e 2008, durante sua gestão à frente da Prefeitura de Olinda, criou a Coordenadoria e a Ouvidoria da Mulher, o Centro de Referência da Mulher (CRM) e a Coordenadoria de Negros e Negras. É vice-presidente do Comitê Nacional do PCdoB.

Natural do Rio Grande do Norte, Inaldete Pinheiro é defensora do meio ambiente e da preservação dos baobás é ativista do movimento negro e fundadora do MNU-Movimento Negro Unificado. Construiu uma trajetória própria, marcada pela determinação em vencer o preconceito.

Rejane Pereira é historiadora, especialista em políticas públicas e em cooperativismo e associativismo. Integra o Fórum de Mulheres de Pernambuco, a Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB), a Articulação de Mulheres Negras de Pernambuco, o Conselho Municipal da mulher e o Conselho Estadual de Políticas para as Mulheres.

Durante toda a vida, Sandra Rodrigues se insurgiu contra o preconceito racial e trabalhou em prol das mulheres e dos mais pobres. Sandra deixou uma lacuna na vida da cidade de Ribeirão e é, acima de tudo, um exemplo para as mulheres pernambucanas que lutam e que erguem a voz em defesa das liberdades.

Fonte: site do vereador Luciano Siqueira