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RS: Atos do 8 de março iniciam com luta pela terra

Dezenas de mulheres da Via Campesina, do Movimento de Trabalhadores Desempregados (MTD) e movimentos sindicais ocuparam, nesta quarta-feira (3/3), os dois andares da Delegacia do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) em Porto Alegre (RS). O Ministério foi ocupado em protesto contra a política de desenvolvimento agrário do governo federal e marca o início das mobilizações do Dia Internacional da Mulher no estado.


- Leandro Silva

Segundo documentos do movimento, o modelo de agricultura vigente no Brasil resulta em doenças para os produtores e consumidores e grandes prejuízos ambientais. As mulheres denunciam que mais de 95% da soja e cerca de 40% do milho que são plantados no Rio Grande do Sul são geneticamente modificados e que o Brasil é o campeão mundial de uso de agrotóxicos. Por isso, “a maior parte da comida que chega à mesa da população brasileira não é alimento, é veneno”, declaram as manifestantes em nota.

Manifestações no interior e na região metropolitana

Cerca de 800 mulheres do campo e da cidade também realizam manifestação no município de Palmeira das Missões. Na cidade, as mulheres bloqueiam a rodovia RS 569, entre os municípios de Palmeira das Missões e Novo Barreiro, em frente ao acampamento de Sem Terra. Elas protestam contra a lentidão do processo de Reforma Agrária no país. Depois disso, as trabalhadoras realizam uma marcha no centro de Palmeira das Missões para reivindicar o combate a violência contra a mulher.

Os portões de entrada da empresa Solae em Esteio, região metropolitana de Porto Alegre, também foram ocupados por cerca de 800 mulheres. Com esta ação, as trabalhadoras querem chamar atenção para o tipo de alimentos que o agronegócio produz.

A empresa Solae é fruto de uma parceria entre duas grandes multinacionais do agronegócio a Du Pont e a Bunge. Esta fábrica em Esteio é um dos maiores complexos de processamento de soja transgênica do Brasil. Com este protesto as mulheres denunciam que o agronegócio não serve para alimentar o povo brasileiro porque só oferece produtos trangênicos cultivados com muitos agrotóxicos, que provocam doenças nos produtores e consumidores e grandes prejuízos ambientais.

Durante a manifestação, as mulheres simbolicamente amamentam esqueletos para denunciar que os efeitos nocivos dos agrotóxicos e dos transgênicos são transmitidos de geração para geração e uma das formas de transmissão é pelo leite materno. “Quando comemos comida envenenada e damos o peito aos nossos filhos ao invés de alimentarmos a vida transmitimos a morte. No entanto, o mesmo governo que faz campanhas para incentivar as mulheres a amamentar, financia o agronegócio que produz a comida envenenada para o povo pobre, contaminando o leite da maioria das mães brasileiras”, alerta a nota das manifestantes.

Esta ação em Esteio marca o inicio da jornada de lutas do 8 de março no Rio Grande do Sul. Em 2010, celebra-se o centenário do 8 de março como dia internacional de luta das mulheres. A data foi proposta por Clara Zetkin, comunista e feminista alemã, no 2º Congresso de Mulheres Socialistas, em 1910.

Leia abaixo o manifesto divulgado pelas trabalhadoras

Mulheres do campo e da cidade unidas na luta contra o agronegócio e pela soberania alimentar

Neste mês em que se comemoram os 100 anos do 8 de março como dia internacional de luta das mulheres, nós trabalhadoras do campo e da cidade do Rio Grande do Sul estamos novamente nas ruas. Este ano nossa mobilização tem como principal objetivo denunciar para a sociedade que a maior parte da comida que chega a mesa da população brasileira não é alimento, é veneno.

O Brasil é campeão mundial do uso de agrotóxicos, que são venenos muito perigosos usados na agricultura que provocam muitas doenças para produtoras/es e consumidoras/es e grandes impactos ambientais. Além disso, a maior parte dos produtos industriais que comemos é fabricada com soja transgênica que também causa muito mal à nossa saúde.

E quem come esta comida envenenada? Somos nós, pobres. São as mulheres e homens trabalhadores que recebem baixos salários ou estão desempregados e escolhem os alimentos pelo preço não pela qualidade. São as pessoas sem terra, sem teto, que se alimentam graças às cestas básicas. Os ricos têm opção de comer produtos orgânicos, cultivados sem venenos.

Os agrotóxicos e os transgênicos não servem para matar a fome do povo, e sim para matar a fome de lucro das empresas do agronegócio, a maioria delas multinacionais. Esses produtos envenenam as terras, as águas e principalmente as pessoas.

Leite materno só é fonte de vida quando as mães comem alimentos saudáveis

Nesta mobilização estamos amamentando esqueletos para denunciar a população em geral, e principalmente às mulheres, que quando comemos comida envenenada e damos o peito aos nossos filhos ao invés de alimentarmos a vida transmitimos a morte.

As doenças causadas por agrotóxicos são transmitidas de geração para geração, e um dos modos de transmissão é através do leite materno. No entanto, o mesmo governo que faz campanhas para incentivar as mulheres a amamentar, financia o agronegócio que produz a comida envenenada para o povo pobre, contaminando o leite da maioria das mães brasileiras.

A gente não quer só comida

Nós mulheres que passamos boa parte de nossas vidas envolvidas no cultivo e/ou no preparo da comida para garantir saúde à nossa família estamos nas ruas para gritar em alto e bom som que gente não quer só comida, a gente quer alimento saudável, a gente quer soberania alimentar!

Para o agronegócio o lucro está acima da vida. O agronegócio faz mal a saúde do povo e do meio ambiente! E os governos estadual e federal que financiam o agronegócio estão usando o dinheiro público para bancar o envenenamento da população pobre, a contaminação de nossas terras e águas.

Estamos em luta contra

Contra o agronegócio, um modelo de produção agrícola que se sustenta na superexploração do trabalho das pessoas, na contaminação dos alimentos, na destruição de nossas riquezas naturais. Lutamos contra o uso de recursos públicos para financiar a contaminação do povo e do meio ambiente; Estamos em luta contra todas as formas de violência contra mulheres, incluindo a imposição de um padrão alimentar que não respeita os costumes alimentares e causa muitos males à saúde.

Estamos em luta por

Soberania Alimentar – com reforma agrária, com geração de emprego e vida digna para as populações camponesas, com agricultura ecológica que respeita a diversidade de biomas e de hábitos alimentares. Os governos se dizem preocupados com a segurança alimentar, querem que as pessoas tenham várias refeições por dia. Mas tão importante quanto a quantidade da comida é a qualidade do que comemos. Por isso não basta segurança alimentar, precisamos construir a Soberania Alimentar.

Mulheres da Via Campesina, do MTD, da Intersindical e do coletivo de mulheres da UFRGS.

Da redação, com MST