Entrevista: Adilson Araújo, presidente da CTB-BA

“É imprescindível que os trabalhadores saibam a importância da unidade e da solidariedade. Para nós da CTB, construir esta unidade é estratégico para evitar que o retrocesso de direita seja possível”. Esta é uma das idéias defendidas pelo presidente da seção Bahia da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Adilson Araújo, em entrevista ao Vermelho Bahia para falar do 1º de Maio. Confira a conversa:

Vermelho: Qual a expectativa da CTB Bahia para o 1º de Maio?

Adilson Araújo: A CTB está muito otimista com a realização do 1º de Maio, não apenas em Salvador, mas em diversas regiões da Bahia. Para nós é fundamental a construção da unidade. Através dos esforços da CTB, vamos realizar um ato unificado em Salvador com a Nova Central Sindical e a Central Geral dos Trabalhadores do Brasil. A festa vai contar com a presença de artistas locais e nacionais. Além disso, haverá espaço para recreação infantil e um ato político com as representações da sociedade. Vai ser um dia rico, em que vamos levar as bandeiras do desenvolvimento nacional, com o enfoque central na valorização do trabalho e, em especial, da redução da jornada de trabalho sem redução do salário, que vai proporcionar a criação de mais de 2 milhões de novos empregos no país.

Vamos também comemorar os 70 anos da criação do salário mínimo. Evidente que o salário mínimo não corresponde à realidade para o qual foi proposto em sua criação. Se ele fosse atualizado, segundo estudos do Dieese em 2009, ele seria de R$ 1.995, 91. Mas nós acreditamos que acumulamos forças e a política que vem sendo desenvolvida pelo governo, a partir da agenda positiva apresentada pelas centrais sindicais, vem mobilizando o Brasil em torno de um projeto de valorização do salário mínimo.

Por fim, a CTB estará presente em diversas cidades em que será celebrado o 1º de Maio. Em Camaçari nós estamos fazendo uma atividade conjunta com a CUT. Em diversas regiões do estado, a CTB estará presente com a sua identidade, fisionomia e cara própria. Estaremos realizando o 1º de Maio em Juazeiro, Ilhéus, Feira de Santana, Itabuna, Varzedo, Vitória da Conquista e Amargosa.

V – O que levou a CTB a mudar o local da festa do 1º de Maio em Salvador. Saindo do Centro para Itapuã?

AA – Nós buscamos descongestionar o Centro da cidade, já que a maior parte das celebrações acontece nesta área. Primeiro nós procuramos as centrais para fazer uma festa unitária, mas não foi possível. A única festa que reúne mais de uma central é a organizada pela CTB, que reúne também a Nova Central e a CGTB.

O Abaeté foi escolhido também pela questão da sustentabilidade ambiental. Vamos aproveitar a data para lançar esta campanha. Vamos prestar uma homenagem também ao ambientalista Antonio Reis, presidente da ONG Nativos de Itapuã, que foi assassinado em 2006 e até hoje o crime não foi solucionado. Este vai ser um passo importante para homenagear aqueles que lutam em defesa de melhores condições de vida e de uma sociedade mais justa. O Abaeté vai ser um ambiente propício para esta celebração.

V – Como está a tramitação do projeto sobre a redução da jornada de trabalho na Câmara Federal?

AA – Houve a aprovação do projeto na Comissão Especial sobre o tema na Câmara e as centrais sindicais, dialogando com o governo, realizaram um debate falando da importância de acelerar a aprovação em plenário. Há toda uma mobilização para pressionar para que a matéria seja votada, o que não nos assegura que ela será aprovada, pois há uma correlação de forças no Congresso Nacional. O momento é oportuno, haja vista a resposta que o Brasil deu para a crise e há também certa estabilidade, porque as empresas estão lucrando, vem dando bons resultados. Então está na hora do Brasil desenvolver uma política que possibilite a valorização do trabalhador. Aprovar a redução da jornada vem de encontro a esta necessidade. Até porque já estamos com uma defasagem muito grande em relação à maioria dos países da Europa, que já reduziram a jornada de trabalho. Muitos têm uma jornada abaixo de 40 horas. A última vez que discutimos a redução da jornada de trabalho no Brasil foi na Constituição de 1988. Então nós já passamos um tempo muito grande sem colocar o assunto em pauta.

Este é um assunto imprescindível, pois ao reduzir a jornada de trabalho, nós diminuímos a exploração no local de trabalho, melhoramos a condição de vida de cada trabalhador e trabalhadora, garantimos o tempo para que ele se dedique a sua qualificação profissional e ao estudo. Sem falar, que isso diminui o número de acidentes de trabalho, o estresse e a possibilidade de doenças ocupacionais. Então a bandeira da redução é imprescindível para um projeto de desenvolvimento de nação.

V – Quais os principais temas que serão discutidos na Conferência Nacional da Classe Trabalhadora?

AA – Na Conclat nós vamos definir a aprovação de um projeto de desenvolvimento nacional que tenha em sua centralidade a valorização do trabalho e a soberania. Com isso, vamos reivindicar a ratificação da Convenção 158 da OIT, que proíbe a demissão imotivada; vamos pedir o fim do fator previdenciário, que reduz até 40% da aposentadoria do trabalhador; o direito de igualdade de oportunidade entre homens e mulheres, pois há uma diferença muito grande tanto no que diz respeito à ocupação de cargos estratégicos, como na questão do salário. Vamos percorrer também o caminho para fortalecer cada vez mais o movimento sindical e caminhos para que o governo dê continuidade à política de valorização do salário mínimo. Assim teremos uma agenda positiva para contribuir, não apenas para assegurar direitos trabalhistas já conquistados, mas também garantir novas conquistas que possam melhorar a qualidade de vida de trabalhadores e trabalhadoras do nosso país.

V – Como estão os preparativos da CTB Bahia para a Conclat?

AA – As centrais sindicais decidiram em conjunto a realização de uma nova Conclat com a presença de 30 mil trabalhadores, que estarão reunidos no dia 1º de junho, no estádio do Pacaembu, em São Paulo. Na reunião da Executiva Nacional a CTB aprovou a meta de participar com cinco mil delegados. Daqui da Bahia, nós queremos levar 200 trabalhadores dos nossos sindicatos de base. Vamos levar as bandeiras da CTB Bahia para prestigiar este evento, que será um marco na história do movimento sindical. Será um momento especial para aqueles que puderam participar da Conclat em 1981, de ver isso repetido agora em uma conjuntura mais promissora, com uma nova perspectiva.

V – Como anda o processo de unificação das centrais e sindicatos em torno dos interesses da classe trabalhadora?

AA – A CTB nasceu a partir de um movimento unitário, plural, amplo e democrático. Para nós é imprescindível que os trabalhadores saibam a importância da unidade e da solidariedade. Não adianta jogar dividido. Os patrões têm as suas ferramentas, a sua organização e o seu objetivo, que é extrair o máximo de lucro das costas dos peões. Para nós, a unidade fortalece a nossa intervenção em defesa de uma plataforma de desenvolvimento que corresponda aos reais interesses da classe trabalhadora. Nós temos que fortalecer sempre a nossa organização e este é um princípio da CTB. Tanto em caráter nacional, como aqui na Bahia, nós fazemos sempre o esforço de dialogar com as centrais sindicais, de está realizando atos unitários, de está pautando o debate a cerca do fortalecimento do movimento sindical. Então para nós construir esta unidade é estratégico para evitar que o retrocesso de direita seja possível. Nós acreditamos que acumulando forças e criando as condições para influenciar no debate de projetos, nós teremos melhores condições de enfrentamento e evidentemente tiraremos mais dividendos desde processo.

De Salvador,
Eliane Costa