Entidades fazem manifesto pela cultura em Minas Gerais

Depois da grave notícia de que a Secretaria de Estado da Cultura (SEC) havia vetado o repasse de verbas para os programas Mais Cultura e Música Minas, ontem, dia 31 de maio, representantes de entidades do setor fizeram um protesto em frente ao Palácio das Artes, no centro da capital mineira.

Música Minas

Na semana passada, uma reunião foi convocada pelos representantes do Fórum da Música de Minas Gerais, que congrega cinco entidades representativas da categoria no Estado. O objetivo da reunião foi expor a situação e cobrar uma definição do poder público em relação à política cultural praticada no Estado.

Tudo começou com a interpretação que a Advocacia Geral do Estado (AGE) fez da norma baixada pelo Tribunal Superior Eleitoral que veta, em ano eleitoral, a destinação de recursos públicos para órgãos e entidades não governamentais. Ao acatar essa interpretação, a SEC travou o repasse de verbas para os programas de apoio à cultura em Minas.

Música Minas
O produtor musical George Cardoso, diz que “tivemos pela Primeira vez, uma política com recursos do estado para divulgar e exportar a música de Minas. O Música Minas proporcionou a circulação de 45 artistas mineiros pelo Brasil e pelo mundo. Um programa como esse, realizado pelo o Fórum da Música que é um modelo a ser seguido, não pode acabar por causa de uma leitura burocrática da AGE” afirma o produtor.

George fala que a descontinuidade do programa representa um enorme prejuízo para a divulgação da música mineira. “Vários artistas mineiros estão recebendo cartas-convites para participar de eventos musicais e não poderão comparecer devido ao bloqueio dos repasses que garantiriam os editais públicos de circulação e de passagens aos músicos. Todos perdemos com isso”.

As reivindicações dos artistas pedem a criação de um Conselho Estadual de Cultura com a participação da sociedade civil, o repasse de 1,5% do orçamento do Estado para a área da cultura – como recomenda a ONU e o governo federal –, além da manutenção e continuidade dos programas já existentes.

Leia abaixo a integra do manifesto.

Manifesto pela cultura em Minas Gerais

O acesso à Cultura é um direito previsto na Constituição Brasileira de 1988 e deve ser assegurado a todos os cidadãos pelo Estado Brasileiro. Além disso, os Direitos Culturais estão previstos expressamente na Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948, como fator de singularizarão da pessoa humana e compõe juntamente com os Pactos Internacionais de Direitos Civis e Políticos e de Direitos Econômicos Sociais e Culturais a Carta das Nações Unidas, da qual o Brasil é signatário com posição ratificada em 1992. Também é fundamental para o reconhecimento da cultura a Convenção da UNESCO de 2005 sobre a proteção e promoção da Diversidade das Expressões Culturais, ratificada pelo Brasil em 2006.

Para além do caráter simbólico e de sua importância para a formação da identidade brasileira, a cultura não pode ser ignorada como fator de desenvolvimento econômico gerador de emprego e renda. Acabamos de passar por uma crise financeira mundial no momento em que outra já se anuncia e o setor cultural foi um dos que mais demonstrou capacidade de reação e superação. Não é por acaso que é o setor da economia que mais cresce no mundo todo, de acordo com dados do Banco Mundial.

Diante da crise iminente do setor cultural no Estado de Minas Gerais com a descontinuidade de programas fundamentais como o Música Minas e os Pontos de Cultura, reivindicamos uma política pública formalizada e efetiva para a Cultura do Estado, com a formalização e a regulamentação adequada de forma a instituir essas ações como política de Estado e dotação orçamentária própria.

Reivindicamos a criação de uma Conselho Estadual de Cultura com participação paritária do governo e da sociedade civil organizada, por entendermos de fundamental importância para o estabelecimento de regras e condições para.a implantação de políticas públicas.

Minas é uma das grandes reservas culturais brasileiras, recurso natural não esgotável e em constante processo de renovação. O Estado é hoje a segunda maior economia do país, sendo responsável por 12% do PIB nacional. Entre as principais atividades destacam-se a agropecuária e a indústria siderúrgica. No ramo das exportações respondemos por 13% de tudo que vai para o exterior, com destaque para a exportação de ferro, aço e café.

A cultura ainda tem presença inexpressiva nesse cenário, embora possua um manancial simbólico referencial e um potencial enorme como produto sofisticado e arrojado. Para que essa potencialidade seja desenvolvida é necessário um investimento objetivo e focado nas ações que promovam a visibilidade e o reconhecimento.

De acordo com o “Sistema de Informações e Indicadores Culturais” (IBGE/MinC, 2006), o “setor cultural e criativo” respondia em 2003 por 5,7% dos empregos formais no país, 6,2% do número de empresas, 6% do valor adicionado geral e 4,4% das despesas médias das famílias. Estima-se que a participação no PIB brasileiro seja de mais de 5%.

Reivindicamos portanto o investimento de no mínimo 1,5 % do orçamento do Estado no setor cultural, como recomenda a Organização das Nações Unidas e em consonância com a Proposta de Emenda à Constituição, a PEC 150/2003 que eleva o patamar do orçamento da Cultura e já foi aprovada na Comissão Especial de Tramitação do Congresso Nacional.

Reivindicamos por fim um diálogo aberto e constante com a Secretaria de Estado de Cultura, através de representantes indicados pela sociedade civil para compor uma comissão provisória do setor cultural até a implantação definitiva do Conselho Estadual de Cultura.

Entidades do Setor Cultural de Minas Gerais

 

Da redação local