Orlando Duarte: 80 anos dos Mundiais de Futebol

É inegável que o futebol, disputado em 208 países, tem um destaque especial para a história dos esportes. E o Brasil é – para alegria nossa – uma força mundial respeitada

Por Orlando Duarte, especial para a Revista Princípios

O esporte sempre acompanhou o homem. A necessidade fez com que ele praticasse natação, arco e flecha, muitas lutas, e outros. Quando se descobre, no Egito, na Necrópole de Beni-Hassan, um mural de 1850 a.C. com figuras praticando uma luta em vários movimentos, fica mais do que provado que temos mais de 4 mil anos de esporte.

Há provas de arremessos, em 1830 a.C., e de salto em altura, em 1160 a.C., ambas na Irlanda. Na Noruega, existem vestígios dos primeiros esquiadores; na Rússia, dos primeiros remadores e pescadores. Em 1500 a.C., em Creta, praticava-se pugilismo. De 1300 a 800 a.C., já havia o jogo da pelota. Homero, em 1200 a.C., faz versos para relatar os Jogos Fúnebres, no Canto 23 da Ilíada, sua obra sobre a guerra de Troia, que se completa com a Odisseia. Teria sido ele o primeiro “repórter esportivo?”. Em 776 a.C., há os Jogos Olímpicos gregos com importância locar e regional, que depois passam a ser o próprio calendário, pois eram disputados de 4 em 4 anos. As primeiras “corridas de fundo”, com 4 mil metros, 164 centímetros e 50, são disputadas em 720 a.C. A luta e o pentatlo (corrida, disco, luta, salto em distância e dardo) estão nos Jogos de 708 a.C. Em 648 a.C. entra o pugilismo e em 632 a.C. ocorrem as competições para juniores (16 a 18 anos) e as corridas de quadrigas. Em 589 a.C., em Olímpia, o recordista dos Jogos é Teógenes, de Thasos, com 1.200 vitórias em competições.

A partir de 580 a.C. são instituídos prêmios em dinheiro aos campeões (tem início o profissionalismo). Os vencedores ganhavam 500 dracmas e também ânforas de óleo, de grande valor. Escravos e mulheres não podiam participar dos Jogos. Destes, outra figura importante, entre 532 a.C. e 516 a.C., foi Milon, de Crotone, com cinco títulos olímpicos e vários outros em competições paralelas do pugilismo. Ele só perdeu, com 45 anos, para Timasitheas, também de Crotone. Enquanto isso, na China, em 530 a.C. usava-se muito arco e flecha. De 75 d.C. a 83 d.C. o esporte ganhou mais destaque, e novas competições ocorreram na Grécia e em Roma.

As primeiras notícias sobre o alpinismo surgem em 1332 e 1492. Petrarca sobe o Monte Ventous e Antoine de Ville consegue escalar o Monte Aiguille, de 2092 m. Em 1635, Paris se apaixona pelo Jeu de Paume, o ancestral de Tênis. Para os historiadores, o polo hípico é persa, datando de 651. Na China, há o wan-chin, uma espécie de golfe. Em 754, cita-se o sumo praticado nos templos Shinto, e a arena circular surge em 1684 d.C. Joga-se, na Holanda de 1483, o Kolven, com duas equipes de quatro jogadores e distância de 4.500 m. O início do críquete é popular na Inglaterra de Henrique VIII, em 1520, sendo também populares o Jeu de Paume e a luta.

O “calcio fiorentino”, que pretende ser o “pai do futebol”, surge em 15 de fevereiro de 1448, na Praça Santa Croce, de Florença, com duas equipes, Brancos X Verdes, com mais de 25 jogadores cada uma, com defensores, passadores e corredores. O “calcio” atingiu o apogeu com os Médici. Em Roma era o “gioco del pallone” e, em Veneza, o “jogo do ponto”, os dois muito violentos.
Fala-se no esqui, em Finlândia e Suécia, em 1771. No Japão, a natação torna-se obrigatória, por decisão governamental, em 1603. O turfe é organizado na Inglaterra, e um Jóquei Clube é criado em 1750. O remo também começa a ser organizado na Inglaterra, em 1716, com uma prova de barco com seis remadores, para uma distância de 8.300 m, no rio Tâmisa. Surge, 113 anos depois, a competição Oxford x Cambridge, com barcos de oito remadores e distância pouco superior a 1.500 m.

E o futebol domina…

É inegável que o futebol, disputado em 208 países, tem um destaque especial para a história dos esportes. E o Brasil é – para alegria nossa – uma força mundial respeitada. A Copa do Mundo, criada em 1930 pela FIFA, portanto há 80 anos, tem sido a maneira de medir a capacidade técnica de cada país. O Brasil, com cinco títulos mundiais, presente em todas as disputas, tem impressionado pelo número de grandes craques revelados. Temos até um “rei”, o Pelé. Conseguimos realizar o torneio de 1950, o primeiro do “pós-Guerra” e para isso construímos o maior estádio do mundo, o Maracanã. Lástima que tenhamos perdido a final para o Uruguai. Como saldo ficou o prestígio mundial de nosso futebol e o Maracanã. Os torneios voltaram para a Europa, 1954 (Suíça), e em 1958 (Suécia). No primeiro, brilhou a Hungria, perdendo a final para a Alemanha e, no segundo, na Suécia, o Brasil brilhou intensamente. Uma conquista de craques como Nilton Santos, Gilmar, Zito, Didi, Garrincha, Pelé, Djalma Santos, Zagallo, Vavá, Dino Sani… O Brasil elogiado e respeitado. Na final, goleamos a dona da festa, Suécia, por 5 a 2. O Brasil parou para acompanhar, por rádio, a grande conquista. A chegada dos campeões foi uma festa inigualável. O país esquecia o fracasso de 1950 e mostrava seu novo futebol, repetindo no Chile, em 1962, o sucesso de 1958 e sendo “bi”. Garrincha, o “craque de pernas tortas”, foi a figura do torneio, com a contusão de Pelé. Depois ganhamos os títulos de 1970, no México, ficando com a posse definitiva do troféu Jules Rimet. Voltamos a ganhar em 1994, nos Estados Unidos e chegamos ao Penta, em 2002, na Ásia. Essas conquistas, em torneios mundiais, serviram para mostrar o brasileiro ao mundo e a ele mesmo.

Lucros de uma copa…

O Brasil promoverá a Copa do Mundo de 2014. Considero uma vitória e conquista desse direito. Muita gente questiona os custos de um projeto desses, porém a Copa sempre é lucrativa. Ganhamos a melhoria dos estádios, o mundo fala do Brasil, divulgando-o. Há o lucro financeiro também. O torneio gera empregos e obras importantes são realizadas, tudo para atender à competição. E essas obras ficam em aeroportos, metrôs, estádios e muito mais. Temos de caminhar juntos não só para ganhar o título, mas também para aumentar o prestígio do país no mundo.

Esporte – um grande embaixador

Sem querermos ser uma Esparta, cidade grega que cultuava a preparação física, e sem a pretensão de copiarmos Atenas, dedicada à cultura, temos de mesclar esporte com educação. O esporte tem sido um grande embaixador do Brasil. Lembremo-nos dos feitos de Fitipaldi, Senna, Gustavo Kuerten, Maria Esther Bueno, Eder Jofre, Pope, Maria Lenk, Cesar Cielo, Adhemar Ferreira da Silva, João do Pulo, Maureen Maggi, do voleibol, do basquetebol e de outras modalidades. E temos – o que é bom – de reconhecer o trabalho feito para o desenvolvimento nacional do esporte. Também temos de pensar em outro grande acontecimento esportivo que ocorrerá aqui, em 2016: os Jogos Olímpicos. Claro, não podemos pensar apenas em esporte competitivo. Temos de estimular a prática do esporte como lazer, fazendo com que todos entendam a importância da prática esportiva para a saúde. Como sempre disse: “um grande país se forja nos campos esportivos”!
Há muito para se falar de esporte e há muito o que fazer para dar condições a que todos os brasileiros entendam a sua importância.

Orlando Duarte é escritor, jornalista e historiador