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Brasilidade Revolucionária trata de esquerda e cultura no Brasil

A Editora Unesp acaba de lançar Brasilidade Revolucionária: Um Século de Cultura e Política. Nesta obra, Marcelo Ridenti apresenta o processo da constituição da esquerda comunista como uma força decisiva – senão hegemônica – no panorama cultural brasileiro. O ponto central de suas análises é a construção daquilo que chamou de brasilidade revolucionária. Diríamos mesmo que este foi o núcleo duro da ideologia da cultura brasileira entre os anos 1950 e 1960.

Intelectuais e artistas, a maior parte ligadas ao Partido Comunista, buscaram colocar sua produção a serviço da revolução brasileira, definida como nacional-democrática. Assim, produziram uma visão original sobre o que seja o povo e a nação brasileira. A força adquirida por esse pensamento levou que, a partir de década de 1970, fosse tentada sua incorporação à indústria cultural que se consolidava, especialmente a televisão. Essa ideologia passou a viver uma crise no final dos anos 1980, atingida pela onda pós-moderna e neoliberal. 

Leia abaixo o texto de apresentação a apresentação do livro:

A Brasilidade Revolucionária

Será que a brasilidade – ou a condição de ser brasileiro – teria como contribuir de modo significativo para a construção de uma nova civilização, onde poderíamos desenvolver nossas potencialidades, hoje contidas pelos limites da organização social, política, econômica e cultural existentes? Essa construção utópica, que remete aos anos 50 e 60, ganha novas cores diante da posição de destaque que o Brasil assume nas relações geopolíticas atuais.

Mas o que seria esta tal brasilidade revolucionária, título provocativo escolhido por Marcelo Ridenti? O termo se refere a uma vertente específica de construção da brasilidade, aquela identificada com ideias, partidos e movimentos de esquerda – e presente também de modo expressivo em obras e movimentos artísticos. Criação coletiva por meio da qual se compartilhava o sentimento de que estava em andamento uma revolução, em cujo devir artistas e intelectuais teriam um papel expressivo pela necessidade de conhecer o Brasil e de aproximar-se de seu povo.

Tratava-se de uma aposta nas possibilidades da revolução brasileira, nacional-democrática ou socialista, que permitiria realizar as potencialidades de um povo e de uma nação. Tema polêmico, tanto em seus aspectos artísticos e intelectuais como nos mais especificamente políticos, essa brasilidade é herdeira de lutas sociais diversificadas que geraram amálgamas e rupturas entre o anarquismo, o positivismo, o tenentismo, o comunismo e outras inspirações.
De Everardo Dias, que no começo do século passado expressava o sentimento de brasilidade revolucionária nascente, às relações entre o mercado e o pensamento de esquerda nos anos 80, revisita-se a trajetória de artistas e intelectuais que colaboraram para estabelecer uma certa intelligentsia brasileira de esquerda ao longo do século XX. No momento em que a brasilidade tem sido retomada em versões de consumo fácil, para vender mercadorias do Brasil no mundo todo, o percurso traçado por Ridenti é provocativo ao resgatar a imagem do Brasil fundador de uma verdadeira civilização tropical.

Ao percorrer a trajetória de artistas e intelectuais que colaboraram para estabelecer uma certa intelligentsia brasileira de esquerda ao longo do século XX, Marcelo Ridenti resgata a imagem do país como fundador de uma verdadeira civilização tropical. Tal visão utópica, que contrasta com a brasilidade que tem sido retomada em versões de consumo fácil, seria uma aposta nas possibilidades da revolução brasileira, nacional-democrática ou socialista, que permitiria realizar as potencialidades de um povo e de uma nação.

Marcelo Ridenti é Professor Titular de Sociologia na Unicamp e pesquisador do CNPq. Autor de Em busca do povo brasileiro: artistas da revolução, do CPC à era da TV (Record, 2000), O fantasma da revolução brasileira (Ed. Unesp , 2ª. ed. revista e ampliada, 2010), entre outros livros. Organizador de obras como História do Marxismo no Brasil, vol. 6, Partidos e movimentos após os anos 1960 (Ed. Unicamp, 2007, em parceria com Daniel Aarão Reis), e Intelectuais e Estado (Ed. UFMG, 2006, em parceria com Elide Rugai Bastos e Denis Rolland).