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Ban Ki-moon teria renegado acordo secreto com Israel

Quando Israel aceitou que um painel da Organização das Nações Unidas (ONU) investigasse seu ataque de maio a uma flotilha que transportava ajuda humanitária para Gaza, especulou-se que o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, havia feito concessões a portas fechadas.

Por Thalif Deen, na agência IPS

Ao ser consultado a respeito em entrevista coletiva, no dia 9, se havia concordado com um convênio secreto para que o painel não interrogasse membros das forças de segurança israelenses acusadas de matar nove civis turcos a bordo, com dificuldade Ban evitou responder. Quando deliberadamente se insistiu no assunto, assegurou: "Não, não houve um acordo assim nos bastidores".

Agora, o governo de Israel, em rápida reação às suas declarações, ameaçou retirar seu apoio ao painel da ONU. O porta-voz do governo em Tel Aviv, Mark Regev, anunciou que seu país não cooperaria nem participaria de "um painel que exigisse investigar soldados de Israel". Porém, não confirmou nem negou se houve um acordo secreto ou um entendimento para que não fossem ouvidos os militares israelenses.

Nir Hefetz, porta-voz do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, foi igualmente desafiador quando disse que seu país não cooperaria com nenhum painel que fizesse perguntas aos seus soldados. "Antes de dar luz verde à participação no painel, realizamos negociações discretas para garantir que esta comissão não prejudicará interesses vitais" de Israel, afirmou.

Um jornal londrino citou funcionários israelenses dizendo que Ban renegara um "acordo secreto" pelo qual Tel Aviv aceitava cooperar com o painel desde que não se questionasse nenhum membro de suas forças de segurança. A um painel próprio de Israel tampouco foi permitido ouvir os soldados que atacaram a flotilha.

Consultado sobre as declarações desencontradas sobre os termos da investigação, o porta-voz do secretário-geral, Martin Nesirky, disse aos jornalistas que revelar o mandato de um painel "não é uma prática comum". Em resposta a outra pergunta, disse que essa comissão não tem poderes para citar testemunhas. "Não é uma investigação penal, e não se busca responsabilidades penais. Depende do painel como trabalhar e o que solicitar", acrescentou.

No dia 10, reuniram-se formalmente pela primeira vez os integrantes do painel: seu presidente Geoffrey Palmer, ex-primeiro-ministro da Nova Zelândia, seu vice-presidente Álvaro Uribe, ex-presidente da Colômbia, Joseph Ciechanover, ex-diretor-geral da Chancelaria israelense, e o diplomata turco Ozdem Sanberk. A reunião aconteceu na sede da ONU, após uma sessão de fotos com Ban Ki-moon.

O painel foi criado por ordem presidencial do Conselho de Segurança no final de maio, aceitando proposta do secretário-geral sobre a necessidade de "uma pronta, imparcial, confiável e transparente investigação segundo os padrões internacionais". Ao falar com os jornalistas, Ban afirmou que "este é um painel de investigação sem precedentes, criado por minha iniciativa, com a intenção de garantir responsabilidade, o que é muito importante".

Ban Ki-moon destacou a necessidade, não só de se conhecer os fatos e as circunstâncias do ataque à flotilha, como também de garantir que esse tipo de tragédia não volte a ocorrer. Além disso, afirmou que a principal tarefa dos integrantes do painel é revisar e examinar as respectivas investigações nacionais, bem como agir como ligação com autoridades locais.

"E qualquer coisa que precise além disso, terão que discutir entre si, em estreita coordenação com as autoridades dos governos nacionais para que possam dar seus próprios passos", disse Ban, acrescentando que o painel o informará "dos fatos e das circunstâncias, bem como do contexto do incidente".

O secretário-geral negou que a escolha de Uribe como vice-presidente do painel, apesar de suas longas disputas diplomáticas com Equador e Venezuela e da situação dos direitos humanos na Colômbia, afetará a credibilidade da investigação. "Primeiro, lembro a vocês que as relações bilaterais entre Venezuela e Equador ou outros países não têm muito a ver com o caso específico do painel", disse Ban.

"Contudo, creio que, conhecendo-o como líder da Colômbia em minha capacidade de secretário-geral, tenho plena confiança de que será uma boa aquisição e dará uma boa contribuição a este organismo", ressaltou. "Foi com base nisto que tomei minha decisão", declarou Ban.

Fonte: Envolverde