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A repressão da PM e dos patrões em tempos de democracia

O soldado da PM Ítalo sacou uma arma para manifestantes que tentavam lavar as escadarias da Prefeitura Municipal de Salvador (BA) em ato da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) contra a corrupção. Em São Caetano do Sul (SP), a CTB denuncia a suspensão, pela GM, de sindicalista, pela realização de uma assembleia de 20 minutos. À media que os movimentos sociais se articulam e a democracia no país avança, as velhas práticas da polícia e do patronato se tornam mais anacrônicas.

- Manoel Porto

O movimento sindical brasileiro está mais articulado que em períodos anteriores: as seis centrais legalizadas realizam constantes campanhas conjuntas, com a pauta afinada e bastante relevante – a campanha de maior punjança é pela redução da jornada de trabalho sem redução dos salários. As empresas e os agentes de segurança pública do Estado, entretanto, ainda utilizam práticas de repressão ao movimento que não se encaixam na situação de democracia que vive o país.

Segundo Adilson Araújo, presidente da CTB Bahia, as agressões da última quarta-feira (25) foram geradas pela atitude de truculência do prefeito João Henrique Carneiro (PDT), que colocou em frente às escadarias da prefeitura uma barreira de carros e homens da Guarda Municipal, além da sua guarda particular, formada por policiais militares armados. 

Prática coronelista

A prática identifica um modo de fazer política que já se apresenta arcaico e descompassado com o clima de democracia do país a partir da eleição do governo Lula. É verdade que ainda há constantes conflitos no campo, onde o poder dos chamados "coronéis", utilizando jagunços e até mesmo com o apoio do poder judiciário local, ainda é maior do que a própria intervenção do Estado para resolver os impasses e realizar uma efetiva distribuição de terras improdutivas aos trabalhadores rurais sem terra.

Foto: Manoel Porto
Baianas caracterizadas deram o tom popular e cultural do ato pacífico organizado pela CTB em Salvador (BA)

A liberdade de manifestações foi, entretanto, uma marca do governo Lula em Brasília. Apenas em estados como Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul, governados pelo tucanato, a repressão foi o canal de comunicação do Estado com os movimentos sociais.

O ato pacífico em Salvador, com a presença de populares, lideranças sindicais, dos movimentos sociais e vereadores de oposição, entre eles as vereadoras Olívia Santana e Aladilce Souza, ambas do PCdoB, contou com a presença das tradicionais baianas, faixas, bandeiras e um carro pipa. “Durante toda a mobilização para a realização do ato foram feitas negociações com os agentes de trânsito, que ameaçavam rebocar o carro-pipa e aprender o carro de som, e com a guarda [municipal], que não permitia a subida das escadas e nem  o uso de água para lavar a sujeira da Prefeitura da nossa capital. No entanto, depois de todo o tumulto, empurrões e agressões físicas, até em jornalistas, o ato simbólico foi executado; lavamos a Praça Municipal com vassouras e sabão em pó”, disse Adilson Araújo.

Máfia da trascon

A manifestação era para protestar contra a corrupção envolvendo transações entre agentes públicos e empresários da construção civil de Salvador com os transcons – a Transferência do Direito de Construir (transcon) é uma moeda imobiliária concedida pelo município para donos de terrenos desapropriados, que pode ser usada em outros locais para aumentar a área construída de empreendimentos. Segundo denúncias da ex-secretária de desenvolvimento da Prefeitura, Kátia Carmelo, no jornal A Tarde, a transcon estava sendo usada na orla de Salvador, o que é proibido peloPlano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU). Os favorecidos seriam empresários da construção civil, que vendiam, de forma privilegiada, suas transcons.

O esquema, ainda segundo a ex-secretária, era operado pelo superintendente Cláudio Silva, da Superintendência do Controle e Ordenamento do Uso do Solo (Sucom), o secretário particular do prefeito, Ricardo Araújo e o empresário Alcebíades Barata Filho. O prejuízo ao Fundo de Desenvolvimento Urbano (Fundurb) é avaliado em mais de R$ 500 milhões.

O presidente da CTB-BA disse exigir apuração minuciosa dos fatos e responsabilização dos culpados, com a instalação da Comissão Especial de Inquérito (CEI) na Câmara de Vereadores. Uma nova manifestação está marcada para as 14h do dia 1º de setembro, na Praça Municipal da capital baiana.

SP: GM utiliza práticas anti- sindicais

A General Motors do Brasil (GM) de São Caetano do Sul suspendeu novamente um dirigente sindical. Desta vez quem foi suspenso por dois dias foi o segundo vice-presidente do sindicato, João Sipriano (Magrão). O sindicato alega que há meses advertia a GM sobre a necessidade de contratação de mão de obra, revisão do padronizado, compra de máquinas e equipamentos, revezamento de posto de trabalho e do alto nível de trabalhadores com doenças relacionadas ao trabalho.

Comunicado do sindicato informa que a empresa não tomou providências quanto às reivindicações, e o sindicalista João Sipriano (Magrão) realizou uma assembléia, a pedido dos trabalhadores, para tratar dos assuntos relacionados aos graves problemas que ocorrem no processo de trabalho, entre eles a falta de mão de obra e a pressão da chefia por mais produtividade. Essa reunião com os trabalhadores do Cock Pit teve como reflexo a paralisação da linha por 20 minutos e a consequência foi a suspensão do trabalhador João Sipriano pela empresa.

Da esq. para a dir.: Cesar Chinelato (Pão Doce), João Sipriano (Magrão), Marcelo Toledo e Fabio Gandia (Fabinho)

Suspensões anteriores

Em dezembro de 2009 a General Motors do Brasil de São Caetano do Sul, havia suspendido os diretores sindicais Paulo Cesar Chinelato (Pão Doce) por 15 dias, Fabio Gandia (Fabinho) por 7 dias, e advertido os dirigentes sindicais Marcelo Toledo (secretário-geral) e João Sipriano (2º vice presidente), por terem paralisado a produção após pesquisa em chão de fábrica em que os trabalhadores rejeitaram o aumento da jornada de trabalho além das 45 horas semanais. Segundo o sindicato, a GM tentou impor jornada superior a 45h.

Da redação, Luana Bonone, com CTB