Radares de São Paulo multam mesmo sob risco do motorista

Evitar a multa por ultrapassagem no semáforo vermelho durante a madrugada em São Paulo significa ficar parado por até um minuto em pontos escuros e ermos. A Folha vistoriou os 12 lugares onde a CET liberou radares que flagram à noite quem desrespeita o sinal ou invade a faixa de pedestres.

O cruzamento da avenida Dª Belmira Marin com a rua Dr. Oscar Andrade Lemos (zona sul), por exemplo, é mal iluminado, não tem comércios abertos à noite e há favela nas redondezas.

"Já quebraram meu vidro em outro semáforo logo atrás. Me sinto extremamente desconfortável por ter que parar aqui", disse Trajano Soares, 36, comerciante abordado pela reportagem enquanto aguardava o sinal verde, que demora até 50 segundos para aparecer.

Um motociclista que foi parado pela polícia por ultrapassar o semáforo anterior também diz ter medo. "Já perdi uma moto bem aqui. Não consigo pensar em um lugar pior para ficar parado."

A sensação de insegurança, dizem motoristas, também é grande no cruzamento da av. Corifeu de Azevedo Marques com a av. Escola Politécnica, zona oeste, onde o radar também multa à noite.

"O posto já foi assaltado mais de uma vez e sempre falam de assaltos a carros", diz Renato Alves, 25, frentista de um posto de combustível perto do local, onde a Folha contou espera de até um minuto.

Em 8 dos 12 semáforos visitados, a demora do vermelho no final da noite e madrugada é "excessiva", conforme avaliação de Sérgio Ejzenberg, mestre em transportes pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.

"Para que haja uma fiscalização coerente, é preciso que todos os semáforos tenham tempos curtos de madrugada, evitando esperas desnecessárias", avalia ele.

A orientação da CET é que, à noite, os motoristas reduzam a velocidade antes de chegar a um semáforo caso ele esteja fechado.

Cálculos do engenheiro Ejzenberg, que é perito de acidentes de trânsito, indicam que uma espera aproximada de 22 segundos a 33 segundos, dependendo do tipo de cruzamento, deveria ser suficiente no período noturno. A reportagem só verificou esse parâmetro em quatro dos semáforos vistoriados.

Pela legislação, ultrapassar no vermelho é infração gravíssima tanto de dia como de noite, com multa de R$ 191,54 e sete pontos na CNH.

Na capital paulista, os condutores possuíam até novembro uma "tolerância informal" porque esses aparelhos não tinham tecnologia para imagens noturnas –diferentemente dos que flagravam excesso de velocidade.

De lá para cá, 12 desses radares foram liberados –e outros 12 serão instalados. Um dos obstáculos para ajustar os semáforos de madrugada é que muitos são antigos e não permitem muitas programações de tempo.

OUTRO LADO

A CET diz que sua primeira preocupação é a segurança do trânsito –justificativa para fiscalizar quem ultrapassa no semáforo vermelho inclusive de madrugada. Ela alega que, no período noturno, já reduz os tempos de espera de semáforos, mas não revela em quantos.

Segundo a empresa, "não é recomendável implantar ciclos muito curtos para evitar um efeito "anda e para", que incentivaria a desobediência aos semáforos, comprometendo a segurança dos motoristas e pedestres".

A CET diz que, por isso, os tempos de madrugada "são estabelecidos para manter intervalos suficientes para que os veículos consigam passar em pelo menos três semáforos consecutivos".

A companhia não respondeu se houve avaliação das condições de segurança pública para implantar os radares noturnos nos 12 pontos. A CET também não informou se o perigo de assalto é uma justificativa que pode levar ao cancelamento de multas mediante recurso.

Fonte: Folha de S.Paulo