Javier: “A Bahia deu uma vitória aos setores progressistas”

Ex-vereador de Salvador por quatro mandatos consecutivos e, atualmente, deputado estadual em segundo mandato, Javier Alfaya, não retorna à Assembleia Legislativa na próxima legislatura. O ex-presidente da UNE, integrante da direção nacional do PCdoB, responsável pela área cultural, ainda não definiu os rumos que deve tomar a partir de 2011, mas se coloca à disposição do partido para assumir novas tarefas ao encerrar o seu mandato.

Em conversa com o portal Vermelho, Javier analisa o atual cenário político na Bahia, fala sobre os investimentos em cultura, as perspectivas do segundo Governo Wagner (PT) e a mobilização em torno da campanha presidencial de Dilma Rousseff (PT). “Será o terceiro do ciclo aberto com as forças progressistas, democráticas e populares no Governo Federal”, pontuou. Confira na íntegra:

Vermelho – Qual a sua avaliação do resultado eleitoral na Bahia e, em especial, do desempenho do PCdoB?

Javier Alfaya – A Bahia deu uma vitória impressionante aos setores progressistas e, especialmente, aos partidos vinculados à luta popular, como é o caso do PCdoB, PT e PSB, que encabeçam essa coligação que apóia Wagner e que agora está situacional. E reafirma um processo que já vem sendo implementado, que é do desmonte de grupos políticos e oligarquias tradicionais. Mais que uma vitória eleitoral, estamos vivenciando um processo de renovação estrutural da política baiana, porque o grupo carlista continua ladeira abaixo do ponto de vista eleitoral, perdeu deputados na Assembléia e em Brasília, e outros grupos de familiares importantes na política baiana não conseguem se manter com a mesma força de antes. Então, há a ascendência de forças e lideranças novas e isso tem uma repercussão política interessante. A Bahia, mais do que outros estados, vive um processo de renovação política muito forte. E, quanto ao PCdoB, o partido atingiu sua meta eleitoral totalmente: três federais e três estaduais.

V – E qual a sua expectativa quanto à atuação da bancada comunista na Assembléia Legislativa, agora que conta com dois novos nomes do interior?

JA – Acho que há uma experiência acumulada muito importante e essa nova bancada representa um espalhamento significativo do partido pelo interior. Com isso, pode jogar um papel de vanguarda na construção do partido em toda Bahia, como já vem sendo feito. Quanto ao funcionamento da bancada, o desafio é fazer com que os três deputados componham uma articulação permanente com o partido.

V– Qual a sua expectativa com relação a este segundo Governo Wagner, que conseguiu eleger os dois senadores e uma ampla bancada de apoio?

JA – A gente espera que o segundo Governo Wagner seja de grandes realizações, como está sendo o segundo governo de Lula. Passada a dificuldade inicial de aprender a governar, de dominar melhor a máquina governamental e de articular apoios políticos para que a máquina funcione bem nos municípios, é o momento da realização. O Governo Wagner vai passar à História não somente pela renovação dos métodos políticos democráticos que nós estamos vendo implementar na Bahia, com as conferências e as novas políticas públicas pela educação, saúde, cultura, habitação, segurança pública etc. Que seja um governo de realizações, com mais orçamento para certas áreas que ficaram carentes, porque, apesar dos avanços, ainda existem muitos problemas. A expectativa é de que haja melhoras substanciais, assim como também precisamos que aconteçam as mudanças no novo governo que vem aí com Dilma, porque boa parte das performances dos governos estaduais depende dos recursos federais e da sua capacidade de trabalhar bem os programas do Governo Federal. Então, com o governo Dilma, que será o terceiro do ciclo aberto com as forças progressistas, democráticas e populares, nós vamos ter condição de fazer mais pela Bahia, trazendo mais recursos de Brasília. Não é uma dependência do Governo Federal, mas uma articulação competente e saber aproveitar melhor o que vem de lá.

V – A respeito da campanha de segundo turno, como tem enxergado essa movimentação no estado em torno da candidatura de Dilma?

JA – Nos últimos dias, estão programados atos importantes de mobilização, como o Ato em Defesa da Cultura, da Educação e da Ciência e Tecnologia, na quarta-feira, às 9h, em frente à Reitoria da UFBA, e a grande passeata de apoio a Dilma. Há coisas importantes sendo feitas, mas precisamos manter a vigilância e a mobilização até as 17 horas do dia 31. E, aqui na Bahia, lutar para ampliar mais a vitória que já tivemos. A meta é ultrapassar os 75% de votação pró-Dilma.

V – Quais são as suas perspectivas de atuação após o encerramento do seu mandato de deputado estadual?

JA – O rumo das tarefas vai ser decidido coletivamente, com a direção do partido, seja participando do novo governo, seja nas tarefas políticas do PCdoB. Eu sou da direção nacional do partido e, entre outras tarefas, sou responsável pela coordenação nacional de Cultura. Pretendo já discutir, durante o mês de novembro, com a direção estadual e a nacional, quais são as minhas próximas tarefas e os meus próximos compromissos dentro de um planejamento maior do PCdoB para o seu quadro de dirigentes.

V – Como você avalia a política cultura no estado? O que precisa ser feito para, de fato, se aproveitar toda essa riqueza cultural que é inerente ao povo baiano?

JA
– Acho que há uma formatação correta da política cultura aprovada na Conferência de Cultura do Estado e há medidas em curso muito renovadoras por parte do governo. O principal desafio é montar um Sistema Estadual de Cultura, que implica numa mobilização dos municípios além do que o governo já faz. Então, acho que o grande desafio é ampliar os recursos, especialmente para o Fundo Estadual de Cultura e para o Faz Cultura; articular, com as prefeituras, os planos municipais; e aprovar, na Assembléia Legislativa, os projetos de reforma da Secult (Secretaria Estadual de Cultura) e da Fundação Cultural que, entre outras medidas, vai criar o Instituo de Museus, as novas diretorias da Fundação e vai reorganizar o Ipac (Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia). Acredito que se pode alcançar isso plenamente, porque, no caso das reformas, por exemplo, depende apenas do aval do governador de projetos de lei que já estão prontos. Agora, além disso, é preciso alcançar aquela meta mínima histórica, que se pretende, de 1,5% do Orçamento para a cultura.

De Salvador,
Camila Jasmin