Sem categoria

Kassab e "fator Serra" embaralham articulação para 2012 em SP

A iminente saída do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, do DEM e o chamado "fator Serra" desenham um novo rumo nas articulações para a eleição municipal de 2012. O ex-governador José Serra diz não ter interesse em disputar a Prefeitura de São Paulo — mas tucanos passaram a ventilar seu nome como alternativa capaz de reeditar a aliança entre PSDB, DEM e PMDB, vitoriosa na última eleição no estado.

Entre os peessedebistas, o governador Geraldo Alckmin tem dito que Serra deve ser o nome para 2012. Apesar da atual resistência do político, tucanos apostam que ele pode aceitar a missão e se fortalecer na cena política, num momento em que a ala do PSDB do senador Aécio Neves trabalha para retirar espaço do ex-governador.

Paralelamente, o PT começa a estudar novos nomes para fazer frente a uma eventual candidatura Serra. O ministro Aloizio Mercadante (Ciência e Tecnologia) conta com mais apoio no diretório paulista para disputar a prefeitura da capital que a senadora Marta Suplicy. O petista chegou a propor acordo para Marta em 2010, segundo o qual ela ficaria com a vaga para o Senado e ele, com a prefeitura. A senadora não aceitou. Os dois, entretanto, aguardariam a definição de Serra para se decidir

Já a possibilidade de Kassab migrar para o PSB — ele também negocia com o PMDB e cogita, ainda, a formação de um novo partido — levou o PTB a procurar o deputado Gabriel Chalita (PSB) para oferecer-lhe a sigla, se quiser entrar na disputa. Chalita ainda está na mira do PMDB paulista, caso Kassab não escolha a legenda como destino.

Saindo do DEM, o principal objetivo de Kassab é desalojar Alckmin e o PSDB do governo em 2014. Segundo o prefeito, sua aproximação com os partidos de esquerda aliados da presidente Dilma Rousseff tem como foco principal quebrar a polarização PSDB-PT e criar uma terceira via em São Paulo. Ele sonha em ir para o segundo turno na disputa pelo governo paulista em 2014 contra Alckmin, tendo o apoio do PT.

Diante das especulações, a executiva municipal do PT de São Paulo aprovou, na terça-feira passada, um documento rechaçando a possibilidade de construir uma candidatura em conjunto. “Não existe nenhuma ‘negociação’ com o atual prefeito, pois temos claro que existem concepções e projetos totalmente distintos para a cidade”, dizia a nota — que propunha até intensificar “a oposição às políticas antipopulares do governo Kassab”.

Mas, queira ou não queira o PT paulistano, a migração de Kassab é estimulada tanto por Dilma quanto pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, além de lideranças estaduais petistas. Na semana passada, Edinho Silva, presidente do PT-SP, chegou a se reunir com o vice-presidente Michel Temer e Wagner Rossi, ministro da Agricultura e pai do novo presidente do PMDB paulista. Falaram sobre as relações das duas legendas em São Paulo e da possível filiação de Kassab.

PCdoB

O PCdoB é outra força que incentiva a saída de Kassab do DEM. “Vemos com bons olhos a movimentação do prefeito”, diz o presidente municipal do PCdoB de São Paulo (SP), Wander Geraldo. “Além de aderir à base aliada ao governo Dilma, Kassab pode quebrar uma polarização que, nos últimos anos, tem ajudado mais o PSDB do que as forças progressistas. Para os eleitores, é bom que surjam outros polos além do PSDB e do PT.”

De olho na nova conjuntura política, Kassab convidou PCdoB, PR e PDT para compor seu secretariado. Aos comunistas — que estão desde 2003 no Ministério do Esporte —, o prefeito propôs a Secretaria Especial da Copa, que será responsável por coordenar os projetos para a construção de um estádio em Itaquera, na zona leste, e de um centro de mídia para o Mundial de 2014. O PCdoB ainda não respondeu.

“Como a migração do Kassab para a base da Dilma é um debate de vulto nacional, não faz sentido restringirmos esse convite apenas entre os dirigentes municipais”, esclarece Wander Geraldo. “O comitê municipal do PCdoB e a direção estadual já avaliaram a proposta. Devemos debater agora com a direção nacional para tomarmos uma decisão conjunta.”

Kassab também aproveitou para incorporar ao secretariado o PR e o PDT, legendas com as quais ele cogita alianças nas próximas duas eleições. Ambas apoiam Dilma no âmbito federal. O PR deve assumir o lugar do PSDB na Secretaria de Esportes. Por sua vez, o PDT ocupará a Secretaria do Trabalho, que será desmembrada da atual pasta de Desenvolvimento Econômico.

Novo partido

Nesta segunda-feira (14), Kassab jantará com um grupo de deputados para discutir a fundação de uma legenda — o Partido da Democracia Brasileira (PDB). Na largada, a nova sigla contaria com cerca de 20 parlamentares em Brasília, mais o governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo, atualmente filiado ao DEM.

Uma legenda somente recebe o registro definitivo do Tribunal Superior Eleitoral depois de, entre outras exigências, recolher em nove estados assinaturas de 0,5% do total de eleitores que votaram para deputado federal na última eleição. Atualmente, esse número chega a 490 mil eleitores. Mas a maior dificuldade para Kassab e o PDB seria mesmo a falta de tempo de TV no horário eleitoral — já que a fatia de cada um é determinada pelo número de parlamentares eleitos em 2010.

Uma possibilidade para Kassab é garantir a influência sobre o DEM e o PMDB paulistas para fechar alianças para 2012 e 2014. Outra saída é uma possível fusão com outra sigla partidária de maior peso, entre elas o PSB e o próprio PMDB. Na opinião de Kassab, somente a fusão de alguns partidos poderá produzir um fato político capaz de gerar uma grande legenda com expressão nacional e situada, ideologicamente, mais ao centro.

Nos últimos dias, a legenda a ser criada ganhou força. Kassab contratou dois escritórios de advocacia especializados em legislação eleitoral para cuidarem da criação do PDB — e já deu ordem para que os advogados procurem uma sede. “O estatuto está basicamente pronto”, diz o advogado Admar Gonzaga, que dividirá o trabalho encomendado por Kassab com o colega Alberto Rollo. O prefeito também garantiu a correligionários que o presidente do PSB, Eduardo Campos, aceitará a fusão “lá na frente” com a nova legenda.

Kassab deve ficar no DEM até 15 de março, dia da convenção nacional do partido. Após essa data, os advogados terão 90 dias para concluir o processo jurídico de criação da legenda. "Aguardamos apenas a definição do prefeito para deflagrarmos o processo", afirma Admar.

Da Redação, com agências