Greve acaba, mas problemas não

As aulas na rede municipal de Educação devem ser iniciadas hoje. Os professores garantem: estarão nos seus locais de trabalho. O problema é que, pelo menos, 82 escolas, entre CMEI’s e unidades de ensino fundamental não estão preparadas para receber os alunos. No departamento de Engenharia da SME, a “força tarefa”, que vem vistoriando as escolas, identificou 39 escolas de ensino fundamental e mais 25 CMEI’s, além dos 18 que estão em obras, com necessidade de reparos urgentes.

Ontem, em entrevista à Tribuna do Norte, por telefone, o secretário de Educação, Walter Fonseca, disse que, não há condições de entregar amanhã, nem mesmo as 18 unidades de CMEI, onde as obras foram iniciadas na semana passada (terça-feira, 15/03). É, segundo ele, “humanamente impossível”. Segundo o chefe do Setor de Engenharia da SME Raimundo Moisés Leite, as obras nessas unidades estão bem avançadas, mas ainda não finalizadas.

“Em algumas, as obras já foram concluídas; mas em outras os reparos estão em fase de conclusão”, avisou. Ele disse que a partir de hoje a empresa Arco começa os reparos em outros 10 unidades de CMEI’s, onde a situação é mais crítica. entre os quais na Maria Abigail, no conjunto Nova Natal, mostrada em reportagem da Tribuna do Norte sobre a educação infantil, na edição do último domingo.

Nesse CMEI 125 crianças estão sem aulas. Na unidade, além de infiltrações nas paredes e do mofo, banheiros com encanação entupida, descargas quebradas, piso escorregadio, luminárias queimadas; goteiras nas salas; e parque inadequado, falta material lúdico; material de expediente , de higiene e limpeza.

Outros 15 CMEI’s vão continuar na lista de espera. Nessa mesma situação estão as 39 escolas do ensino fundamental que precisam de reparos. Dessas, apenas nove são consideradas como prioridade pela SME, mas ainda não há previsão, segundo Raimundo Moisés, de quando as obras serão iniciadas. Ele informou que a empresa Bonnaci venceu a licitação, mas ainda falta a publicação no Diário oficial do município, para que se possa emitir as ordens de serviço.

E não é somente os problemas estruturais que comprometem o início do ano letivo. Na escola municipal professora Tereza Satsuqui, no Planalto, os pais estão revoltados. Nessa escola, os educadores não aderiram à greve, mas não há a mínima condição de funcionamento. Além dos problemas estruturais, a escola está sem material de limpeza; o material didático e pedagógico é insuficiente e a merenda é suficiente para duas semanas.

Por ainda não ter Unidade Executora, a direção da escola não tem como movimentar as verbas municipais e federais. Toda a manutenção, do papel higiênico à merenda escolar, depende da SME. Na parte estrutural, a escola, que passou por reforma em 2009, tem banheiros sem descarga; os bebedouros não tem ligação para a rede de água e parte do teto da cozinha desabou, no ano passado.

“Os professores estão dando expediente todos os dias, mas ficam de braços cruzados. Se abrirmos a escola, por volta das 10h vamos ter que liberar as turmas porque não temos como limpar os banheiros”, afirmou a vice-diretora, Anacase Pereira. A escola tem 160 alunos matriculados e doze professores. Precisa, no mínimo, mais três professores.

Os pais não se conformam. Elisabeth Silva, 52 anos, é mãe de Isac Vitor, 10 anos. Ele estuda na Teresa Satsuqui, desde que foi inaugurada em 2009, mas está passando o tempo lendo gibi e vendo televisão. Nesses últimos dois anos, Vitor não teve mais que seis meses de aula. Ela já prestou queixa no Conselho Tutelar e pretende ir à Justiça, se for preciso.

Faltam vagas para ensino fundamental em Natal

Nos últimos dois anos, a Prefeitura de Natal quase triplicou o número de Centros Municipais de Educação infantil (CMEI’s), mas investiu muito pouco no ensino fundamental. Em dois anos, foram construídos 34 CMEI’s, contra apenas seis escolas de 4o. ao 9o. ano. Atualmente, a rede de CMEI’s possui 62 unidades. Na rede de ensino fundamental, são 73 escolas.

O resultado é um alto déficit de vagas. Os gargalos estão nas zona norte e oeste, áreas de maiores expansão urbana. Nessa região, o Setor de Normas e Organização escolar (SNOE) computou 717 cadastros de excedência – matriculas que foram recusadas por falta de vagas em 2011. O SNOE não recebeu registros de demanda reprimida nas regiões sul e leste, mas os Conselhos Tutelares dessas regiões receberam.

Segundo os conselheiros das zonas sul e leste, pelo menos, 30 pais (em cada zona) levaram registros de matrículas recusadas. “Como não tivemos uma resposta positiva da escola, estamos encaminhando representação ao Ministério Público”, avisou o coordenador administrativo do Conselho Tutelar da Zona Leste, Alcio Henry Chaves da Costa.

A rede tem, este ano, 8.540 crianças matriculadas na faixa de zero a 5 anos e 11 meses. O ensino fundamental atende 32.604 crianças, a partir de 6 anos, segundo dados do SNOE. A coordenadora do Departamento de Ensino Fundamental, Maria José dos Santos, reconhece que a ampliação foi mínima e que a situação exige um planejamento eficaz. “Nós sabemos que as crianças da educação infantil não saem todas de uma vez, mas esse déficit nos preocupa”.

Ela informou que, nos últimos dois anos, foram abertas seis novas escolas, ofertando em torno de 1.500 novas vagas. Este ano, a SME está abrindo três novas escolas, sendo duas na zona norte – comunidade da África e no Igapó; e a terceira no Pitimbu, zona sul de Natal. “Temos grande déficit que hoej não é um grande problema, mas no futuro pode trazer consequencias graves. Mas estamos levantando essa problemática para captarmos recursos para construção de novas escolas”, diz ela.

A chefe do SNOE, Edenice Peixoto, disse que a meta da SME para os próximos anos precisa ser o investimento no ensino fundamental para garantir a continuidade da educação das crianças que hoje estão na educação infantil. No entanto, o que está no planejamento da SME para 2011 é a inauguração de mais 8 centros de Educação Infantil e de mais nove, em 2012.
 

Tribuna do Norte